A pesquisa BTG/Instituto FSB de março mostra que há uma grande insatisfação dos jovens entre 16 e 24 anos com o governo Bolsonaro. 67% dos entrevistados consideram que sua gestão é ruim/péssima.
Apesar dessa insatisfação, o número de jovens de 16 a 18 anos com título de eleitor é o menor da história.
Com data limite até 4 de maio, apenas 830 mil jovens têm título, número 10% menor do que no último ano eleitoral.
E mesmo com a campanha desesperada de partidos, famosos e artistas como atores, cantores, MCs de funk e rap apelando para que os jovens tirem o título de eleitor – que levou a 100 mil novas emissões em uma semana – o problema está muito longe de ser resolvido.
Na eleição geral de 1989, logo após o fim da ditadura, o número de jovens aptos a votar era 2,9 milhões. Nas eleições seguintes a quantidade diminuiu até voltar a subir em 2002, eleição em que Lula (PT) chegou à presidência.
Foi em 2014 — logo após as jornadas de 2013 que escancararam a distância entre representantes e representados — que o número de jovens aptos veio a cair drasticamente, indo para 1,6 milhão, caindo novamente após o golpe do impeachment (dados do TSE).
O buraco é mais embaixo
A juventude foi às ruas em 2021 protestar, em meio à pandemia, para dar um fim ao governo Bolsonaro, mas viu sua insatisfação canalizada para os meios institucionais, com os mais de 100 pedidos de impeachment, sobretudo por parte dos dirigentes partidários, sindicais, estudantis e outros.
Eles viram a face institucional legislativa, por meio do Congresso Nacional, ignorar esses pedidos enquanto seguia o teatro da CPI da Covid e outros episódios que tentavam esconder o fato que parlamentares votavam ataques aos direitos.
Essa mesma juventude viu a face institucional judiciária num morde e assopra com o governo Bolsonaro. Uma série de ameaças que não passavam de palavras vazias.
Os jovens viram, por fim, os partidos de oposição, adaptados a essas instituições repulsivas: muitos dirigentes defendendo o fique em casa e apostando tudo apenas numa saída eleitoral.
Os dados expressam a indignação de milhões de jovens que saem às ruas todos os dias em busca de emprego, que não têm dinheiro da passagem de ônibus, que têm o acesso negado à educação e que são esmagados pelo sistema capitalista.
São esses e milhares de outros que não se sentem representados por deputados, senadores, governadores, prefeitos, de todas as cores, que jogam nas atuais instituições e, por isso, parecem iguais.
Quando Lula enfrentou o sistema em 2018 se mantendo candidato à presidência, na condição de preso político, muitos jovens, animados, se somaram à campanha.
Hoje, muitos revoltados com Bolsonaro, querem mudanças de verdade e podem ver na candidatura de Lula uma saída. Mas, colocar Alckmin na vice só gera confusão, porque o ladrão de merendas é um homem do sistema.
O buraco é mais embaixo. Para fazer verdadeiras mudanças é preciso revogar tudo que foi feito pelo governo genocida.
A desconfiança, com razão, coloca a pergunta: é possível fazer isso com essas instituições e com aliados golpistas?
Leo Ratão