Um balanço destas eleições de 2022, por certo, só poderá ser feito após o dia 30 de outubro. Mas elementos do primeiro turno já devem levar a algumas reflexões, até para ajustar a batalha nas próximas semanas.
Houve um sentimento de frustração da expectativa de que eleição fosse decidida em 2 de outubro.
Lula teve a votação recorde de 37% (57,2 milhões) do total dos eleitores aptos, igual ao 1º turno de 2006, venceu Bolsonaro e vai como favorito, ainda que por pequena margem, para o 2º turno em 30 de outubro. O PT elegeu três governadores (CE, PI e RN) no 1º turno, quatro vão para o 2º turno (BA, SE, SP e SC). A bancada na Câmara Federal cresceu de 56 para 68 deputados e no Senado de sete para nove. O PT se recompôs em parte em algumas Capitais e no “cinturão vermelho” em SP, estado onde foi ao 2º turno depois de 20 anos.
Nacionalmente, num total de 5570 municípios, Lula venceu em 3377, incluindo a capital paulista, com 47,5% dos votos, e várias cidades da região metropolitana.
Faltaram 1,8 milhões de votos
Mas, é verdade que para a vitória no 1º turno “faltaram” 1,8 milhão de votos que não vieram dos aliados Alckmin (SP), em especial no interior do estado que deu a vitória a Bolsonaro, e Kalil (MG), ex-prefeito de Belo Horizonte onde Bolsonaro teve 46,60% e Lula 42,53%. Em Pernambuco, Danilo Cabral (PSB), apoiado pelo PT amargou um quarto lugar, e Marília Arraes vai como favorita para o segundo turno, agora com o apoio do PT.
Além dos aliados, em particular Alckmin-Kalil, não terem acrescentado em termos de voto, a campanha ao se fixar no legado, não apresentou compromissos concretos (emprego, salário, moradia, reestatização e outras reformas populares), para dialogar com as demandas urgentes. Em particular, os últimos dias de campanha foram focados na adesão de banqueiros e celebridades tipo “ricos e famosos”, o que não dialoga com o povo pobre sofrido.
Bolsa sobe, dólar cai e pressões se intensificam
O “mercado” comemorou ter segundo turno, a Bolsa subiu e o dólar caiu. Um articulador dos “manifestos democráticos”, Fabio Barbosa, ex-presidente da Febraban hoje na Natura, foi bem claro: “Temos de ver até onde Lula vai ceder e onde ele deverá buscar apoio. O jogo agora é outro”. Um gestor anônimo da Faria Lima comemorou: “o Congresso será mais bolsonarista e, por conta disso, não haverá ‘reformas malucas’ caso Lula seja eleito” (Valor 03/09/22).
De fato, esse será um Congresso ainda mais reacionário do que o de 2018. O peso tanto na Câmara como no Senado será do “bolsonarismo raiz”. Isso, mais a penca de governadores e senadores bolsonaristas, é o produto dos quatro anos de trapaça de Bolsonaro, dos atropelos institucionais e dos crimes capitulados em lei e nunca investigados e nem foram punidos, pois tinham a cumplicidade do Congresso e do Judiciário. E, é preciso lembrar, contaram com a passividade da Oposição. Além das “bondades” de fim de mandato, o Fundão garantiu a reeleição da oligarquia parlamentar e, como sempre, funcionou melhor para o governismo, assim como a distribuição das emendas parlamentares turbinadas nesta legislatura pelo “Orçamento secreto”. Assim, a extrema-direita engoliu boa parte da direita (PSDB etc.) que acabou de implodir. Definitivamente, o bolsonarismo não caiu do céu! E para removê-lo é preciso levantar as bandeiras concretas que podem ganhar votos e mobilizar o povo trabalhador
Ana Carolina