Doações eleitorais: “follow the money” … e vai encontrar quem manda nas campanhas…

Artigo de Markus Sokol extraído da página do Diálogo e Ação Petista.

A popular expressão inglesa “follow the money” -siga o dinheiro- é utilizada para encontrar a origem de algum fato extraordinário.

Ela explica também muita coisa do atual quadro eleitoral do Brasil, o que se deduz das doações eleitorais feitas a partidos e candidatos.

O site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou uma primeira parcial da prestação de contas em que foram computadas todas as doações, para todos os cargos e em todas as unidades da federação.A eleição mais cara da história já movimentou R$ 475 milhões até 29 de agosto.

O mais milionário dos beneficiários foi o PMDB, com R$ 109 milhões, um quarto do total! Seguido pelo PSDB com R$ 80 milhões, e o PSB com R$ 40 milhões.

E só em quarto lugar vem o partido de maior bancada no Congresso, o PT de Dilma, então favorita na corrida ao Planalto, com R$ 35 milhões. em seguida vem  o PP e do PSD com R$ 30 milhões cada.

“Para que nada mude”

Fica clara a vontade da maioria dos grandes doadores – algumas dezenas de grandes empresas nacionais e internacionais. São construtoras, bancos, empresas ligadas ao agronegócio, indústrias.

No mínimo, “mudar a distribuição do poder, quando se compara o valor arrecadado pelo PT com seu peso na Câmara”, diz o Estadão.
Mudar em favor do PMDB, o partido que participou de todos os governos federais dos últimos 30 anos, desde o fim da ditadura (com um intervalo no breve mandato de Collor).

O próprio jornalista, José Roberto de Toledo, diz: “A causa é a consequência: não importa quem vença o PMDB estará no poder”. E acrescenta, “é uma conexão orgânica, institucional – do poder financeiro com o poder de fato. Bancar o PMDB é uma maneira de assegurar que nada mude”. E conclui: “Se não reverter logo a falta de dinheiro, o partido (PT) corre o risco de uma derrota eleitoral histórica”.

O dinheiro não é neutro. E nesta eleição multimilionária joga para que “nada mude” e diminui para o PT que hoje, diferente dos anos 80, em boa parte depende dessas doações: o uso do cachimbo deixa a boca torta!

A fragilização do PT é perigosa. Outra diferença importante entre as doações ao PT e ao PMDB, é que 3 em cada 4 reais são arrecadados por candidatos do PT, enquanto que no PMDB é o contrário: 3 em cada 4 vão para as direções partidárias repassarem aos candidatos. Quer dizer, os doadores apostam na desagregação do PT.

Mais que nunca, Constituinte!

A situação não é desesperadora, pois foi o próprio PT quem levantou a luta contra o financiamento empresarial (defendendo o financiamento público de campanhas), um ponto central da reforma política que só uma Constituinte Soberana e Exclusiva fará.

Desse Congresso dominado pelo PMDB não se pode esperar o mesmo.

O PT e Dilma podem fazer deste limão uma limonada: abraçar a bandeira da Constituinte; colocá-la no centro do debate eleitoral, desde os programas de TV; tocar o sentimento popular de repulsa ao controle empresarial da política e assim, frustrar as expectativas do Estadão e fazer dessa eleição uma vitória histórica.
Abrir caminho para a Constituinte, e daí para as reformas populares, a reforma agrária, a reestatização, as verbas para o serviço público e não para o superávit primário, é o que se espera do PT.

Markus Sokol

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