No próximo dia 19 completam-se 39 anos da primeira prisão de Lula, juntamente com outros sindicalistas do ABC, em meio à greve dos metalúrgicos de 1980. Para marcar a data, será realizada uma atividade no Memorial da Resistência, em São Paulo. Um dos organizadores é o companheiro Djalma Bom, que estava entre os dirigentes sindicais metalúrgicos presos na época.
“Eu e outros companheiros montamos um Comitê Lula Livre aqui na rua João Moura, em São Paulo, onde moro. Éramos cinco pessoas, no início, e numa panfletagem que fizemos conseguimos reunir 28 e distribuir mais de mil jornais. Daí resolvemos marcar essa atividade, para lembrar da prisão, num momento em que Lula é de novo um preso político”, afirma Djalma, que foi deputado federal e vice-prefeito de São Bernardo do Campo.
Em 1980, a ditadura buscava acabar com a poderosa greve dos metalúrgicos, um movimento que reivindicava reajuste salarial e reunia assembleias com cerca de 70 mil metalúrgicos no estádio da Vila Euclides. Naquele mês de abril, houve uma sucessão de medidas: no dia 15, o Tribunal Regional do Trabalho decretou a ilegalidade da greve. Dois dias depois, o Ministério do Trabalho interveio em dois sindicatos de metalúrgicos: de São Bernardo do Campo e Diadema e de Santo André, que na época eram separados. Os diretores foram afastados das entidades.
No dia 19 começaram as prisões. Nem assim a greve refluiu, e só terminou em 12 de maio, depois de 41 dias.
Os primeiros a serem presos, às 6 horas da manhã do dia 19 foram Lula, Djalma e Devanir Ribeiro. Depois, houve outras detenções. Eles foram levados para o Dops, a polícia política da ditadura, cuja sede é o local onde hoje funciona o Memorial da Resistência. Os 12 sindicalistas do ABC acabariam ficando na prisão até 20 de maio.
Organização e solidariedade
“A ideia da repressão é que, prendendo as principais lideranças, automaticamente a greve poderia ter um refluxo. Mas até aumentou. No próprio sábado em que fomos presos houve assembleia. Quando foi anunciado que o Lula tinha sido preso, foi uma revolta geral dos metalúrgicos”, diz Djalma.
A organização e a experiência acumulada nos anos anteriores foram essenciais. Aquele era o momento de retomada das amplas greves operárias, depois de dez anos de repressão dura. “A greve de 1978 foi dentro das fábricas. A de 1979 foi uma greve geral da categoria, e já houve intervenção no sindicato por um período. Nossa data-base era 1º de abril, mas a campanha salarial de 1980 começou já em agosto de 1979. Organizamos o Fundo de Greve e começamos a realizar reuniões nos bairros de São Bernardo”, conta o companheiro.
O sindicato estava sem o seu prédio, ocupado pelos interventores, e com os principais dirigentes na cadeia, mas a estrutura montada com antecedência, mais a ampla solidariedade que se formou em torno da greve, mantiveram de pé o movimento. O PT, que começava se estruturar, participou desse processo. O Fundo de Greve amparou 32 mil famílias de metalúrgicos (cerca de 120 mil pessoas), distribuindo 460 toneladas de alimentos.
Para Djalma, “está claro que Lula é um preso político”, por isso é necessário ampliar a luta por sua liberdade: “A Justiça não vai tomar a decisão de libertar o Lula se não houver uma grande pressão. Temos que fazer essa campanha em cada rua, em cada praça, em cada local de trabalho. É a tarefa que cabe a cada um de nós”.
A atividade que lembrará os 39 anos da prisão de 1980 será no dia 19 de abril, ao meio-dia. O Memorial da Resistência fica no Largo General Osório, 66, no bairro de Santa Ifigênia, São Paulo.
Cláudio Soares