No dia 4 de junho, em um evento na USP, seis ex-ministros da Educação apresentaram um documento na esteira da onda de manifestações contra o contingenciamento de verbas da Educação pelo governo Bolsonaro.
Os ex-ministros presentes serviram aos governos desde Collor (José Goldemberg), passando por Itamar Franco (Murilo Hingel) indo até Lula e Dilma (Cristovam Buarque, Fernando Haddad, Aloísio Mercadante e Renato Janine). A amplíssima “unidade” produziu um documento curioso, apelando a um suposto “consenso pela educação” que uniria de tudo desde partidos, fundações, universidades até “movimentos sociais ou sindicais”. Tal consenso, ao contrário do que os bem-intencionados poderiam imaginar, não se limita no documento apenas a ser contra o atual contingenciamento de verbas da educação. Não, ele vai mais longe.
O documento subscrito pelos ex-ministros defende várias políticas educacionais dos últimos 30 anos incluindo aí o “Plano Decenal da Educação” (1993/2003)” posto em prática por FHC. Ele é a continuação no Brasil – como o próprio documento explicita – da Conferência de 1990 do Banco Mundial” para a Educação que o inspirou.
A política dos últimos 30 anos
Os ex-ministros afirmam que “a educação básica deve ser a grande prioridade nacional” o que certamente pouca gente discordaria, mas emenda na sequência que “ela implica” em diversas questões, dentre elas a “inovação nos métodos, deslocando-se da ênfase do ensino para a aprendizagem”. Ou seja, a redução dos currículos da educação básica a um mínimo já que as obsoletas disciplinas (e com elas o seu conteúdo) não seriam mais necessárias. É a já velha diretriz emanada da Conferência do Banco Mundial de 1990 que em nome da aprendizagem de “habilidades” deixa para trás o conteúdo das disciplinas.
Essa é a política educacional – é importante notar – por trás da famigerada reforma do ensino médio promovida por Temer no final de 2016. A reforma que retirou a obrigatoriedade do ensino de todas as disciplinas no ensino médio em lei, deixando apenas a matemática e português. Aliás, o próprio José Mendonça Filho (DEM) ministro da educação do governo golpista de Temer foi convidado para assinar a carta e participar do evento, segundo matéria do site do “El Pais”, mas acabou declinando.
O documento concluiu com a proposta de construir “uma frente ampla em defesa da educação”, mas acaba misturando alho com bugalhos. Uma coisa é a necessária e urgente unidade de todos aqueles que defendem a Educação contra os cortes promovidos pelo governo Bolsonaro. Outra coisa – contraditória com a defesa da educação – é forjar um “consenso” que inclui as políticas destrutivas do Banco Mundial para educação.
Cristiano Junta