Tirem as garras da Venezuela!

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 Mais de 8 milhões votam na Constituinte,

resistindo às ameaças do imperialismo

Em 31 de julho recebemos de Alberto Salcedo, do Coletivo Trabalho e Juventude (CTJ) da Venezuela, no qual participam militantes da 4ª Internacional, uma nota que expressa o estado de ânimo dos que votaram nas eleições para a Assembleia Constituinte no dia 30:

“A vontade férrea democrática da parte majoritária do povo trabalhador permitiu que milhões de venezuelanos fossem às urnas, inclusive correndo riscos e superando enormes dificuldades. ‘Queremos a paz e não retroceder ‘, ‘Venezuela deve ser respeitada’, foram as palavras de ordem do povo mobilizado, atingindo uma votação de 8.089.320 votos, o que representa 41,53% de participação eleitoral.

A nação venezuelana e o povo trabalhador irromperam soberanos e vitoriosos, ainda que com uma forte confrontação de classes em seu seio que não oferece um prognóstico calmo para o imediato. O governo e a liderança de Maduro saem da contenda fortalecidos e com um mandato do chavismo das ruas: conter rapidamente os setores violentos e dar uma guinada no controle da especulação monetária e nas dificuldades de abastecimento, sejam as produzidas pela guerra econômica, sejam as causadas pela economia rentista imperante no país. (…)

O forte apoio à eleição Constituinte, em tão árduas circunstancias, demostra que as forças de resistência à ofensiva da direita imperialista continuam vivas (…). Para o povo trabalhador, surge com a Assembleia Constituinte a possibilidade efetiva de defender suas conquistas sociais e avançar.”

O também companheiro do CTJ, Raúl Ordoñez, sindicalista do setor de saneamento e um dos convocantes da Conferência Mundial Aberta de Argel contra a Guerra e a Exploração, foi eleito na lista dos trabalhadores para a Constituinte. Seu compromisso é o de “apoiar todas as medidas que defendam a soberania da nação, que ampliem os mecanismos de democracia direta, que consolidem e blindem os direitos trabalhistas e sociais do povo trabalhador, entendendo que somente os trabalhadores e setores populares organizados podem defender de forma consequente essas conquistas contra a intervenção do imperialismo e seus lacaios”.

“Árduas circunstâncias”
Desde que Maduro lançou a proposta de Constituinte em maio, respondendo a uma situação já marcada por manifestações violentas da oposição nucleada na Mesa de Unidade Democrática (MUD), desatou-se uma campanha interna e externa para impedir a sua realização por todos os meios.

As tentativas de diálogo feitas pelo governo – que chegou a transferir os líderes opositores Leopoldo López e Antonio Ledezma para prisão domiciliar como gesto – foram recusadas pela MUD. Desde suas casas, os dois incitaram manifestações contra a Constituinte e chamaram oficiais militares à revolta, tendo sido reconduzidos à prisão após as eleições.

A grande mídia internacional não passou um dia sem acusar Maduro de “ditador violento” que daria um “golpe”, ao mesmo tempo que tratava de “heroicas” as ações de gente paga pela direita, fortemente armada e com máscaras de gás, que atacava quartéis e hospitais, montava bloqueios nos bairros abastados, assassinava chavistas e que, uma vez reprimida por forças de segurança, aparecia como sendo vítimas da “luta pela democracia”.

Foram três meses de desabastecimento, provocado em boa parte pelos empresários privados, de insegurança e temor de uma guerra civil iminente. O objetivo do imperialismo, seja de Donald Trump, seja da União Europeia e de governos títeres da América Latina, é o mesmo da MUD, que tem maioria na Assembleia Nacional desde o início de 2016: derrubar o governo Maduro e instaurar um governo servil aos EUA.

E isso é inaceitável para o povo trabalhador da Venezuela, que quer uma nação livre e soberana, sem ingerência externa.

E agora?
As eleições ocorreram, a Constituinte foi eleita com mais de meio milhão de votos a mais do que Maduro obteve contra Capriles (MUD) em 2013. Ela se instala nos próximos dias, mas seguirá existindo a Assembleia Nacional de maioria opositora. Um choque entre esses dois poderes é previsível.

O objetivo do imperialismo – ao qual se alinham grupos de “esquerda” na Venezuela e seus correspondentes no Brasil (ver abaixo) – segue sendo derrubar Maduro para impor um governo que lhe entregue o petróleo e a soberania da Venezuela.

Trump adotou sanções contra Maduro, enquanto sua embaixatriz na ONU, Nikki Haley, denunciou o “simulacro de eleição” feito por uma “ditadura”. A União Europeia vai no mesmo rumo. Governos pró-imperialistas da América Latina, como o de Peña Nieto (México), Macri (Argentina) e Santos (Colombia), “não reconhecem” os resultados das eleições de 30 de julho, enquanto o governo golpista do Brasil, através do “chanceler” tucano Aloysio Nunes, pede que a Constituinte não se instale para que haja diálogo.

