Neste 19 de maio em Guadalupe prossegue o “julgamento da repressão sistemática”

Líder sindical e popular fala sobre audiência do processo que sofre, com acusações falsas

Em Guadalupe, colônia francesa no Caribe, onde há nove meses ocorrem manifestações contra a política do governo, no dia 7 de abril houve a audiência do processo em que Elie Domota, sindicalista e dirigente popular, é acusado de “violência contra autoridade pública”. Na verdade, ele é que foi agredido pela polícia (há vídeos que comprovam), numa das manifestações da revolta.

Domota, que é porta-voz do Coletivo Contra a Exploração (LKP) fala sobre a audiência e a perseguição de que é vítima.

“Fui convocado para o dia 7 de abril as 14h. A princípio, o promotor decidiu não aceitar o caso… sem pedir demissão. Eles vão nomear um juiz de instrução – que eles já tem escolhido. Para retomar o dossiê em sua totalidade e, ao fim, para construir um novo dossiê. E como a perseguição do processo contra mim é muito rápida, dá a eles a oportunidade (e é claro que eles não dizem isso, mas nós sabemos) para iniciar um novo dossiê e tentar nos prender a este ou aquele elemento e até tentar nos passar por bandidos, como pessoas que seriam responsáveis por ordenar ataques a joalheiras, etc., em Guadalupe. Toda a sala e, particularmente os advogados, viram o óbvio e se opuseram a isso, argumentando. A presidência do tribunal e seus assessores finalmente rejeitaram as recomendações do promotor. 

Os advogados da polícia estavam na mesma perspectiva do promotor, porque viram claramente que o arquivo era uma armação completa para me prender e julgar. Todo mundo viu as imagens. Todo mundo viu o que aconteceu. Por consequência, eles queriam “reparar os danos”, montando um novo dossiê com novas acusações e cancelar o que havia sido feito, enfim, marcar um novo julgamento.

Julgamento recomeça em 19 de maio

Hoje, nós vamos optar por citar um certo número de testemunhas, incluindo Gérard Bauvert, secretário do Comitê Internacional contra a repressão, sobre as questões de luta e solidariedade internacional. As outras testemunhas não terminaram de ser adicionadas. Elas serão em 19 de maio, quando o julgamento recomeçar. Eles tem testemunhado sobre fatos relacionados à violência policial, violência cometida pela polícia contra cidadãos de Guadalupe, individual ou coletivamente, durante as manifestações ou lutas sociais. Isso é muito importante porque todas essas intervenções destacam uma coisa: a violência cometida por um policial no exercício de suas funções nunca é sentenciada. E mesmo quando há uma acusação, nunca há uma condenação. Considerando quem foram quase assassinatos (Elie Domota cita muitos casos comprovados e, claro, o assassinato de pelo menos 87 pessoas em maio de 1967), nenhum policial é sentenciado. Também falamos sobre as prisões de novembro e dezembro de 2021. Os jovens foram presos e espancados pela polícia, com o objetivo de mostrar que a polícia, as forças de repressão, beneficiam em Guadalupe, com um cheque em branco, os termos de repressão e, sobretudo, que não há processos e nem condenação por essa justiça colonial. O julgamento continua em 19 de maio. Há outras duas testemunhas para ouvir e, claro, os argumentos dos advogados.

Tendo assistido o essencial, esta primeira audiência foi, do meu ponto de vista, um sucesso da nossa luta comum. Este não foi o julgamento planejado de Elie Domota, mas o julgamento da repressão sistemática do Estado colonial. Os testemunhos em sua diversidade foram implacáveis. Sua manobra falhou até agora e, a mobilização, tanto internacional quanto as massas reunidas em frente ao tribunal até as 23h, mostrou nossa determinação. 

É exatamente isso. Era o julgamento de seu sistema, o julgamento da repressão sistêmica.”

(Extraído do jornal francês Informações Operárias)


Campanha de solidariedade

Para a nova audiência, em 19 de maio, preparam-se manifestações nas embaixadas francesas e continua a campanha de moções a serem enviadas para:

• Agência Regional de Saúde de Guadalupe (ARS): ars971-direction-generale@ars.sante.fr

• Prefeitura de Guadalupe: courrier@guadeloupe.pref.gouv.fr

• Ministro do Interior: darmanin.gerald@interieur.gouv.fr

• Ministro da Justiça, A/CdaSecretária Geral do Gabinete:  veronique.malbec@justice.gouv.fr

• Com cópia para Associação dos Trabalhadores e Povos da Caraíba: atpc-caraibe@orange.fr

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas