Apresentamos a edição 014 do Jornal O Trabalho, publicado em 21 de NOVEMBRO de 1978, pela Organização Socialista Internacionalista que posteriormente, tornaria-se Corrente O Trabalho do PT. A presente edição trata das eleições no Brasil, onde o alto número de votos nulos representava a recusa do povo à farsa que estava formada com as eleições, que não representava os desejos e anseios e desejos do povo. Há matérias sobre a luta de classe, tanto nacional, quanto internacional, colocando a importância da luta na Hungria e a crise da burocracia stalinista à frente da URSS. Esse é o tom da edição 014 do Jornal O Trabalho.

📰 Confira a edição na íntegra

Confira abaixo o índice da edição:

– Capa
– Nas eleições, a grande recusa

– Página 2

– Chapa de oposição contra pelegos
“Na terça-feira, dia 14 de novembro, cerca de 70 bancários, reunidos na sede de seu sindicato, lançaram a Chapa de Oposição para as eleições da próxima diretoria, que se realizarão em fins de janeiro de 1979. O simples fato de terem realizado a reunião no sindicato foi uma vitória dos bancários, já que, desde o final da campanha salarial, o pelego Chico Teixeira mantém o sindicato fechado para atividades das comissões de banco e da Oposição

– NÃO PERCA:
“Nos dias 2 e 3, e 9 de dezembro às 20 horas, o IV Festival da Música dos Trabalhadores, onde as músicas serão julgadas pelo voto da platéia. É uma promoção do Grupo Acordel, e será realizado na rua 1º de Maio, 105, em Vila Brasilina. Tomar o ônibus ‘Vila Brasilina na Estação da Praça da Árvore – Metrô ”

– Jornalistas na hora da decisão
“A negociação direta entre os jornalistas e seus patrões chegou a um momento de definição: em concentração realizada no último dia 17, defronte à sede do sindicato patronal (…) entregaram uma contra-proposta de acordo salarial aprovado pela assembléia do dia anterior. Foi uma resposta ao que os patrões propuseram no início da semana: um acordo semelhante o dos gráficos e dos metalúrgicos, que descontava quaisquer aumentos obtidos pelas mobilizações do primeiro semestre (algumas empresas como a ‘Folha’, concenderam aumentos de até 14%), além de estabelecer um piso salarial de Cr$ 7.500,00, quando os jornalistas pediam Cr$ 9.000,00. ”

– Professores também formam sua oposição
“A Comissão Pró-Entidade Única de Professores está convocando toda a categoria para uma assembléia geral, marcada para o próximo dia 3 de dezembro, às 14:00 hs., na Câmara Municipal. Sua pauta: fechar o programa da chapa de oposição aos pelegos da Apeoesp, que durante 24 dias de greve geral em agosto/setembro foram um dos principais obstáculos ao movimento”

– Mais uma greve: químicos de Guarulhos
“Dois mil trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas de Guarulhos decidiram, em assembléia, na sexta-feira (dia 17) entrar em greve a partir do dia 20. A proposta de greve, votada maciçamente, foi uma resposta à contra-proposta patronal de aumento de 48%. A categoria, que conta com seis mil trabalhadores, está reivindicando um aumento salarial de 65% e não parece disposta a aceitar menos do que exigido”

– NOTAS:
– Mil e duzentos operários param em Limeira
“Cerca de 1.200 trabalhadores da Companhia União de Refinadores (fábrica Limeira) estão em greve desde o dia 14. E não estão dispostos a retornarem ao trabalho enquanto não forem atendidas suas reivindicações”

– Telesp prossegue campanha salarial
“No próximo dia 10 será realizada a segunda assembléia da campanha salarial dos trabalhadores da Telesp, que decidirão o indice de reajuste a ser pedido à empresa”

– Governo persegue “movimento”.
“Apesar de ter feito enorme estardalhaço quando aboliu a censura prévia, o governo continua sua missão de impedir a livre manifestação da imprensa e, principalmente, da imprensa independente”

