O que busca o PCO ao atacar “O Trabalho”?

Defensor do “Volta Dilma” transforma discussão legítima em ataques inaceitáveis

Não temos interesse em travar uma polêmica interminável com o Partido da Causa Operária (PCO) sobre suas posições políticas e não o faremos.

Mas, não poderíamos deixar passar em branco um artigo publicado em 20 de janeiro no seu site e veiculado nas redes sociais que, desde seu título: “Corrente O Trabalho não quer o volta Dilma, quer o volta FHC” e ilustrada com uma grande foto de FHC faz uma provocação que utiliza manipulações de triste memória no movimento operário.

O tal artigo teria a pretensão de responder a uma nota de 20 linhas do jornal “O Trabalho” nº 800 (de 12/01) intitulada Volta Dilma? Fora Temer, coisa da ‘esquerda pequeno-burguesa’?. O PCO, antes de voltar sua artilharia contra O Trabalho”, já havia acusado todos os que mantém o “Fora Temer” na sua agitação – e que, diga-se, não são poucos, a começar pelas grandes organizações sindicais e populares como a CUT, o MST, a CMP, o MTST e outras – de “elementos da esquerda pequeno-burguesa que pede o Fora Temer, abandonando a luta contra o golpe” (02/01 no mesmo site).

Mais ainda: o PCO sequer fica envergonhado ao misturar as posições do PSTU e CST (corrente do PSOL), que “defenderam abertamente o golpe” com as daqueles que assumiram até o fim a defesa de Dilma contra o golpe, mas sem deixar de combater a política econômica de ajuste fiscal do seu governo.

Assim, no artigo de 20/01 dedicado a O Trabalho, podemos ler:

Dentro do PT aconteceu algo similar. Algumas correntes da chamada esquerda do PT, quanto mais ‘radical’, mais criticava o governo eleito pela política de ‘ajuste’ e menos reagia contra a direita golpista que derrubou o governo e era quem mais impulsionava a política de ajuste. Uma dessas correntes internas do PT é conhecida como “O Trabalho”. Um grupo que se reivindica comunista, trotskista e defensora dos trabalhadores ajudou nesse esforço para confundir a luta contra o golpe com a luta contra medidas parciais, como é o caso dos ajustes, o que servia para dividir o movimento”.

Logo, segundo o PCO, a defesa de Dilma contra o golpe nos obrigaria a nos calar frente frente às desonerações fiscais, às Medidas Provisórias 664 e 665 que reduziram direitos e ao ajuste fiscal do ministro Levy que provocou desemprego, levando ao enfraquecimento do próprio governo. Teriam “dividido o movimento” todos os que vincularam a luta contra o golpe às exigências de mudança da política econômica?  Os que combateram uma política que minava as bases sociais do partido e do governo Dilma, como a Frente Brasil Popular e a CUT, para ficar em dois exemplos?.

Será então que “só foram consequentes” os que fecharam os olhos à política de ajuste, pois eram “medidas parciais”, como diz o PCO?

Ocorre quem em seguida, a “polêmica” desanda em ataques contra O Trabalho por, segundo eles, pedir “autocrítica” e concluir pela reconstrução do PT?” e afirma caluniosamente que: “Qualquer semelhança com a campanha que a própria imprensa golpista faz diariamente contra o PT não é mera coincidência”.

A quem serve tal calúnia (“não é mera coincidência”), que ultrapassa qualquer discussão política séria?Será que, para o o PCO significa “disputar” o que ele próprio chama de “setores mais moderados” do PT e movimentos populares? Por que o PCO afirma que o “Fora Temer” seria equivalente a pedir “volta FHC”? A única maneira de entender tal raciocínio é a ilusão de que a saída para a crise passa pelas atuais instituições (Congresso e Supremo Tribunal Federal).

De nossa parte, para a corrente O Trabalho, o “Fora Temer” mantém sua total centralidade por se tratar de um governo ilegítimo, fruto de um golpe de Estado para servir aos interesses do imperialismo. Por isso insistimos que, diante da profundidade da crise institucional, a defesa da democracia e a realização das reformas populares necessárias exigem uma Constituinte soberana.

Quanto ao PCO, os argumentos esgrimidos são: “A luta contra o golpe é em primeiro lugar uma luta para restabelecer o governo eleito. O Trabalho se diz contra o golpe, mas opõe a volta de Dilma ao fato de que esta não gostaria de voltar e ainda que o povo estaria revoltado com ela, e não a apoia por conta do ajuste fiscal. O primeiro ponto é, em certa medida irrelevante, pois se as massas se movimentam para restabelecer o governo eleito é natural que a presidenta cumpra sua prerrogativa e cumpra o mandato a ela conferido. O que Dilma quer ou não quer não muda o sentido geral da política de derrotar o golpe e restabelecer o governo derrubado”.

A questão não é jurídica, é política em toda sua dimensão! A nota do jornal O Trabalho que o PCO critica, começa com as frases: “O impeachment, sem crime de responsabilidade, foi um golpe contra o povo. Portanto é justa a sua anulação”.

Estaria Dilma liderando a luta para retomar seu mandato legítimo? Se esse fosse o caso, claro que teríamos que levar em conta. Mas não é. A própria Dilma diz defender “Diretas já”. Mas, para o PCO, isso é “irrelevante”. Estariam, então, as massas se agarrando na volta de Dilma, apesar da vontade dela, para ver suas reivindicações vitais atendidas? Nem de longe parece ser o caso.

A questão de fundo, na verdade, é a de reunir a força social capaz de derrotar o golpe e restabelecer a democracia, numa situação concreta de ataques ao conjunto dos direitos previdenciários e trabalhistas feitos pelo governo Temer e seus apoiadores ( o imperialismo e o empresariado local). Em nossa opinião, para enfrentar esses ataques, impõe-se reunir as condições para uma Greve Geral por “nenhum direito a menos”, que se chocará com o governo de plantão, sob a palavra-de-ordem Fora Temer e que abrirá terreno para uma saída política que integra a luta por uma Constituinte.

Mas, para o PCO bastaria o movimento “Volta Dilma”:  “Para o movimento contra o golpe e pela anulação do impeachment ir às ruas não é nenhum grande desafio. O movimento está nas ruas e as ruas são o combustível para o crescimento da campanha, simples assim”.

“Simples assim?”. Tão “simples” como acusar O Trabalho e todos os que mantém de pé o “Fora Temer”,de querer a volta de FHC: Exagero? Então vejam o que anima o PCO: “Nesse momento o ‘Fora, Temer’ significa uma eleição indireta, ainda mais, com o movimento de massas ainda na defensiva, é possível sim que a queda de Temer leve uma vitória do setor mais agressivo do golpe, do imperialismo, o PSDB-DEM, que poderiam ser vitoriosos numa eleição indireta, como já foi até denunciado no Senado, numa possível eleição de Fernando Henrique Cardoso”.

É realmente incrível, “com o movimento de massas ainda na defensiva” o PCO diz que o “volta Dilma” está nas ruas e quer pressionar o STF – que foi cúmplice do golpe – a anular o impeachment. Para arrematar que a corrente O Trabalho quer “desencorajar a luta contra o golpe, o que significa na prática ser a favor dos golpistas e do regime que estão implantando”!

Não, a corrente O Trabalho não é e nunca foi a favor dos golpistas, nem do regime que estão implantando e, muito menos, quer a volta de FHC. Esse tipo de difamação não encontra qualquer sustentação na realidade dos fatos. Honestamente, lamentamos o ponto tão baixo atingido pelo PCO nessa “polêmica”.

Comitê Editorial de O Trabalho

23 de janeiro de 2017

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