Objetivo de Stálin era impedir a continuidade da 4ª Internacional fundada em 1938
Em 20 de agosto de 1940, Leon Trotsky foi golpeado de morte por um agente de Stálin, vindo a falecer no dia seguinte em Coyocán, periferia da cidade do México, onde se encontrava asilado desde 1937.
Ao lado de Lênin, líder da Revolução Russa de 1917, comandante do Exército Vermelho que venceu a guerra civil que se seguiu à tomado do poder pelos bolcheviques, Lev Davidovitch Bronstein, seu nome real, morreu aos 60 anos, depois de uma intensa vida militante na luta pelo socialismo.
Sua contribuição política e teórica à luta pela emancipação da classe trabalhadora e de toda a forma de opressão, tendo como base a defesa do marxismo, foi inseparável da sua ação militante no seio do movimento operário russo e internacional. Trotsky afirmava, nos últimos anos de sua vida, que a sua principal tarefa, aquela que pelas circunstâncias históricas o tornou “insubstituível”, foi a constituição da 4ª Internacional, em setembro de 1938, para assegurar – diante da falência e traição da 2ª Internacional (social democrata) e da 3ª Internacional, burocratizada e colocada a serviço da política contrarrevolucionária do stalinismo – a continuidade do marxismo, ferramenta indispensável na luta contra o imperialismo (“etapa superior do capitalismo”, na fórmula de Lenin) e pelo socialismo (“a expropriação dos expropriadores”, como dizia Marx)
A conciliação de classes prepara a derrota
O abandono dos princípios de independência de classe e internacionalismo, com a adoção de políticas de conciliação de classes com a burguesia pelas direções das 2ª e 3ª Internacionais, em situações de aguda crise do sistema capitalista – a eclosão da 1ª Guerra mundial em 1914 e o processo que desemboca na 2ª Guerra mundial (1939-1945) – foi o elemento determinante para transformá-las em instrumentos supletivos do imperialismo para sufocar a luta revolucionária da classe operária e dos setores oprimidos.
Num momento em que, no Brasil, atravessamos uma crise econômica, política e institucional aguda que acua o governo Dilma, governo de ampla coalizão com partidos burgueses, depois de 12 anos de presença do PT à cabeça de governos de conciliação de classes, as lições deixadas por Trotsky ao analisar o fenômeno das Frentes Populares nos anos 30, guardadas as proporções e momentos históricos distintos, permanecem atuais.
Em “Aonde vai a França” (1936), Trotsky explica que: “A ‘Frente Popular’ é uma coalizão do proletariado com a burguesia imperialista, representada pelo Partido Radical e outras podridões da mesma espécie e menor envergadura, coalizão que se estende ao terreno parlamentar. Em ambos os terrenos, o Partido Radical conserva toda a sua liberdade de ação e limita brutalmente a liberdade de ação do proletariado… A tendência geral das massas trabalhadoras, incluídas as massas pequeno burguesas, é completamente evidente: ir para a esquerda. A orientação dos chefes dos partidos operários, não é menos evidente: ir para a direita. Enquanto as massas, pelo seu voto e sua luta, querem derrubar o Partido Radical, os chefes da frente única, pelo contrário, querem salvá-lo”.
O freio da colaboração de classes tem como consequência a desmoralização das massas e prepara o terreno para a tomada do poder pela direita. Nos anos 30, pelo fascismo, em outros momentos históricos, como no Chile dos anos 70, por golpes militares como o de Pinochet que, nunca é demais lembrar, foi colocado por Allende no comando das forças armadas.
O Programa de Transição (1938), depois de afirmar que “Frentes Populares de um lado e fascismo de outro, são os últimos recursos políticos do imperialismo na luta contra a revolução proletária”, agrega que “do ponto de vista histórico, estes dois recursos são apenas ficções”, pois “a putrefação do capitalismo continua” e só a “derrubada da burguesia pode oferecer uma saída”. O que se liga à afirmação de que: “A orientação das massas está determinada, de um lado, pelas condições objetivas do capitalismo que se deteriora; de outro, pela política traidora das velhas organizações operárias. Destes dois fatores, o fator decisivo, sem dúvida, é o primeiro: as leis da História são mais poderosas que os aparelhos burocráticos“.
Ou seja, a luta da classe trabalhadora contra a exploração do capital seguirá sendo o fator determinante para encontrar uma saída para as crises provocadas pela política de conciliação de classes das direções, e de forma mais geral para a própria crise da humanidade.
Júlio Turra
O fio de continuidade da 4ª Internacional
Uma expressão da continuidade do combate da 4ª Internacional é o ato convocado pela sua seção francesa, Corrente Comunista Internacionalista (CCI), que constrói com outras correntes o Partido Operário Independente (POI), para 29 de agosto no túmulo de Leon Sedov (filho de Trotsky) no cemitério Thiais em Paris. Na convocatória, publicada no jornal “Informações Operárias”, podemos ler:
“Após a crise de dispersão da 4ª Internacional de 1951-53, provocada por aqueles que pensavam serem os ‘chefes’, por dirigirem o secretariado internacional e se opunham à maioria da direção francesa, à qual queriam proibir a aplicação de suas decisões majoritárias, a seção francesa foi reduzida a um grupo de cinquenta militantes ao redor de Pierre Lambert.
A luta contra o pablismo (corrente de adaptação ao stalinismo dirigida pelo secretariado internacional) exigia clareza. Assim, depois que em 1954 teve inicio a guerra da Argélia, que em 1956 eclode a revolução húngara dos conselhos e que em 1958 De Gaulle chega ao poder. Lambert propõe interromper a publicação semanal de ‘La Verité’, pois ela não correspondia ao estado das forças trotskistas. Para Lambert era preciso parar de afirmar artificialmente que o PCI (Partido Comunista Internacionalista, nome da seção francesa à época) já era o partido revolucionário acabado. Inicia-se então a publicação de ‘Informações Operárias’ como ‘tribuna livre da luta de classes’. Correspondia a que o pequeno núcleo de trotskistas deixasse de ser um grupo de propaganda e passasse a se implantar no movimento operário.
Não seria apenas a afirmação de posições justas que construiria o partido. Era preciso também encontrar as vias e meios para fazê-las penetrar na classe operária, através de um trabalho com militantes sindicalistas ou anarco-sindicalistas que, sem compartilhar a posição dos trotskistas, estavam dispostos a discutir e agir.
‘Informações Operárias’ foi o órgão histórico do combate que assegurou o fio de continuidade com os fundadores da 4ª Internacional. Anos depois, Pierre Lambert, retomando o que Trotsky constatou às vésperas da 2ª Guerra Mundial sobre o isolamento dos trotskystas, afirmou: ‘Não, não somos mais exilados no seio de nossa própria classe’. Em 29 de agosto vamos nos reunir para afirmar a continuidade do combate dos fundadores da 4ª Internacional, do combate de Pierre Lambert e seus camaradas que colocaram ‘Informações Operárias’ no coração da construção da 4ª Internacional”.
Artigos publicados na edição nº 771 do jornal O Trabalho de 13 de agosto de 2015.