A demissão do ministro da Saúde, Mandetta, mesmo se sua atuação não era o que se propagandeou na luta contra a Covid-19, é uma escalada do governo Bolsonaro para concentrar poder. Foi instantâneo: nas janelas as manifestações contra o governo ecoaram ao anúncio da demissão e da nomeação de um bolsonarista de raiz, um empresário da medicina privada, setor ao qual Mandetta também era ligado.
A situação já grave, só tende a piorar. Os números que avançam, e há subnotificação, não são abstratos, são pessoas. Segundo dados oficiais são 33.682 contaminados e 2.141 mortos, com letalidade maior na população negra e das periferias.
A população desassistida, jogada no trabalho informal, em moradias extremamente precárias, está relegada à própria sorte. Os poucos R$600,00 concedidos, foram recusados a 30% dos que já o solicitaram, ou seja, mais de seis milhões de pessoas.
Esses dezenas de milhões de brasileiros serão os mais atingidos pelas já precaríssimas condições de atendimento médico-hospitalar.
Os trabalhadores da saúde, na linha de frente para salvar vidas, expostos ao contágio, trabalham sem proteção e em condições estafantes.
O drama mundial que assola os povos vem da incapacidade de combate ao vírus por um serviço de saúde e sanitário, destruído que foi, em regra, pelas políticas de ajuste fiscal. É também o drama da imensa quantidade de trabalhadores na informalidade, num beco sem saída. A necessária quarentena no combate à propagação do vírus, não é acompanhada de uma política de assistência real a esses trabalhadores. E, ao contrário, os patrões se aproveitam da pandemia para avançar no rebaixamento das condições do trabalho formal, o que já era a política do capital em todo o mundo.
Neste drama mundial, onde os governos estão mais atentos a salvar os interesses do capital, no Brasil a tragédia, e sua extensão, tem um responsável: o governo Bolsonaro que joga no caos para avançar na concentração de poder, resguardado pelos generais. Concentrar poder e ir até onde mais puder nos interesses do capital financeiro “acima de tudo e de todos”.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a quarentena, exprimiu de maneira nua e crua: “para ilustrar que existe essa troca [entre salvar vidas ou combater a recessão] e é uma troca que está sendo considerada.” Dane-se a vida, salve-se o lucro!
Este governo, gerado no golpe e na fraude jurídica que garantiu sua eleição, conta, no que mais lhe interessa, com o apoio da ampla maioria do Congresso Nacional, como a aprovação da MP 905 que propicia aos patrões explorarem trabalhadores sem direitos.
Aí vem a pergunta que não pode calar: por que a direção do PT resiste em orientar a luta pelo fim do governo?
Amadurece o sentimento de que não virá nada para proteger a saúde, o trabalho e a nação, enquanto o governo Bolsonaro aí estiver. Um sentimento, por ora, represado nas janelas e redes sociais. E um drama vivido pelos trabalhadores da saúde, de outros setores essenciais que trabalham sem proteção e os trabalhadores de serviços não essenciais encurralados entre perder emprego ou ter salários rebaixados. Há resistências localizadas, limitadas pelas condições.
Mas todos, os que estão na janela, nos hospitais, no chão da fábrica e comércio precisam ouvir alto e bom som: ultrapassada a tempestade, com o governo Bolsonaro não virá a bonança. E a quem, senão a Lula e o PT, incumbe dizê-lo?