
A intervenção das grandes potencias na Síria, em particular a dos EUA, consistiu em financiar e armar a oposição ao regime de Bashar Al-Assad.
Nessas nebulosas relações, destacam-se três grupos que operam na região: o Exército da Síria Livre, dito “oposição moderada”, hoje totalmente marginalizado, a Frente Al-Nosra (ligada à Al-Qaida) e o Estado Islâmico (Daesh, conforme o acrônimo árabe). Os dois últimos foram financiados principalmente pelas monarquias do Golfo. Com o tempo, a ajuda estatal foi substituída pela sustentação de ricos cidadãos do Quatar e da Arábia Saudita.
O EI administra um território de 200 mil km2, entre Síria e Iraque, com uma população de 10 milhões de habitantes. E para assegurar o funcionamento desse “califado”, o EI tem de pagar salários mensais de 500 dólares aos “combatentes”, pensões às famílias dos “mártires”, financiar a máquina administrativa, a gestão das cidades, as escolas, serviços de saúde, etc. Tudo isso exige a aquisição não apenas de armas mas, também, de medicamentos e materiais, nas rotas do comércio internacional.
O orçamento do EI está estimado em dois bilhões de dólares. Segundo a CIA, ele tem o controle de 15% dos poços de petróleo iraquianos, além de outros na Síria, com uma produção diária total de mais de 40 mil barris. Esse petróleo é exportado pelo porto turco de Ceyhan e vendido pela metade do preço nos mercados internacionais, auferindo cerca de 1,5 milhões de dólares por dia. Segundo a senhora Hybaskova, embaixatriz da União Europeia no Iraque, países membros da União Europeia compram esse petróleo. E para rentabilizar o dinheiro existente nos bancos das cidades que controla, o EI deve fazê-lo circular nos mercados internacionais.
Com efeito, os ricos emires do Golfo Pérsico ou os ricos financistas turcos contribuem para financiar os combatentes da Al-Nosra e do EI. Relatórios dos serviços secretos das grandes potências demonstraram que armas entregues pelos Estados do Golfo à grupos de oposição a Bashar Al-Assad foram para nas mãos das milícias do EI.
Artigo publicado originalmente na edição nº 777 do Jornal O Trabalho de 19/11/2015.