A violência policial no Rio de Janeiro

75% dos homicídios são de jovens negros

A violência policial no estado do Rio de Janeiro é alarmante, segundo dados de um relatório da Anistia Internacional.

Na capital do Estado, o aumento dos homicídios decorrente de intervenção policial em 2014 foi de 9%. Homicídios esses quase sempre ligados aos  chamados “autos de resistência” – uma maneira de a polícia maquiar o genocídio que vem cometendo em comunidades de todo o Rio de Janeiro. Os dados também apresentam que em 99,5% dos casos as vítimas foram 79% de negros e 75% de jovens entre 15 e 19 anos, apontando que as políticas públicas que temos no estado para juventude é simplesmente a falta de qualquer perspectiva de futuro.

As UPP’s – política de segurança pública, que o governador Cabral instalou no estado, juntamente com o então secretário e hoje governador, Pezão – são, na verdade, ocupações militares onde temos diversos relatos de tortura, como ocorrido com o Amarildo em 2013.

Em quase todos os casos de UPP instaladas no Rio, está a ligação direta com a especulação imobiliária: as favelas que foram ocupadas são tradicionalmente pontos próximos a Zona Sul carioca e com belas vistas, locais cobiçados pelas construtoras e especuladores imobiliários.

Na baixada fluminense o caso de violência é assustador. São cinco assassinatos por dia em 2015. Assassinatos tanto de moradores quanto de políciais.

A política de segurança – e por que não dizer, a política pública geral  do Estado do Rio de Janeiro – baseia-se na violência. A falta de escola nas periferias, de acesso a cultura, de lazer e à educação de qualidade é assustadora. O Estado está entre os que têm o salário mais baixo para professores e com as piores estruturas de escolas.

Não podemos esquecer que Eduardo Cunha, grande defensor da redução da maioridade penal, é exatamente do Rio de Janeiro, local que é sempre usado como exemplo para fundamentar a infundada política de redução da maioridade penal para a resolução da situação.

Impunidade: um fato comum

Pesquisa aponta que dos 202 procedimentos administrativos de homicídios, decorrentes de investigações policias abertos pela Polícia Civil em 2011, apenas um resultou em denúncia por parte do Ministério Público do Rio. Deste total, 183 ainda estavam em andamento e 12 foram arquivados.  Lembrando que segundo o ISP – Instituto de Segurança Pública – do Rio, entre 2005 e 2014 foram registrados 8.466 homicídios vindos de intervenção policial no Estado – 5.132 deles só na capital. Os crimes cometidos por PMs representam 16% dos homicídios registrados na cidade.

Por isso, mais do que nunca é preciso mudar essa lógica! O primeiro passo começa pela desmilitarização da PM, que é preparada para guerra e não para proteger. Além disso, é preciso, de imediato, políticas públicas de qualidade nas periferias, que garantam o acesso à educação, saúde, lazer e cultura para que possamos dar perspectiva de futuro para nossa juventude no estado.

Não queremos mais relembrar fatos como a chacina da Candelária ou no morro do Vidigal, queremos uma juventude livre! Com possibilidade de emprego, futuro, estudos e sonhos!

Jeffei


 

CONCEPÇÕES DA DITADURA”

O coronel Íbis Pereira, chefe de gabinete do Comando-Geral da PM do Rio, em recente declaração, disse que a ocupação policial do complexo do Alemão “está dando errado porque começou errado”. “Tivemos uma operação de guerra e é por isso que está dando errado. Admitimos uma operação de guerra com anfíbios, blindados e tudo o mais, dentro de uma parte do território do nosso próprio país. ” E o coronel completa: “os conflitos e homicídios cometidos nas favelas do Rio são influenciados por concepções do período da ditadura que ainda vigoram na segurança pública. ” (OESP, 30/07)

Artigos originalmente publicados na edição nº 771 de 13 de agosto de 2015 do jornal O Trabalho

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