– A demissão do Emílio
“Apesar do protesto dos cartunistas da Folha de São Paulo, o cartunista Emílio, colaborador de ‘O Trabalho’, foi sumariamente demitido da empresa pelo editor responsável Boris Casoy, por ter feito uma ilustração (6/11/78) na qual apareciam cartazes da campanha do voto nulo”

Página 3

– Violência contra os camponeses
“Os pequenos camponeses – meeiros, arrendatários – estão sendo violentamente expulsos de suas terras, em Goiás. O êxodo rural adquiriu ritmo tão veloz que até Goiana, uma cidade de pouco mais de 600 mil habitantes, tem já cerca de 15mil favelados. Os motivos da expulsão são os mesmos encontrados tanto no Maranhão como na Amazônia ou em São Paulo: a exploração capitalista se aprofunda no campo, agravando a péssima situação dos pequenos camponeses. A automação da agricultura vem acompanhada de uma política abertamente favorável à concentração de terra nas mãos de poucos latinfundiários.”

– A concentração de terras e o parasitismo no campo
“A história do campo brasileiro após 1964 é uma sequência sem fim de saques, pilhagens e violências contra os camponeses. A exploração brutal das grandes empresas, imperialistas e nacionais, não pompou nenhum método para expulsar os pequenos proprietários de suas terras e espoliar o trabalhador”

– Vale do Ribeira, atração para as grandes empresas
“Um grupo de dez posseiros de município de Sete Barras no Vale do Ribeira, esteve na Comissão da Justiça e Paz em São Paulo, no dia 9, à procura de um novo advogado que defenda as 80 famílias na região contra a invasão violenta de suas terras pelos capangas armados da Companhia Field Comércio e Participação S/A, ligada ao Grupo Novo Mundo. Eles levaram uma carta para o bispo da região, mas até o momento tinham conseguindo se avistar com ele”

Página 4

– Nunca deu tanto voto nulo
“As eleições de 1978 passaram. E deram mais uma vitória ao MDB. É verdade que não tão esmagadora como de 1974, porém o MDB conseguiu levar vários candidatos ‘populares’ e um número significativos de ‘autênticos’. (…) As greves deram o tom, e conseguiram ofuscar o brilho das eleições preparadas pelo regime militar. A mobilização dos trabalhadores propiciou que uma ampla camada passasse a confiar em suas próprias forças, vivendo sua própria experiência, sentindo sua unidade, e passando a reconhecer melhor quem são seus amigos e quais seus inimigos. A falência do regime militar, incapaz de resolver qualquer problema da nação e dos explorados, ficou mais evidente. E, apesar dos mais incríveis malabarismos realizados pelo MDB para chamar para si todo e qualquer movimento de oposição, não deixaram surpreender os votos nulos e brancos, que surgiram aos milhares nas grandes concentrações operárias.”

– O protesto que virou notícia
“A grande imprensa teve três atitudes diante dos votos nulos e brancos: a primeira foi ignorá-los; a segunda, foi tentar justificá-los a partir da falta de preparo de uma parte do eleitorado; e a terceira, mais lúcida, foi reconhecer que eles eram uma forma de protesto”

Página 5

– Os votos que incomodam
“Numa explicação que não deve ter agradado muito a seus próprios eleitores, arenistas de vanguarda e de retaguarda, emedebistas populares e impopulares não tiveram dúvidas em decretar a burrice da população brasileira, sua incapacidade para votar – e dessa forma explicar o grande número de votos nulos que começaram a aparecer durante as apurações (10.7% em São Paulo). Foi a maior porcentagem de todas as eleições realizadas no país desde 1964. Também não faltaram as mais diversas especulações para se explicar que 14% da população tivesse votado em branco”

– Programas em liquidação
“(…) Depois das eleições, os candidatos eleitos e os não eleitos, curtindo ressaca eleitoral, tiveram pela frente, de maneira então irrecusável, um outro adversário: o grande número de votos brancos e nulos”

