Ninguém imaginava que uma emenda à “lei sobre os fugitivos” levaria a três manifestações de mais de um milhão de pessoas e a uma greve geral em 5 de agosto. A exigência é a retirada da emenda, além de outras “cinco demandas” democráticas, em total oposição ao governo central de Pequim.
Depois de, em julho, aceitar suspender o projeto de extradição para a China continental, a chefe do executivo de Hong Kong acabou anunciando sua retirada por completo após a greve geral das associações de estudantes e da Confederação dos Sindicatos de Hong Kong (HKCTU). A burocracia chinesa entrou em pânico diante do perigo de uma explosão das massas na própria China continental.
Entre os diversos componentes do movimento pela democracia em curso em Hong Kong está a Frente dos Direitos Cívicos, impulsionada por dirigentes do Partido Democrata, composto por vinte e nove organizações não governamentais (incluem independentes de Pequim e do executivo de Hong Kong) e as associações estudantis.
Desaceleração econômica
Os inúmeros conflitos sociais na China continental expressam o borbulhar da classe operária chinesa, confrontado com a desaceleração da economia provocada pela guerra comercial desencadeada pelos EUA contra a China. É o que evidencia o bloqueio por motoristas em Shenzhen, cidade contígua a Hong Kong, em 19 de julho passado.
Lembremos que Hong Kong fora uma colônia do imperialismo britânico dentro do território chinês até 1997. Mas mesmo após retornar ao seu domínio, a burocracia do Partido Comunista Chinês aceitou que a cidade mantivesse um sistema administrativo próprio, com certa autonomia (ainda que limitada). Afinal, Hong Kong é o principal centro financeiro chinês, porta de entrada dos vultosos influxos de capitais mundiais.
Para evitar maiores ruídos, ainda mais neste ponto tão nevrálgico, Pequim decidiu adiar o envio de regimentos do Exército Chinês por ocasião da ida da chanceler alemã Merkel à China, logo no início de setembro. Mas a repressão ainda é esperada.
E, no entanto, milhares de pessoas marcharam no centro de Hong Kong em 8 de setembro. Grupos, minoritários na massa, agitavam bandeiras americanas imaginando estimular Washington a defendê-los contra as autoridades chinesas. Trump, de fato, diz apoiar as manifestações. É que o imperialismo dos EUA procura usar Hong Kong na pressão econômica sobre Pequim, sempre para obrigar o PC chinês a passar da gestão pública do capitalismo, base dos privilégios da burocracia, ao acesso sem restrições dos capitais americanos ao mercado chinês.
A burocracia chinesa é assim apanhada nas malhas da pressão do imperialismo dos EUA com a guerra comercial e aquela da classe operária chinesa à qual o levante de Hong Kong indica um caminho.
Cinco Reivindicações
As associações estudantis bem como a HKCTU lançaram declarações públicas após o anúncio da retirada do projeto. Acusam o governo local de rejeitar investigar a repressão ao movimento (tanto da polícia, quanto de grupos paramilitares a ela ligados), que matou oito manifestantes e feriu centenas. Afirmam que continuam as mobilizações até o atendimento das “cinco demandas” (retirada completa do projeto de lei sobre extradição, criação de uma comissão de inquérito independente sobre violência policial, a libertação de todos os manifestantes presos, o cancelamento da qualificação de “motim” e o sufrágio universal).
Correspondente