Bolsonaro: sob o comando do governo Trump

Rafael Potosi

Praxe depois de uma disputa eleitoral, algumas mensagens governamentais recebidas por Jair Bolsonaro são protocolares enquanto outras revelam o alinhamento que se espera de quem, durante a campanha, bateu continência para a bandeira dos Estados Unidos e usou a Venezuela como espantalho.

Um dos primeiros a telefonar foi, justamente, o presidente estadunidense, Donald Trump, que, em seguida, comentou em sua conta no twiter:”Concordamos que o Brasil e os Estados Unidos trabalharão juntos, estreitamente, em matéria comercial, militar e todo o resto.”

A inusitada menção à colaboração “militar” só pode ser relacionada à política de instalação de bases dos EUA em países da América Latina e às seguidas ameaças de intervenção militar na Venezuela – Trump considera “todas as opções”, inclusive a militar. Dias depois a Venezuela também foi o tema de conversa de Bolsonaro com o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo.

Já Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, felicita “o povo do Brasil” pela participação nas eleições e “exorta o presidente eleito a retomar, como países vizinhos, o caminho das relações diplomáticas de respeito, harmonia, progresso e integração regional, pelo bem-estar de nossos povos”.

Da Itália, o belicoso vice Primeiro ministro e Ministro do Interior, Matteo Salvini, da Liga, de extrema-direita, em sua conta no twitter saudou Bolsonaro e comemora que no Brasil os “cidadãos mandaram a esquerda para casa”.

Mensa – g e n s d a Argentina, Paraguai e União Europeia chamam a atenção por exaltarem as “instituições democráticas” do Brasil, ignorando seu papel não apenas para o golpe de 2016, mas particularmente para influenciar no resultado eleitoral, seja impedindo Lula de concorrer, seja empurrando crimes da campanha Bolsonaro para debaixo do tapete (fake news, caixa dois, coação patronal, uso de igrejas).

Do Chile, o direitista Sebastian Piñera releva esses crimes saudando uma eleição “limpa e democrática” e convida Bolsonaro a fazer a seu país a primeira visita presidencial, relegando a segundo plano a Argentina (principal compradora de produtos industriais do Brasil).

Luiz Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) agride a realidade ao aplaudir a “mensagem de verdade e paz” que, segundo ele, emana de Bolsonaro.

Guinada à direita prejudicará economia brasileira O Ministério de Relações Exteriores da China parabenizou Bolsonaro enquanto uma agência de notícias controlada pelo governo se felicitava pela promessa de “privatizar tudo” feita por Paulo Guedes.

Ao mesmo tempo o jornal oficial China Daily (Diário da China) publicou um duro editorial sobre as ameaças de Bolsonaro de romper acordos comerciais com a China, hoje o principal parceiro comercial do Brasil: “O custo econômico pode ser duro para a economia brasileira” cujas exportações “ajudaram não apenas a alimentar o rápido crescimento da China, mas também sustentaram o forte crescimento do Brasil”.

O primeiro-ministro do estado sionista de Israel, Benjamin Netanyahu, cumprimentou Bolsonaro e prometeu vir a sua posse – seria a primeira visita de um chefe de governo sionista ao Brasil. Em 1 de novembro, Bolsonaro declarou que pretende transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém, alinhando-se, assim, com a provocação de Donald Trump contra o povo palestino.

Em represália, o Egito cancelou, em cima da hora, uma viagem do atual ministro de relações exteriores, Aloysio Nunes, prevista para se iniciar dia 7 de novembro. Os mais de 20 empresários brasileiros que já estavam no Cairo esperando realizar negócios ficaram a ver navios.

Também enviaram mensagens, entre outros, governos da Rússia, Colômbia, Peru, França, Alemanha, além de Marine Le Pen, da Frente Nacional, partido de extrema-direita da França.

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