Aumentam cortes de salários e demissões. Centrais falam em fora Bolsonaro, mas…

Demissões, suspensões de contratos ou cortes de salários já afetam 53,5% das famílias brasileiras. Os mais atingidos por demissões foram os trabalhadores com salários de até R$ 2.100. São dados de uma pesquisa do Ibre-FGV  feita entre 2 e 13 de maio, a mesma que indica “expectativa reduzida de que atividade volte ao normal tão cedo” (FSP 20/5).

Esse é o resultado concreto da “máquina de moer” empregos, salários e direitos que são as Medidas Provisórias 927 e 936 decretadas por Bolsonaro, em vigor enquanto sua tramitação se arrasta no Congresso.

Quanto à MP 936, que já atingiu cerca de oito milhões de trabalhadores com cortes de salários ou suspensão de contrato, segundo Viviane Bittencourt, do Ibre-FGV, como ela só garante estabilidade no emprego por um período futuro igual ao de sua vigência (três meses), “após o fim do prazo (…) os empregadores poderão acabar demitindo com mais força”.

A UGT e a Força Sindical já falam em tornar a MP 936 “permanente”, diante do silêncio da CUT até o momento.

Em alguns casos a ação dos sindicatos conseguiu obter acordos coletivos de redução de jornada e salário em condições menos nocivas que as da MP 936, mas a regra geral é a imposição patronal através de acordos individuais.  A exigência de “nenhuma demissão”, que a CUT levantou no início da pandemia, desapareceu do cenário.

Fora Bolsonaro ou “país sem governo”?
É positivo que todas as centrais sindicais tenham adotado o “Fora Bolsonaro”, anunciando em 18 de maio uma campanha nacional com um milhão de cartazes. Em Florianópolis houve um ato presencial puxado pela CUT com as demais centrais já no dia 21.

Mas as declarações de dirigentes são contraditórias. Miguel Torres (FS) diz que “o povo já percebeu que o país está sem governo” (FSP 19/5). Sérgio Nobre, na audiência das centrais com Tóffoli (STF), em 19 de maio, disse que “o Brasil está sem governo, sem Estado e rumando à tragédia social” (site da CUT), para concluir: “Solicitamos ao presidente do STF que nos ajude a coordenar esse processo, o qual não pode ficar só nas mãos de governadores e prefeitos”.

Ora, se o país está sem governo, serão as centrais e o STF que vão “coordenar” o combate à pandemia junto aos governadores e prefeitos? Um completo absurdo, que inclusive esvazia o “Fora Bolsonaro”, pois seu governo existe e ataca a classe trabalhadora.

O fato é que, enquanto as centrais denunciam a pressão de Bolsonaro e empresários pela volta ao trabalho, chegando a tirar uma nota que defendia o “lockdown” em São Paulo em 11 de maio, as montadoras iniciam a volta ao trabalho no vizinho ABC, inclusive na Mercedes Benz  com a metade do pessoal (4,5 mil pessoas segundo o Diário do Grande ABC de 10/05), em acordo com o sindicato dos metalúrgicos.

É preciso que a executiva nacional da CUT supere essa confusão, apoiando-se em iniciativas como a da CNTSS (confederação da Saúde e Seguridade Social) de exigir a fila única para as UTIs requisitando os leitos dos hospitais privados, e rompendo com a idéia de um “fórum permanente das centrais” que paralisa as ações necessárias da própria CUT.

Julio Turra

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas