Chile: “Se os poderosos não cuidam, faremos nós”

Havia um previsível aumento das mobilizações no país em março e, efetivamente, desde o final de fevereiro as mobilizações vinham sendo retomadas com mais força e havia uma robusta agenda.

O pico foi o 8 de março, no Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, que prenunciava um futuro próximo com muita mobilização. No dia 11, houve novos protestos, liderados por estudantes secundaristas, aos quais se somou a Unidade Social [articulação de sindicatos, partidos e movimentos, NdT], cujo eixo era “Renuncia Piñera” Em vários setores estava em discussão uma nova greve geral.

Com a explosão da pandemia – o Chile agora é o país latino-americano com a maior proporção de contagiados em relação à população – o panorama começa a mudar.

Vários setores começam a levantar a voz contra a pífia reação de Piñera diante da crise e a clara proteção ao empresariado em detrimento dos mais necessitados. Altas dos preços de primeira necessidade, demissões indiscriminadas, mudança unilateral de contratos de trabalho, entre outros, motivaram panelaços, protestos em mercados contra o abuso patronal (que não admitiam liberar os trabalhadores mais cedo para evitar a superlotação dos meios de transportes). Empresas, como LATAM, obrigam a assinatura de anexos de contratos de trabalho rebaixando em 50% o salário, em troca da manutenção do emprego.

Em 18 de março Piñera declarou que o Chile está em Estado de catástrofe o que pode derivar em toque de recolher e levar os militares novamente às ruas. Declarou o fechamento do comércio não essencial, mas ignorou as demandas dos trabalhadores.

Bloco Sindical reage
Reunido em 19 de março, o Bloco Sindical da Unidade Social lançou uma declaração chamando à greve humanitária e quarentena para frear o coronavírus. Diz a declaração (trechos): “No dia de hoje, muita gente segue exposta à contaminação como consequências das atividades de trabalho que estão mantidas. É incompreensível que as autoridades não decretem quarentena geral. Ante ao prognóstico do severo aumento de contagiados e ante a indecisão do governo em decretar a quarentena geral, exigimos que se corrija na maior brevidade esta atitude errática. Cada dia que se posterga milhares se convertem em contagiados e portadores. Se o governo não o faz, então devemos ser nós mesmos que convoquemos e organizemos uma greve humanitária pela vida. Uma quarentena organizada pelo povo. Uma greve de ruas vazias e não de agitação política. Em definitivo, se as autoridades e os poderosos não nos cuidam, então o faremos nós”.

A declaração encerra exigindo medidas de proteção dos trabalhadores e da maioria do povo, entre eles proibição de demissões e rebaixamento de salário e de controle de preços.

Correspondente

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