Trabalhadores da saúde exigem respeito!

O general Eduardo Pazuello assume definitivamente o ministério do Ministério da Saúde, consolidando a invasão dos militares, para bater continência ao ex-capitão. Sem nenhuma competência para isto, nesse setor estratégico, ainda mais diante da pandemia, ele veio para cumprir as ordens do governo na sua política aventureira, negacionista e letal para o povo.

A consequência veio momentos depois. Sem cerimônia, o governo apresentou a suposta “revisão” de dados, na verdade um artifício de manipulação dos números. Bolsonaro assim consegue a subserviência que perseguia ao trocar de ministros, para impor sua versão da “gripezinha”.

Sob pressão, Prefeituras e Estados que implantaram o isolamento já utilizam estratégias descoordenadas para afrouxar as barreiras e fazer as indústrias e comércios reabrirem. Pesquisador do Consórcio Nordeste, o neurocientista Miguel Nicolelis, divulgou no último domingo um texto onde afirma que a ocupação de leitos não deveria ser o único critério para reversão do isolamento: “A nossa sugestão é de que se você tiver leitos ocupados com taxa de 80% e ainda tiver curvas ascendentes, você tem que manter [o isolamento]”. Ele também defende que o momento é o de manter o isolamento, que deu certo no mundo todo na contenção de transmissão do vírus. O resultado é notório, continuamos em uma curva ascendente de casos de contaminação e mortes. São Paulo afrouxou o isolamento e tem novo recorde de mortes a cada dia. É momento de aprofundamento do isolamento, e não de afrouxamento!

Chamado criminoso à invasão de hospitais
Tentando comprovar a visão do presidente, deputados bolsonaristas, no último dia 5 em São Paulo, invadiram um hospital de Campanha para mostrar que os leitos não estão ocupados no local. Em live, no domingo subsequente, Bolsonaro impulsiona seus partidários a fazerem o mesmo com a intenção de reduzir a gravidade da pandemia, colocando em risco os trabalhadores da saúde os pacientes e os próprios invasores. A realidade é que entre 70-80% dos infectados não terão necessidade de internação. E que entre os que internam só 5% ficam graves. Esses infectados graves ficam longos períodos internados e por isso continuamos com os leitos de Terapia Intensiva nos hospitais públicos cheios. Na mídia começam a pipocar denúncias de violência, invasão e depredação de equipamentos de saúde depois desse chamado de Bolsonaro. Medidas sanitárias e de proteção de todos são desrespeitadas por essa incitação criminosa.

Deputados bolsonaristas que invadiram hospital Dorio Silva em Serra (ES)
Deputados bolsonaristas que invadiram hospital Dorio Silva em
Serra (ES)

A verdadeira situação
A resposta dos trabalhadores veio na sequência. O Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro publicou, ao lado de uma listagem de hospitais públicos no estado, a verdadeira realidade da falta de leitos e profissionais sem concurso, inclusive sem salários, e a mensagem viralizou. No mesmo hospital de Campanha invadido pelos deputados bolsonaristas em São Paulo, os Sindicatos dos servidores municipais, médicos e trabalhadores públicos da saúde (Sindsep, Simesp e Sindsaude), fizeram uma vistoria, programada, no dia 8 de junho. Foi identificado que as denúncias feitas pelos trabalhadores de saúde são reais. No hospital há falta de disponibilização de equipamentos de proteção, falta de condições de descanso e até de locais aonde beber água durante o plantão, os leitos são precários e só servem para pacientes com quadros leves.

Os trabalhadores de saúde estão esgotados após mais de três meses do início da pandemia no país, lidando com sobrecarga de trabalho, com a chance de ser infectado e de morrer com a doença; e são desrespeitados por esse governo criminoso que reduz nosso trabalho e desqualifica todos os riscos e as mortes.

Médicos no Ceará, do Coletivo Rebento, gravaram vídeo respondendo a fala do presidente aonde o chamam para comparecer às Unidades de Terapia Intensiva dos Hospitais Públicos e aos necrotérios cheios.

Em parte da gravação deixaram claro: “Se ficarmos calados seu legado deixará um rastro de miséria, com uma legião de desempregados e subempregos… fortalecerá o obscurantismo e destruirá a cultura a ciência e o pensamento… Exigimos Respeito!”

Juliana Salles

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