Página 6

– Hungria
“(…) Vencida a contra-revolução nazista, o proletariado manifestava difusa e desorganizadamente sua vontade de controlar a economia e conquistar seus direitos políticos. A morte de Josef Stálin, chamado de ‘Pai de Todos os Povos’ por seus acólitos, permitiu que a burocracia tentasse uma nova política, a fim de tentar reduzir as tensões existentes, estabelecer um novo tipo de relacionamento com o imperialismo (…) não poderia aprofundar mudanças políticas: tinha que manter seu monopólio absoluto nesse campo, garantir a dominação dos trabalhadores e assegurar a manutenção de seus privilégios de casta. (…) em 1956, o movimento dos trabalhadores avançou contra a burocracia em toda a Europa no Leste e na própria Rússia. A Revolução Húngara foi o ponto culminante dessa vaga revolucionária mundial”

– A revolução dos conselhos
“A agitação começa em 1956 na Hungria com as primeiras reuniões públicas do Círculo Petofi, um associação de estudantes e jovens intelectuais que lutam por liberdades políticas. As discussões abertas se iniciaram em março, e chegam a reunir cerca de oito mil pessoas. Em julho, a política de ‘desestalinização’ alcança o país, com o fim de fazer algumas concessões às massas húngaras, com a intenção de conter com sua insatisfação”

Página 7

– Carter, Brejenev, Kuo-Feng e o Xá
“Em 1978, o Xá do Irã já matou 1.200 pessoas que participaram de manifestações de protesto contra o regime. O que não impediu que Carter desse total apoio à Monarquia e aos seus métodos para combater os trabalhadores e estudantes. (…) Essas manifestações transtornaram completamente a vida da cidade durante várias horas, no momento em que os pilotos e técnicos da companhia aérea Iran Air e os 30 mil trabalhadores nos poços de petróleo, em greve, desferiam outro duro golpe na monarquia.”

– Inglaterra: Ninguém quer 5% de aumento
“Os 57 mil operários da Ford continuam em greve. Há 9 semanas eles enfrentam abertamente a política salarial do governo, que estipula um limite de 5% para os aumentos. Esse índice foi superado. Apesar das pressões a Ford foi obrigada a ceder e propor aumentos maiores”

Página 8

– A repressão nas fábricas
“Os trabalhadores conseguiram, com as greves, recuperar uma pequena parcela do que perderam em anos de política de arrocho salarial. O enfrentamento com um dos pilares do regime militar possibilitou o surgimento da vanguarda combativa da classe (…) Mas os empresários têm a nítida consciência do que representa a vitória dos operários no campo salarial e político. Sem controle dos organismos que espontaneamente apareceram dentro de suas fábricas, eles procuraram osbtruir, desde o princípio, as bases do movimento forte e independente. (…) não hesitaram em despedir massivamente, após greve”

– A tática dos patrões
“Em reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, os empresários do setor metalúrgico definiram um comportamento geral a ser seguido na greve. Num documento reservado, com anexo ‘Recomendações em caso de greve’, eles mostram que a ‘negociação direta’ que pretendem é apenas um dos meios de ganhar tempo para preparação de uma investida contra os trabalhadores”

– Um correio eficiente demais
“O correio brasileiro sempre teve a fama a de ser um dos mais bagunçados do mundo. Poucos eram as pessoas que enviavam cartas com a esperança de que um dia chegassem aos seus destinos. As que chegavam, sempre atrasavam e quase todas as empresas tiveram que criar serviços próprios de entrega. Porém, sente-se que esta situação está mudando. A entrega está mais eficiente, abriram-se novas agências, criaram-se as caixas coletoras nas ruas, os carteiros andam sempre uniformizados. (…) Entretanto, só quem trabalha lá dentro é que sabe como esta melhora está sendo obtida”

📰 Confira a edição na íntegra

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