Nova etapa do golpe

Antes de consumar o fracasso no que era a joia da coroa para o golpe, a contrar­reforma da Previdência, Temer abriu uma nova frente, num processo de militarização no país.

É certo que pode até haver lampejos eleitoreiros, mas seria um engano achar que foi uma jogada de marketing para ganhar popularidade.

A intervenção no Rio de Janeiro, decretada em 16 de fevereiro para vigorar até 31 de dezembro, abre uma nova etapa no golpe.

Não é um golpe militar, mas há uma nova combinação de elementos que avançam con­tra a democracia, para prosseguir na escalada desagregadora do país e nos ataques ao povo trabalhador. Afinal, no meio do caminho para aprovar a contrarreforma da Previdên­cia houve o dia 28 de abril, quando mais de 40 milhões de trabalhadores, atendendo ao chamado de seus sindicatos, pararam o Brasil para defender sua aposentadoria. E também se fortalece, junto ao povo traba­lhador, a perspectiva de um governo Lula para desfazer as políticas aplicadas pelos golpistas.

Frente a um Judiciário que avança sobre a política, e cada vez mais desmoralizado jun­to ao povo, um novo elemento se agregou. Os militares são chamados a agir no Rio de Janeiro e, desde lá, passam a falar à nação. E falando à nação, salientam a necessária colaboração do Judiciário para cumprir sua missão no Rio.

Com um governo fraco, batendo cabeças e sem conseguir um candidato com mínimas chances para as eleições de 2018, a burguesia tupiniquim, a serviço do capital financeiro, tateia alternativas.

Um degrau a mais na escalada golpista, a intervenção no Rio de Janeiro vem acom­panhada de outros ataques às liberdades, como a ofensiva do Ministério da Educação à autonomia universitária, no caso da Uni­versidade de Brasília.

A intervenção no Rio, cuja primeira víti­ma é o povo trabalhador das comunidades, avança um processo de militarização e de cerceamento das liberdades democráticas. Com ela, mesmo esse Congresso Nacional nada afeito aos interesses do povo, fica cer­ceado, não podendo votar nenhum projeto de Emenda Constitucional.

Mas este não é um filme já visto em déca­das passadas. Afinal, num país sob o golpe, os trabalhadores conseguiram dar o breque na contrarreforma da Previdência. Depois do golpe com a precedente e consequente perseguição a Lula e ao PT, cada vez mais é Lula e o PT que são vistos como saída para a nação.

A diferença entre o Brasil de hoje e o de 1964 é que a maioria trabalhadora dispõe de suas organizações para resistir. A reafirmação candidatura Lula e a disposição do PT, da qual não deve abrir mão, de não ter plano B – afinal “eleição sem Lula é fraude” – nem mesmo se a perseguição do Judiciário for capaz de colocar Lula na cadeia, é um ponto de apoio crucial para essa resistência. Daí que o PT com toda contundência, apoiado nas resoluções de seu 6º Congresso, cons­truir, em luta com o povo, a perspectiva de um governo Lula que, eleito, convoque uma Constituinte para que novas instituições reergam o país como uma nação soberana.

Daí também que uma questão se coloca para todos os partidos, dirigentes e organi­zações que se reivindicam da democracia.

Mais do que antes, a defesa do direito de Lula ser candidato concentra a defesa da democracia no país. Todo lugar aos Comitês em Defesa da Democracia e ao direito de Lula ser candidato! Comitês que agrupem amplamente a resistência nesta nova etapa. Ninguém que se reivindica da democracia pode abdicar desta tarefa.

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