Um golpe de Estado no Níger, país localizado no centro-oeste da África, retirou do poder Mohamed Bazoum, em 26 de julho. Um grupo de militares anunciou, na televisão, em rede nacional, o fim do governo e a criação de um novo organismo: o Conselho Nacional pela Salvaguarda da Pátria (CNSP).
De acordo com um sindicalista nigerino entrevistado pelo jornal francês Informations Ouvrières, os militares “asseguraram respeitar todos os compromissos internacionais assumidos pelo Níger, assim como os direitos civis e humanos”. Esse mesmo companheiro descreve: “No dia seguinte, houve cenas de alegria em Niamei, Dosso e Tillabéry. Centenas de pessoas saíram às ruas para apoiar o golpe contra Bazoum” (leia a íntegra em www.otrabalho.org.br).
Uma situação complexa, com a derrubada de um regime rejeitado pelas massas e com os países imperialistas buscando intervir na nova situação. O Níger é uma ex-colônia francesa, que conquistou sua independência em 1960. Apesar disso, a França manteve uma força militar no país, composta atualmente por 1,5 mil soldados e armamentos de guerra. Trustes, como a Total e a Orano (ex-Areva), exploram há décadas o petróleo e o urânio, enquanto a população é mantida na miséria.
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que não toleraria “qualquer ataque contra a França e seus interesses” por parte dos novos governantes. Utilizando a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), a França cogitava uma intervenção militar no Níger. O governo dos EUA, porém, por meio do secretário de Estado, Antony Blinken, declarou que “não há solução militar aceitável”, expondo as contradições entre imperialismos que disputam a pilhagem da África.
Milhões nas ruas
De acordo com o sindicalista do Níger, dois dias após a tomada do poder, o general Abdourahman Tiani, presidente do CNSP, expressou “preocupações que fazem eco às legítimas aspirações dos nigerinos: a corrupção, a impunidade, a má gestão da crise de segurança e as libertações extrajudiciais de terroristas”. E completou: “No domingo [30], os nigerinos saíram em massa às ruas – quase 4 milhões de pessoas –, para apoiar as declarações do CNSP e dizer que não aceitaremos que a França […] intervenha militarmente nos assuntos do país”.
A intervenção militar, assim como as sanções econômicas, são meios que o imperialismo utiliza ou pode vir a utilizar. Com base na pretensa “luta contra o terrorismo”, as potências imperialistas atuam também em outros países da região, como Nigéria, Benin, Burkina Fasso e Mali. Contra isso, as nações têm a solidariedade e o apoio de trabalhadores e povos de todo o mundo, em defesa da soberania e do direito de cada nação decidir o seu futuro, sem a interferência estrangeira.
Cláudio Soares