Seria o “lockdown” uma reivindicação dos trabalhadores?

Afinal, o que é “lockdown”? Em bom português, é o confinamento da população ou a quarentena. Diante da inação do governo Bolsonaro frente à pandemia e sua hostilidade ao “fechamento da economia”, por um lado, e, por outro, da ação desencontrada de governadores e prefeitos, o termo “lockdown” cobre situações diversas, seja o “fechamento total” de Araraquara (SP), sejam os “toques de recolher” à noite, com os transportes abarrotados durante o dia. Em todo o caso, trata-se de uma medida de governo ou de recomendações de especialistas e cientistas, diante do recrudescimento da Covid-19 no atual momento.

Em 11 de março, a executiva nacional da CUT reuniu-se para discutir uma proposta acertada com outras cinco centrais (Força, UGT, CTB, CSB e NCS) de transformar a jornada de luta de 24 de março por vacina, auxílio de 600 reais e Fora Bolsonaro num “dia de lockdown dos trabalhadores”.

“Não se confundir com os governos”
No debate, todas as forças minoritárias que compõem a instância registraram desacordo com essa proposta, bancada ao final só pela Articulação Sindical (maioria). João Batista Gomes e Marize de Carvalho, num texto dirigido à reunião (ver em cutindependentedeluta.wordpress.com), alertaram:

“Num país tão desigual como o nosso, a CUT defender ‘fechamento total da economia’ é colocar-se contra a grande maioria do povo que, abandonada pelo poder público, precisa sair de casa para não morrer de fome. Significa também aparecer como aliada ou fiadora das medidas de restrição de Dória e outros governantes, que são altamente polêmicas (…) podemos criticar ou não as medidas adotadas pelos governos neste terreno, analisar seus efeitos sobre as condições de vida e trabalho da nossa classe e a partir daí fazer reivindicações e exigências concretas, com toda a independência que uma organização sindical deve ter. Mas, não podemos nos confundir com governantes que querem salvar a sua cara falando em ‘lockdown’ para esconder a sua responsabilidade pela falta de uma política pública efetiva para combater a pandemia.”

A caravana passa…
Em 15 de março, enquanto no site da CUT se divulgava o “lockdown dos trabalhadores, em defesa da vida”, dizendo que em 24 de março era para “ficar em casa, sem trabalhar”, o site da Força Sindical noticiava a reunião dos presidentes das seis centrais com o governador Dória (SP), na qual, afirma Miguel Torres (FS): “Levamos nossa solidariedade a ele e aos demais governadores que estão sofrendo ameaças, inclusive de morte, pelas medidas mais restritivas e necessárias que estão adotando agora no combate à pandemia da covid-19”. O resultado da reunião, segundo Torres, foi que Dória “acertou a participação de representantes das centrais sindicais nas reuniões mensais de seu secretariado”.

Como se vê, não era infundada a preocupação com a independência sindical levantada na executiva da CUT. É urgente retomar o caráter independente e de luta dos sindicatos e da CUT, e não confundir-se com governos e participar de reuniões do secretariado de Dória numa operação política feita “por cima” e às costas da classe trabalhadora.

Lauro Fagundes

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