A Vale, privatizada por FHC, é, de novo, responsável por centenas de mortes
A tragédia de Brumadinho, deixou centenas de mortos e desaparecidos, grande parte trabalhadores da Vale, além da devastação ambiental. Estatal criada em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada, a rigor, doada, por $3 bilhões, quando seu valor era estimado em cerca de $100 bi, no governo de FHC, em 1997.
Após o acidente de Mariana em 2015, o governo de Pimentel (PT), apesar de proibir novas barragens do tipo da que se rompeu, não suspendeu os processos de liberação já em curso e não desativou as barragens deste tipo existentes, como a do Córrego do Feijão (OESP 29/01/19). Com os novos governos, Bolsonaro e Zema de Minas, privatistas desenfreados e que falaram em flexibilizar ainda as normas e controles, se reascende a questão da reestatização da Vale
O Trabalho conversou com o deputado estadual Betão (PT-MG), sobre a tragédia de Brumadinho.
Você esteve na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, o que diz?
Betão: Quando você observa ao vivo vê o tamanho da catástrofe, uma cena muito pior do que aquela que a gente vê pela televisão. É um crime contra a classe trabalhadora, para além de um crime ambiental.
Como denunciou o procurador-geral do Trabalho Ronaldo Curado Filho, este pode ser o maior acidente de trabalho ocorrido no Brasil. São 160 mortos e 165 desaparecidos! A gente percebe a perplexidade das pessoas diante do desastre criminoso que ocorreu no local onde moram e onde até então levavam suas vidas. A grande maioria dos mortos e desaparecidos são trabalhadores da Vale, o que demonstra um enorme descaso da empresa, hoje multinacional, depois da privatização promovida pelo governo de FHC.
Diante deste “maior acidente de trabalho”, como reagem os sindicatos?
B: Acho que deveria ter uma participação mais ativa dos sindicatos. Tentamos contato com os sindicatos dos Mineiros, até para colocar o mandato à disposição, mas infelizmente ainda não tivemos resposta.
Os sindicatos, até o momento, estão um pouco silenciosos. Vejo no que aconteceu em Brumadinho um acidente de trabalho de proporções que o Brasil ainda não conhecia. São as condições de trabalho que estão em discussão, um ano após a contrarreforma Trabalhista que desregulamentou as relações de trabalho. Pela nova Lei Trabalhista, por exemplo, a família de um trabalhador morto no acidente, só vale 50 salários do que ele recebe da empresa. Quanto menos ganhar um trabalhador menos receberá de indenização (ele ou sua família) por morte ou perda de membros do corpo em acidentes de trabalho. Antes dependia da gravidade e da decisão em Justiça. Isso acabou. E se a Vale não tiver por parte dos trabalhadores uma resposta à altura do seu crime, está aberto o precedente para que qualquer patrão não garanta as mínimas condições para um trabalhador voltar com segurança para a sua casa. Para mim, a CUT tem um lugar particular a ocupar nesta luta contra o que fez a Vale.
A Vale está sendo punida com multa e bloqueios financeiros, só isso basta?
B: Não basta. Em um governo sério, a diretoria da Vale já deveria estar afastada por ter cometido esse crime. E como é uma empresa que foi privatizada a preço de banana, a questão da reestatização deveria já ser pauta prioritária dos governos estadual e federal. Digo isso, porque participei, na década de 90, da luta contra a privatização da Vale, quando a empresa foi vendida para grandes acionistas, nacionais e internacionais. E nós sabemos que uma empresa privada, uma multinacional, visa principalmente o lucro. Além de todas as benesses que conseguiram com a privatização, ainda obtém do Estado isenções fiscais, que tiram dinheiro do orçamento público, para saúde e educação, por exemplo. Na busca do lucro, uma empresa privada não tem como prioridade gastos com a segurança dos trabalhadores e com a população que vive ao redor da empresa.
Uma empresa pública, como era a Vale, tinha mecanismos de controle de segurança da mineradora onde havia participação da estatal, dos empregados e da população. Por isso, estamos trazendo essa discussão da reestatização da Vale para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Já no início dos trabalhos do ano legislativo, pautamos esse tema. Existem também inciativas de Comissões Parlamentar de Inquérito (CPI). Agora, na Câmara Federal,o deputado Rogério Correia (PT-MG) colhe assinaturas para um plebiscito sobre reestatização da Vale. Nosso mandato apoia esta iniciativa. Aliás lembro que em 2007 foi feito um plebiscito popular, apoiado pelo PT por decisão de seu 3º Congresso. Cerca de quatro milhões votaram no plebiscito popular, dos quais 94% se declararam pela reestatização. Infelizmente nada foi feito durante os governos do PT. Depois de Mariana, e agora Brumadinho, a reestatização é uma bandeira a ser retomada.