100 anos da Revolução Russa – parte 8: a um mês da insurreição

1o de setembro de 1917: a prisão do general Kornilov

O golpe de Estado contrarrevo­lucionário do general Kornilov fra­cassou militar e politicamente nos últimos dias de agosto, sem que suas tropas tenham tido sequer o tempo de ter dado um tiro, antes mesmo de ter combatido.

Primeiro, as massas do país, cada vez mais politizadas, compreenderam perfeitamente a cumplicidade evidente entre Korni­lov e Kerenski, os dois personagens agora mais detestados do país, “os dois K”. Elas constataram que os bol­cheviques foram o ponto de apoio contra a tentativa de golpe e isso teve peso nas modificações profundas de seu estado de espírito.

Maré alta bolchevique nos sovietes

O fato sem dúvida mais impor­tante deste mês de setembro não diz respeito a uma data isolada, veio de uma sucessão de acontecimentos que continuaram em outubro: a compo­sição dos sovietes, suas direções e sua orientação mudam completamente. Na noite de 31 de agosto, o soviete de Petrogrado adotou a resolução apresentada pelos bolcheviques, cha­mando “todo poder aos sovietes”! Em 08 de setembro, a seção operária do soviete de Petrogrado elege uma direção de maioria bolchevique e, no dia seguinte, os delegados lhe dão a maioria. Em 23 de setembro, o co­mitê executivo deste soviete-farol-da­-revolução elege Leon Trotsky para sua presidência. Também no início de setembro, o soviete de Moscou, a segunda cidade do país, se junta a Petrogrado. Em 05 de setembro, ele adota uma resolução bolchevique chamando à tomada total do poder e elege uma guarda vermelha. Ao mesmo tempo, os sovietes de Kiev, Saratov, Tachkent e Odessa dão maioria aos bolcheviques. Em 10 de setembro, começa o 3o Congresso dos sovietes da Finlândia, que se junta à ação dos bolcheviques. Repri­midos e perseguidos no início de ju­lho, os camaradas Lenin e Trotsky se tornam majoritários em todo o país. Durante o verão de 1917, o estado de espírito das massas modificou-se profundamente, correspondendo às transformações no país. Durante os seis meses que seguiram a revolução de fevereiro, as massas constataram que nenhuma de suas reivindica­ções essenciais foram conquistadas. Procuraram uma outra via. Se os dirigentes “socialistas conciliadores” não respeitavam o mandato que os trabalhadores lhes confiaram, en­tão era preciso mudar de política e substitui-los. Essa pressão considerá­vel das massas operárias, soldados e agora camponeses leva um número grande de delegados a se aproxima­rem da posição dos bolcheviques. Ao mesmo tempo, as eleições para a renovação dos dirigentes dos so­vietes destitui muitos pelo voto da democracia operária que se torna plenamente a democracia dos sovie­tes. Eram 400 sovietes em maio de 1917, 600 entre agosto e setembro e 900 em outubro.

13 de setembro de 1917: graves revoltas camponesas nas regiões de Kichinev e Tambov

Com alguns meses de diferença em relação às mobilizações operárias, os camponeses se insurgem. Desde fevereiro, os governos provisórios sucessivos dos ministros socialistas­-revolucionários, habituais defenso­res dos interesses dos camponeses, multiplicaram as promessas de reforma agrária, mas são incapazes de cumpri-la. Os camponeses se apropriam das terras e colheitas dos senhores que respondem violenta­mente: em quase metade do país, setembro vê uma sucessão de vio­lências, saques, agressões físicas por parte dos proprietários. A proximida­de com o luxo se torna insuportável para os que sentiam fome, eram atingidos pelo tifo e por anúncios de suicídios. A revolução camponesa se une ao proletariado industrial.

25 de setembro de 1917: o último Governo Provisório

O terceiro Governo Provisório, aquele de 23 de julho, foi um go­verno de coalizão, instaurado por e em torno de Kerenski. Seu objetivo era, com os golpes dados no início de julho pela contrarrevolução em setores progressistas do povo russo e bolcheviques, tentar restabelecer a ordem antiga, mas as forças do passado estavam impotentes. A Con­ferência de Estado não consegue o “armistício entre o capital e o traba­lho” buscado por Kerenski, porque só agrupavam partidos e setores da antiga Rússia com interesses muito antagônicos para serem conciliados.

O terceiro Governo Provisório se desagrega completamente no curso do mês de agosto antes de desaparecer no golpe de Estado de Kornilov. Em 26 de agosto, por razões diametralmente opostas, burgueses cadetes e socialistas dos partidos conciliadores lhe deixam bruscamente. Kerenski está sozinho, isolado, e concentra, em sua pessoa, todas as contradições do momento. A direita não está mais a seu lado porque ele não consegue conter a revolução em marcha; a esquerda tampouco porque sua relação com Kornilov é evidente. Ninguém está a seu lado, mas todos precisam dele porque parece ser o único a poder ainda “manter a casa em pé”. Foi necessário então estabelecer um novo Governo Provisório que será o quarto e último. Mas a tarefa se reve­la perigosa. Tergiversações e acordos secretos se sucedem: cai um ministro após outro. No final de um mês de manobras e contramanobras, chega­-se a uma redução do governo que se limita a sua direção, quer dizer, um órgão de cinco membros em torno de Kerenski: um antigo ministro das Relações Exteriores, agente da cola­boração com países imperialistas; o comandante da tropa de Moscou; um general tirado da prisão em que estava com Kornilov; um obscuro menchevique reprovado por seu partido que o excluiu um pouco depois.

14 – 23 de setembro: a “Conferência democrática”. Os últimos dias da coalizão

Kerenski tenta organizar uma última vez uma conferência de paz social entre as forças que não querem mais “colaborar”. A confe­rência foi convocada com o acordo dos mencheviques e dos socialistas revolucionários; ela se reuniu pela primeira vez em 14 de setembro. Tratava-se de concorrer com a con­vocação do Congresso dos sovietes prevista para o fim de outubro. Estes são minoria em relação às administrações locais e aos “coo­peradores”, cuja única legitimidade é sua oposição aos bolcheviques.

O debate: “qual governo é pre­ciso?”. Querem um governo de coalizão, mas sem os cadetes. À direita, a tendência pela coalizão, com Kerenski até os partidários de Kornilov. O primeiro voto é sig­nificativo. Para a coalização, 766 contra 688. Contra a participação dos cadetes 813 votos a 183 e 80 abstenções. Sai daí um organismo bastardo batizado pelo belo nome de “soviete da República”, mas que não terá nada de soviético e levará de fato o nome de pré-parlamento. Foi uma forma de governo aceitável para os aliados imperialistas. Mas os bolcheviques decidirão deixá­-lo em outubro. Como manter a coalização se ninguém mais quer conciliar?… Neste imbróglio entre a busca por um novo governo e a inanidade do pré-parlamento, a política de coalizão que dominou a vida política oficial do país desde a revolução de fevereiro tem os seus dias contados.

Trechos de matéria publicada no jornal Informações Operárias do Partido Operário Independente da França

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