A Conjuração Baiana

12 de agosto de 1798 foi um marco na história do Brasil colônia, pois de todos os movimentos e revoltas emancipacionistas no país, a Conjuração Baiana foi a primeira e uma das principais quando levamos em consideração a participação das camadas populares mais exploradas e suas reivindicações. Além de exigir a independência do Brasil da coroa portuguesa, também defendiam o fim da escravidão, a igualdade racial e social. Frases como “Animai-vos povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz da vossa liberdade, o tempo em que seremos todos irmãos, o tempo em que seremos todos iguais” eram vistas em diversos pontos de grande circulação na cidade.

“A revolta dos Alfaiates”
Com uma participação bastante expressiva dos alfaiates, a Conjuração Baiana também ficou conhecida como “Revolta dos Alfaiates” e entre as suas principais lideranças estavam o mestre de alfaiate João de Deus Nascimento, o aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira e os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas Amorim Torres. Porém a participação popular foi bastante ampla, integrando-se na revolta homens brancos, negros livres e escravizados, assim como membros que transitavam na elite soteropolitana a exemplo de Cipriano Barata, médico e propagandista do movimento. Como muito dos integrantes utilizavam búzios para se identificar, ela também ficou conhecida como “Revolta dos Búzios”.

Além das ideias iluministas que influenciaram o movimento, principalmente por conta da revolução francesa, o processo de independência do Haiti, que foi a primeira república negra a conquistar a sua independência pela luta do seu próprio povo e há quatro anos antes (1794) tinha abolido a escravidão da ilha haitiana, tiveram grande impacto nas ideias dos líderes do movimento. O temor da coroa portuguesa era que não existisse uma “haitinização” no Brasil, ou seja, que os negros e as camadas populares não tomassem o poder no Brasil.

Em 12 de agosto de 1798, o movimento iniciou o dia cedo com distribuição de panfletos e colagem nos principais pontos de circulação da cidade de Salvador, porém isso alertou as autoridades, que de forma rápida conseguiram reagir e deter as principais lideranças.

Durante todo período de repressão, centenas de pessoas foram denunciadas das mais diversas camadas da sociedade como militares, clérigos, funcionários públicos, negros escravizados, além dos alfaiates. No dia 08 de novembro de 1799, foi levado a cabo a execução dos condenados a morte por enforcamento, daqueles que hoje representam o símbolo de resistência e luta do povo baiano: soldado Lucas Dantas do Amorim Torres; aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira; soldado Luís Gonzaga das Virgens; e mestre alfaiate João de Deus Nascimento. Hoje são homenageados com bustos na praça da Piedade em Salvador.

Entre os 49 envolvidos que foram denunciados e participavam da elite soteropolitana como Cipriano Barata, Hernógenes Aguilar (tenente), assim como os pertencentes à loja maçônica ‘’Cavaleiros da Luz’’, foram absolvidos. Os negros e pobres foram os principais condenados a punições, inclusive com suas três gerações familiares seguintes com a memória amaldiçoada publicamente.

Depois de mais de 2 séculos, o povo negro segue lutando por sua verdadeira liberdade, agora contra a exploração imposta pelo capitalismo, que se expressa de forma mais voraz no racismo que vivenciamos diariamente.

Viva os heróis da Conjuração Baiana.

Joelson Souza

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