Na crise do PT, não há saída fácil

Mas sem fim do PED não há renovação

Na crise do PT, atacado de todos os lados, inclusive de dentro, não há saída fácil. A militância está questionando, em parte perplexa: a maioria quer antecipar a renovação da direção – que deveria renunciar – quer discutir a crise e corrigir a política.

Uma coisa, contudo, é certa: mantido o PED, o processo eleitoral direto, conduzido pela atual direção, não haverá renovação de fundo.

Em parte, porque a regra do voto em urna de 2001 agravou os problemas do partido de massas que virou “de massa de manobra” com todos vícios da corrupção institucional no país e a militância foi reduzida a eleitora. E, em parte, porque é no PED que se montam os maiores grupos, coalizões de mandatos e dirigentes que não querem largar o timão nem com o barco afundando. Renunciar, então, nunca!

A corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a maioria, agarra-se à defesa mesquinha do PED, cujo argumento novo é que foi validado no Congresso de Julho de 2015, em Salvador. Como se depois não tivesse tido o impeachment e o desastre eleitoral. Como se ninguém repensasse sua experiência!

É evidente que o PT tem que dar a palavra à militância em encontros deliberativos desde a base para eleger as direções, como foi metade da sua história. Essa é a posição do Diálogo e Ação Petista.

Acontece que na CNB há quem cansou do PED, mas hesita em se diferenciar da maioria.

O bloco “Muda PT”, por sua vez, crítica o PED, às vezes propõe seu fim, noutras vezes deixa a porta aberta, mas há quem ameace sair do PT em caso de PED. Renunciar seria para os outros…

Situação extraordinária

Há um risco de racha ou desagregação que deixaria os trabalhadores ainda mais desguarnecidos. Uma eventual prisão de Lula com a Executiva sem autoridade aumenta o risco. Por isso é preciso firmeza, mas clareza no que se busca.

Nós somos incondicionais pela defesa do partido atacado pelas instituições pró-imperialistas.

O PT em crise tem um Estatuto: os delegados de Congresso são eleitos em um PED. Não resolve a crise rasgar o Estatuto (como alguns ameaçam).

Ao mesmo tempo, uma situação extraordinária como a atual pede soluções extraordinárias (a renúncia ajudaria). Tanto que Lula começou a se movimentar para construir uma proposta.

No caso, a primeira responsabilidade é da maioria: a CNB. É um crime aferrar-se ao PED, argumentando com a “modernidade” das cotas, novas pautas etc. vendidas nos últimos congressos e deu no que deu. Aprofundou a crise da qual a própria CNB não tem como escapar. Ela deveria construir a alternativa – para nós, congresso baseado em encontros de base.

Não sabemos o resultado da crise, nem como o congresso será convocado no Diretório Nacional convocado para 9 e10 de novembro. Lutando pela reconstrução do PT – isso é o que queremos – realimentamos essa perspectiva através do Diálogo Itinerante.

Markus Sokol


Os parlamentares do “Mudar” o PT?

Quando a Democracia Socialista (DS) decide radicalizar

A militância do PT, na maioria, quer antecipar a renovação da direção e retificar (mudar) a política do PT. Mas com qual objetivo?

40 parlamentares petistas, a maioria federais, decidiram divulgar um manifesto em que cobrarão a antecipação das eleições internas do partido, intitulando-se Muda PT. Temendo o peso da marca do PT nas próximas eleições, os parlamentares admitiram até a criação de uma nova sigla, o que permitiria uma saída coletiva. Como a fundação de uma legenda exige tempo, o grupo decidiu se dedicar à criação de uma frente ampla, que nasceria da fusão do PT com outros partidos. Frustrada essa coalizão partidária, restaria a alternativa de fundar um partido ou deixar o PT”.  Na fusão, os parlamentares levariam sua “parte” do Fundo partidário e do tempo de TV.

Assim, a Folha de São Paulo de 17 de outubro resumiu essa reunião, no mesmo dia em que a plenária das correntes Mensagem ao Partido/Democracia Socialista (DS), Articulação de Esquerda, Militante Socialista, Avante e Esquerda Popular e Socialista – apesar de posições diferentes – decidia convocar um encontro “de todos que querem mudar o PT”, em 3 e 4 de dezembro. As duas coisas estão bem ligadas.

“Não tem como fazer política”

Como há parlamentares que só pensam em se reeleger, as eleições municipais estreitaram os seus horizontes. Procuram alternativas, escondendo o PT ou, no limite, fora do PT. Aí há os grupos que vem pilotar o processo.

Carlos Árabe, dirigente da Mensagem ao Partido/Democracia Socialista e membro da Comissão Executiva Nacional do partido, defendeu em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo de 17 de outubro uma “mudança radical”. Falando pelas “correntes da esquerda” diz que “impedidos de chegar às prefeituras porque levamos o rótulo de corruptos, assim não tem como fazer política”. Essa esquerda não se concebe fora de um bom espaço institucional. Árabe diz que “a autocrítica tem que começar por quem fez algo”. E, como não fosse a segunda força da direção, afirma que “a direção tem que provar que não houve nada errado ou pôr para fora quem fez”.

“Radical”, Árabe inverte o ônus da prova no estilo da Lava-jato: o acusado tem que provar a inocência. O juiz Moro agradece.

Difícil saber quem é mais oportunista, parlamentar desesperado ou dirigente que corre atrás. Irão até o ponto de dividir o PT.

Artigos originalmente publicados na edição nº 797 de 27 de outubro de 2016 do jornal O TRABALHO.

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