Todos eles vão continuar com a sabotagem econômica, política e diplomática para isolar o governo Maduro, pois não se trata só da Venezuela.

Para o imperialismo, mesmo se Trump está metido numa crise interna, trata-se de impor a todos os povos as exigências do capital financeiro. A menor medida de independência e soberania nacional, de controle dos recursos a serviço dos povos, é incompatível com a ordem imperialista.

A batalha que se desenrola na Venezuela diz respeito aos trabalhadores e suas organizações em todo o mundo. Não se trata dos erros ou debilidades de Maduro e do chavismo. Trata-se do indiscutível direito de um povo decidir livremente o seu destino.

 

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Diga-me com quem andas… PT e CUT contra ingerência imperialista, mas certa “esquerda” quer derrubar Maduro

 

Não é preciso estar em total acordo com Maduro, com o PSUV ou com a Constituinte eleita em 30 de julho, para perceber quais são as forças fundamentais que se opõem hoje na Venezuela.

De um lado está o imperialismo dos EUA e da União Europeia, governos reacionários da América Latina, a grande burguesia venezuelana, com a cabeça em Miami e os pés esmagando o povo com especulação e desabastecimento.
De outro, uma nação que se quer soberana, com um governo que, de forma contraditória, busca preservar a independência do país e, para tanto, se choca com interesses do imperialismo. Isso num cenário continental em que os EUA querem recuperar o terreno perdido no que consideram o seu “quintal”, como se viu e se vê no próprio golpe dado no Brasil.

A presidente do PT, Gleisi Hoffman, declarou em resposta a provocações da mídia: “Gostando ou não de Maduro, ele tem legitimidade, foi eleito em urna, que não é o caso de quem hoje governa o Brasil. Constituinte também defendemos aqui. Foi deliberação do 6° Congresso do PT.” (FSP, 25 de julho).

A CUT, em nota oficial, reconheceu a Constituinte e declarou que “rechaça quaisquer tipos de interferências de governos estrangeiros sobre a Venezuela”. Também a CTB, a Intersindical, a UNE, MST, PCdoB, PCO e outras entidades e partidos declararam apoio à Venezuela contra a ingerência imperialista e em defesa da soberania nacional.

Uma nota da secretaria de relações internacionais do PSOL manifesta “apoio ao processo constituinte proposto pelo governo Maduro”, afirmando: “ Por mais que possamos identificar equívocos na condução da Revolução Bolivariana por parte do governo Nicolás Maduro, a radicalização das posições coloca como única alternativa à sua continuidade a tomada do poder pela direita. Não há meio-termo e não há terceira via”.

De que lado está certa “esquerda”?
Mas, a executiva do PSOL-RJ, reagindo a essa nota, afirma que “está com o povo da Venezuela, não com Maduro”. O deputado Jean Wyllys diz ser “indefensável a ditadura de Maduro”, depois de Luciana Genro, em março, ter acusado Maduro de “autogolpe”. A corrente CST do PSOL, na seção de seu site “Rebelião popular na Venezuela”, reproduz a posição de seus correligionários de lá: “Frente contra a crise e a Constituinte fraudulenta de Maduro”. Seria o caso de perguntar, frente com quem? Com Trump e a oposição venezuelana,nucleada na Mesa de Unidade Democrática, a MUD?

Já o PSTU divulga a posição da LIT-CI de 2 de agosto (após as eleições constituintes): “Por uma greve geral e um ‘venezuelaço’ para derrubar Maduro e mudar o país. Fora Maduro e seu governo de fome e miséria!”. Lembremos que “greve geral” (na verdade locaute, quando patrões fecham empresas) foi o que a MUD chamou dois dias antes das eleições para a Assembleia Constituinte.

Nada mais oposto às posições de Trotsky e da 4ª Internacional de defesa incondicional da nação oprimida contra o imperialismo e seus agentes locais, o que hoje se traduz na necessidade da frente única anti-imperialista na Venezuela, que inclui o chavismo e o próprio governo Maduro, ainda que se possa ter diferenças importantes com eles.

A “contribuição” desse tipo de “esquerda” é levantar a bola para stalinistas de plantão caluniarem o trotsquismo como “quinta coluna, tal como na guerra civil na Espanha 1936-39, ou na Líbia e Síria” (D. Emanuelsson em “Resumen Latinoamericano”, 30/07). O que, convenhamos, é totalmente dispensável numa discussão séria que envolve o futuro dos povos de todo o continente!

Por Lauro Fagundes

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