Manifestações e manifestos

Sinais de corrosão do governo Bolsonaro se intensificam. Mas nem todos indicam a mesma direção.

Aumentam as mobilizações e atos presenciais de sindicatos – não apenas os das categorias essenciais – e de movimentos populares pelas reivindicações, combinadas com o Fora Bolsonaro.

Nas ruas começam a surgir manifestações para colocar fim ao governo Bolsonaro, como em Manaus em 2 de junho. No último dia 31, puxadas pelas torcidas organizadas elas ocorreram em várias capitais. No próximo dia 7, agora com o apoio do PT, de movimentos populares e sindicatos, novas irão ocorrer.

Estas manifestações, destacando a defesa da democracia e o Fora Bolsonaro, são organizadas por jovens e trabalhadores que sentem na pele o efeito das desigualdades escancaradas pela pandemia. O acidente que matou um menino de 5 anos no Recife, filho de uma empregada doméstica, não por acaso negra, obrigada a passear com os cachorros da madame enquanto a madame fazia as unhas, é uma face repugnante e criminosa desta desigualdade, face nua e crua de uma classe dominante, saudosa dos 300 anos de escravidão.

Agora parte desta classe dominante, que não hesitou em perseguir o PT, dar o golpe do impeachment e eleger Bolsonaro para seguir esfolando os trabalhadores, quer se apresentar com outra cara para salvar a pele.

No mesmo final de semana que as manifestações contra o governo voltaram às ruas, foi lançado o manifesto “Juntos”, assinado, entre outros, por Fernando Henrique Cardoso, empresários, e que tais, com maquilagem democrata, mas sem uma palavra sobre Bolsonaro. Um manifesto que está pouco se lixando para os trabalhadores que perdem direitos, empregos e salários. Para os milhões que não conseguem receber o auxílio de R$600,00. Para as empregadas domésticas, para os trabalhadores informais… Isto porque é assinado por muitos dos que apoiam a política que no Brasil e no mundo mostra, diante da pandemia, a criminosa face do capitalismo ao destruir serviços públicos, deteriorar as condições de trabalho e submeter milhões de seres humanos de todo o planeta a condições sub-humanas de vida.

O manifesto, saudado em editoriais dos jornalões, afinal é a maquilagem que precisam para deixar tudo como está, não foi assinado pelo PT, embora alguns petistas tenham embarcado. Lula, numa dura e justa crítica, em reunião do Diretório Nacional do partido, alertou que toda vez que o povo começa a se manifestar para mudar suas condições de vida, as classes dominantes se articulam para colocar um freio e deixar tudo como está.

Ao não se confundir com tal manifesto o PT ajuda as manifestações que retomam as ruas pelo fim do governo.

“Ninguém aqui esquece o receio de contrair a covid-19, mas coisas precisam mudar”, disse um manifestante nos protestos que há 10 dias tomam conta das ruas dos Estados Unidos, depois do assassinato de George Floyd. De epicentro da pandemia, os EUA agora tornam-se o epicentro das mobilizações em repúdio ao assassinato e em defesa dos direitos em cada país. O Brasil vai sintonizando-se ao relógio da luta da classe no mundo, afinal aqui também as coisas precisam mudar. Com os cuidados sanitários diante da pandemia e a ousadia para avançar na luta contra o vírus mortal do capitalismo. Viva a retomada das ruas! Fora Bolsonaro!

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