Chegamos aos seis meses de governo Lula. Ninguém em sã consciência esperava por milagres que revertessem o desastre que foi o governo Bolsonaro nesse período inicial. Mas, ao mesmo tempo, o governo encabeçado pelo PT aparece como refém do “Centrão”, que defende interesses opostos aos do povo trabalhador, que impõem limites à sua política.
Assim, embora Lula tenha uma posição soberana em relação à guerra da Ucrânia e mesmo que tenha adotado medidas corretas, como o aumento do salário mínimo, a retirada de empresas da lista de privatização e a retomada de programas sociais, no plano nacional o seu governo se caracteriza pela busca constante de acordos com o “mercado”, com o agronegócio, o que leva a um choque com os seus compromissos de campanha – sobretudo no caso do Arcabouço Fiscal – e em consequência com o povo que o elegeu. Um risco não desprezível.
Há quem argumente, como fez o ministro Marinho numa audiência pública em Minas, que seria necessário “pés no chão para lutar pelos avanços possíveis” diante de um congresso reacionário.
Ora, que estamos diante de um congresso reacionário, não há dúvidas. Em uma entrevista ao Jornal “O Estado de São Paulo”, concedida neste dia 15, o deputado Marcos Pereira (Republicanos), 1° vice presidente da Câmara, questionado sobre porque achava que o governo não conseguia construir uma base aliada na Câmara, vocalizou, com realismo, o que todo mundo deveria conseguir enxergar: “veja os números. Dilma Roussef teve 137 votos contra o impeachment (…). Depois, no governo Michel Temer e Jair Bolsonaro, a esquerda e a oposição a esses dois governos eram na casa de 130 a 140 votos. Vamos pegar como exemplo o PDL do Saneamento Básico. O governo teve contra a urgência 137 votos e contra o mérito 136 votos. Não passa disso. Mesmo o MDB e o PSD tendo três ministérios, vai depender da pauta”.
Nem os ministérios, nem os cargos no segundo e terceiro escalão, nem os milhões liberados em emendas parlamentares foram suficientes, pelo menos até aqui, para saciar a venalidade dos 300 picaretas comandados por Lira (PP-AL). E dificilmente serão. Eles respondem aos interesses do “mercado” em primeiro lugar e a si mesmos, em segundo lugar. Nunca servem ao povo.
Sequestram a execução do orçamento público. Mesmo sem emendas do “orçamento secreto”, cada deputado tem direito a R$32 milhões impositivos! E sempre que querem um pouquinho mais de grana ou que o interesse dos seus chefes está em questão, abrem sua caixa de ferramentas, para impor ao governo (e ao povo) todo tipo de derrotas, como se viu até no caso da organização dos ministérios. Fazem tudo sem o menor pudor de solapar a soberania popular.
A questão que se coloca então é a seguinte: será que, 10 anos depois de junho de 2013, para atender aos interesses do povo trabalhador e oprimido deste país, levará a algum desenlace positivo repetir a mesma política de “toma lá, dá cá” no congresso? De concessões ao mercado? De “pés no chão para os avanços possíveis”? Ou há outro caminho?
O emblemático caso da Colômbia, até aqui, é um exemplo de que há uma alternativa. O presidente Gustavo Petro, depois de ampliar a sua coalizão e ela se tornar um obstáculo para mudanças, resolveu convocar o povo a se manifestar nas ruas para exigir a aprovação de suas reformas populares. E o povo compareceu em massa para apoiar o seu governo!
O Brasil não é a Colômbia, mas aqui como lá, o povo trabalhador, quando convocado e organizado, tem disposição de luta. É o que comprovam, entre outros, os trabalhadores municipais de Florianópolis, que acabam de encerrar uma vitoriosa greve que enfrentou a truculência e a criminalização de um prefeito bolsonarista do PSD. Uma disposição que pode ser generalizada.