Brexit: uma crise de toda a Europa

Uma crise sem precedentes atravessa o parlamentarismo inglês e seu principal partido. O impasse criado há três anos pelo plebiscito no qual decidiu-se pelo Brexit – a retirada do país da União Europeia (UE) – já derrubou o governo Theresa May, do partido Conservador. Em seu lugar, um acordo parlamentar (sem eleições) fez assumir seu adversário interno de partido, Boris Johnson. Ao estilo bufão autoritário, ele expulsou mais de 20 deputados de seu próprio partido – seus quadros mais tradicionais.

Na primeira semana de setembro, os deputados da oposição apresentaram um projeto de lei que obriga o primeiro ministro a conseguir um acordo com a UE até 19 de outubro ou a pedir um adiamento.

Boris Johnson rejeita qualquer adiamento, ameaçando seus correligionários: “Se votarem a favor, vocês darão o poder ao [Trabalhista, líder da oposição] Corbyn” .

A maioria dos deputados votou a favor do texto que rejeita o Brexit, inclusive os 21 conservadores expulsos. Isso acelerou a crise. O próprio irmão de Johnson renunciou seu cargo de ministro, sendo seguido por Amber Rudd, ministra do Trabalho.
Johnson tenta o tudo ou nada, apostando na deterioração da UE.

Brexit e crise dos governos europeus
Ele espera que a ameaça de um colapso econômico fará ceder os outros governos europeus. Mas nenhum está pronto para desistir, temerosos da desintegração da UE. Além da guerra econômica lançada por Trump contra a China que ameaça a economia mundial, das tarifas impostas pelos EUA a algumas exportações europeias, do declínio da economia alemã que vê diminuírem suas exportações, cada um dos governos europeus está muito enredado em sua própria crise.

O governo espanhol está novamente incapacitado para formar uma maioria, a Itália constituiu a duras penas um governo que ninguém sabe quanto tempo vai durar, a Alemanha precisa considerar a sucessão de Merkel à frente de uma Grande Coalizão enfraquecida e Macron só dá a ilusão de estabilidade. Mas por toda parte a profunda rejeição das políticas dos governos europeus alimenta a crise os partidos e dos governos.

Novo golpe
Menos de uma semana após ter suspenso o Parlamento, Johnson tentou um novo golpe de força: a convocação de eleições antecipadas. Mas, novamente, ele foi derrotado. Enquanto, aos milhares, os britânicos saíram às ruas para denunciar o golpe contra a democracia, o Parlamento recusa as eleições.

Deputados estão apavorados com a rejeição maciça que atingiria todos os partidos se as eleições fossem convocadas imediatamente.

“Unidade Nacional”?
Mas a maioria dos setores da burguesia britânica não está mais pronta a aceitar os riscos que Johnson impõe a toda a economia europeia. No quadro das instituições parlamentares, sua única saída é a constituição de um governo de unidade nacional dirigida pelo Partido Trabalhista. Este é o sentido do apelo do jornal liberal The Guardian ou do jornal financeiro The Financial Times.

Corbyn e seu braço direito McDonnell dão garantias, prometendo que um governo de unidade nacional não aplicaria a política do Partido Trabalhista, que será um governo técnico, destinado a resolver o Brexit. John McDonnel chega até a propor permanecer na União Europeia. Mas todos hesitam porque, apesar dele mesmo, a ascensão de Corbyn ao cargo de Primeiro ministro ameaçaria cristalizar a resistência dos militantes do Partido Trabalhista e dos sindicatos, que desejam terminar com os conservadores e sua política.

Correspondente

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