“Bancários estão numa situação de risco” afirma presidente do sindicato em Pernambuco

Com milhões se dirigindo aos bancos para solicitar e receber o auxilio do governo, além de receber e realizar pagamentos, os bancários são uma das categorias de trabalhadores mais expostas na pandemia. Para nos relatar as condições de trabalho e as reivindicações da categoria neste momento, entrevistamos a presidente do Sindicato dos bancários de Pernambuco, Suzi Rodrigues.

O Trabalho– Com a pandemia do novo coronavírus alguns serviços considerados essências permaneceram funcionando, entre eles os bancos. Quais as medidas reivindicadas pela Direção do Sindicato dos Bancários de Pernambuco aos bancos com o objetivo de proteger as vidas dos bancários?

Suzi Rodrigues– Desde o dia 12 de março, o Comando Nacional dos Bancários, do qual o Sindicato dos Bancários de Pernambuco faz parte, juntamente com a Contraf-CUT e demais sindicatos do País, enviou oficio à Federação Nacional dos Bancos (FENABAN) cobrando informações sobre que medidas os bancos estavam tomando para a proteção da saúde dos bancários em decorrência da Pandemia pela Covid-19.

Sugerimos a criação de um Comitê de Crise Bipartite para acompanhamento do tema, e solicitamos que os bancos fizessem comunicações internas preventivas nos locais de trabalho, cujo objetivo é conscientizar a categoria sobre como se prevenir do novo coronavírus e identificar os sintomas. Os bancos acataram as nossas propostas em relação ao grupo de risco ( idosas , gestante, e doentes crônicos, etc) e, desde o dia 14 de março, conseguimos que essas pessoas fossem trabalhar em casa em teletrabalho, ou tirassem férias. Também solicitamos aos bancos estabilidade no emprego. O Itaú, Santander e Bradesco garantiram não demitir nenhum funcionário nesse período de pandemia. Cobramos transparência sobre todos os casos de infecção na categoria, mas até o momento os bancos não atenderam a este pedido. Solicitamos, ainda, o fechamento das agências com caso confirmado de coronavírus, mas os bancos tem adotado protocolos diversos diante destas situações. A pedido do Comando Nacional, a campanha de gripe foi antecipada e a higienização das instalações bancárias está sendo reforçada. Após cobrança, os bancos começaram a disponibilizar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas, máscaras e álcool gel e proteção de acrílico para evitar o contágio dos bancários.

Estamos realizando reuniões por vídeo conferência para acompanhamento da situação nacional e recebendo denúncias da categoria do descumprimento de acordos negociados, como a suspensão da cobrança de metas.

OT– Com o pagamento do auxílio emergencial através dos bancos públicos, como você analisa a importância dessas empresas públicas?

Suzi Rodrigues – É fundamental a permanência do caráter público dos bancos para que seja garantido o atendimento à população e o desenvolvimento social, político e econômico do nosso País. Sabemos da importância do papel dos bancos públicos e temos a clareza de que o governo Bolsonaro é privatista. O Banco do Brasil e Banco do Nordeste são empresas mistas, mas a maioria do capital é público, a Caixa é 100% pública. Essas instituições são responsáveis pela implementação das políticas públicas de distribuição de renda, mas o Governo não oferece as condições para os bancários, em particular nesse momento da liberação do auxílio emergencial. São os bancos públicos, em especial a Caixa, que estão fazendo esse atendimento à população. Os bancários estão colocando suas vidas em risco, sob uma tensão interna gerada pelo volume de pessoas nas filas. Se o Governo tivesse privatizado esses bancos públicos, quem estaria prestando esse serviço social de atendimento para a população? Os bancários tem sofrido agressões verbais e físicas, verdadeiro descontrole social. Há uma pressão social em cima da categoria. O governo não deixou claro os critérios, mudou o calendário de pagamento, prejudicando o trabalho dos bancários e a população.

OT– Quais foram as ações articuladas pela categoria bancária frente à pandemia do novo coronavírus?

Suzi: Nos articulamos com o Ministério Público, senadores e deputados federais e estabelecemos um diálogo permanente com os bancos. Alguns governadores, o que não foi o caso em Pernambuco, criaram comitês de crise para discutir com a participação dos bancários uma forma de solucionar o atendimento e evitar as aglomerações. Enviamos ofícios para o Governo e prefeituras, solicitando que as Guardas Municipais e a Polícia Militar assumam a organização das filas nas áreas externas, porque entendemos que essa responsabilidade não deve ser dos bancários, mas do poder público. Agora, estamos debatendo soluções com o MPT, Procon, Prefeitura do Recife, Procuradoria do Estado e Fenaban. No Interior, a situação é mais grave porque são cidades com apenas uma agência da Caixa ou Banco do Brasil. O decreto do governador determina que os bancos sejam os responsáveis. Os bancários foram colocados na linha de frente. Mas, as pessoas não cumprem a distância recomendada, temos registros de agências invadidas, porque sabemos que as pessoas estão precisando. O Congresso aprovou o auxílio após pressão das centrais sindicais, mas o governo não deu as condições necessárias. As pessoas estão sofrendo nas filas, por falta de informação. O Sindicato iniciou uma campanha nos bairros da Região Metropolitana do Recife para conscientizar a população a evitar ir aos bancos e priorizar os canais de atendimento digitais. Nossa preocupação é com a saúde das pessoas e da categoria, que está adoecendo com toda essa situação. Já morreram seis bancários no Brasil, em Pernambuco não temos óbito. Mas, aqui temos vários casos em estudo e muitos bancários estão de licença médica, embora sem a confirmação do novo coronavírus, possíveis casos de sub-notificação por falta de teste. É um debate político de prioridades, que o governo Bolsonaro não tem interesse. Bolsonaro está trabalhando para que as pessoas morram. Os bancários estão no meio da corda bamba, pois precisam fazer seu papel social e, ao mesmo tempo, precisam se proteger da contaminação. Infelizmente, o que vemos é que até agora, pouco do recurso foi liberado para a população, enquanto Bolsonaro investiu fortemente nos bancos, liberando 17 bilhões. Hoje, os bancários estão numa situação de risco, tal qual os profissionais de saúde, em razão do grande volume de pessoas que estão indo para as agências bancárias. Falta informação clara, que nem o Governo nem a Caixa estão oferecendo. A população não tem condições de esperar mais para receber o auxílio, pois sabemos que a fome urge, a fome tem pressa

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