E, na TV, toma uma certa distancia da “Antecipação”
No Palácio da Alvorada, no último dia 28, a presidente eleita, Dilma, se reuniu pela primeira vez em 6 anos com os membros da Executiva do PT. Antes tarde do que nunca.
A troca de idéias sobre a situação política, recuperou a necessidade de uma reforma política para se poder governar o Brasil, vista a “podridão das instituições” e a “fragmentação dos partidos”.
As conclusões comuns integraram várias iniciativas mobilizadoras que a imprensa noticiou: intensificar as suas viagens para combater o impeachment, lançar um fundo de arrecadação para financiá-las (depois que o usurpador criou dificuldades na FAB) e reunir-se mais com os partidos políticos que a apóiam nesta etapa (PDT e PCdoB, além do PT).
Mas o principal foi a busca de sintonia entre Dilma e o PT na questão da antecipação das eleições presidenciais, onde a posição da maioria da Executiva é de não apoiar a proposta do PCdoB, de Boulos e de alguns senadores.
Democracia Socialista abraça a “antecipação”
Dizemos maioria, pois a corrente Democracia Socialista (DS), em nota (16/6), resolveu “vincular a volta da Presidenta Dilma à convocação do povo para deliberar” e “assumir a defesa de novas eleições já”.
Na véspera da reunião do Alvorada, o senador Lindberg (PT-RJ), que já foi um entusiasta, avaliou que isso “não tem mais condições” (Folha de São Paulo, 29/6), embora outro senador, Humberto Costa (PT-PE), assegure que “isso ficou equacionado” na reunião (FSP, 29/6).
Mas, falando pela sua própria boca, numa entrevista ao SBT dia 29 de junho, Dilma tomou uma certa distancia do plebiscito: “o que é importante para mim é manter a unidade dos que me apóiam. São parlamentares, movimentos sociais, intelectuais, que têm opiniões diferentes. Se os 27 senadores propuserem isso para mim vou endossar. Mas eu não vou tomar essa iniciativa, como sendo minha. Em qualquer hipótese, para se afirmar a democracia, passa por um requisito: a minha volta à Presidência da República, com plenos direitos”.
“Não tomo como minha“, portanto.
Assim, hoje, ademais da critica política determinante ao seu caráter conciliador e desmobilizador, o plebiscito está “virtualmente descartado, tecnicamente quase inviável”, segundo o insuspeito jornal Valor (30/6): o decreto-legislativo do plebiscito precisaria ser apresentado por um terço do Senado e da Câmara, para depois ser aprovado pela maioria absoluta do Congresso (Temer se dispondo a puxar o carro…).
Carta Compromisso
Na saída da reunião no Alvorada, o presidente do PT, Rui Falcão, confirmou à Agencia PT a intenção de Dilma apresentar “novos compromissos com o país através de uma carta aos brasileiros, examinada com os partidos que a apóiam e também as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo”. Ao que parece, no próximo dia 5.
Ainda segundo o jornal Valor, Dilma anunciaria que “se voltar ao cargo, vai retomar o programa que apresentou na campanha eleitoral”.
Esperando que se confirme, sem superestimar a sua amplitude, mas no espírito de “nenhum direito a menos”, a renovação por Dilma de compromissos com o povo trabalhador, por exemplo, com a reforma política através da Constituinte, entre outros, é, de fato, uma necessidade.
É crucial para dialogar com setores populares, cuja confiança foi abalada pelo ajuste fiscal.
Ajudaria a ampliar a mobilização e derrotar o golpe que visa destruir ainda mais direitos e garantias, o que é a tarefa da hora.
Markus Sokol
Artigo publicado na edição nº 789 do jornal O Trabalho nº 789 de 1 de julho de 2016