Por Alberto Handfas
junho de 2021
Há oitenta anos atrás, a União Soviética era invadida pelas tropas nazistas. A ação da burocracia stalinista levou o país ao despreparo frente à iminente ameaça fascista. Com uma política externa de colaboração com imperialismo e interna de expurgos e liquidação física de toda vanguarda revolucionária e militar, por meio dos Processos de Moscou, no fim dos anos de 1930, Stalin levou criminosa e deliberadamente as defesas soviéticas à paralisia. Elas sofreram gigantescas baixas nas semanas e meses iniciais da II Guerra. Não fosse o heroísmo da classe trabalhadora soviética que, apesar de Stalin, levantou-se em defesa das conquistas de Outubro e de sua própria sobrevivência contra a chacina nazista, reagrupando-se no Exército Vermelho, o país teria sido liquidado.
Na madrugada de 22 de junho de 1941, a Wermacht (Forças Armadas da Alemanha nazista) lançou-se a uma estonteante invasão à URSS, chamada de Operação Barbarossa. Sem sequer declarar guerra, as tropas nazistas cruzaram as fronteiras com a União Soviética massacrando as desavisadas e, ao menos em parte, desmobilizadas defesas do Exército Vermelho. Nos cinco meses de duração da Operação, cerca de 4 milhões de soldados alemães e seus aliados do Eixo atacaram impiedosamente as forças soviéticas e a indefesa população civil.
O ataque, que se estendeu por uma frente de 2.900 km (quase a distância entre Porto Alegre e Recife), foi a maior operação de invasão militar na história da humanidade. Apenas nos seis meses seguintes, a URSS viria a perder para os nazistas territórios com enorme importância econômica, uma área quase equivalente à soma da Alemanha e da França atuais. Também apenas até o final de 1941, cinco milhões de soviéticos foram assassinados (para um milhão de baixas dentre as tropas do Eixo). Destes, quase três milhões eram militares, dois terços dos quais mortos em combate; sendo que os demais pereceram famintos ou doentes, fugitivos, ou em campos de prisioneiros nazistas. Ao todo, quase cinco milhões de soldados soviéticos caíram presos apenas neste primeiro semestre.
Somente no ano seguinte, após novo e mais profundo avanço nazista, é que o Exército Vermelho conseguiu finalmente retomar a iniciativa, reagrupar-se e reorientar-se para iniciar um lento e doloroso contra-ataque que duraria mais três anos e meio e custaria à URSS a vida de quase 10 milhões de seus soldados e 18 milhões de sua população civil. Além desses, mortos em combate, outros 10 milhões pereceriam por motivos indiretamente relacionados à guerra, tais como desnutrição, frio, doenças derivadas de crises sanitárias ou do colapso do sistema hospitalar. Isso num país que, às vésperas do conflito, tinha 196 milhões de habitantes (Um pouco menos que o Brasil atual).
Ataque sangrento e devastador
As divisões Panzer (de tanques) nazistas avançaram em velocidade e profundidade inimaginável, com as tropas soviéticas fronteiriças desavisadas ou proibidas (por ordem de Stalin) de agir preventivamente e as da retaguarda despreparadas, desorientadas e apenas parcialmente mobilizadas. Todas as grandes metrópoles, centros industriais e urbanos do oeste soviético foram caindo logo de início: já nas duas primeiras semanas Minsk, Smolensk, Vilna, Riga e Talin. E algumas poucas semanas depois, Kiev, Odessa e tantas outras. Em 8 de agosto, forças nazistas abriram importantes flancos nas defesas russas e em meados daquele mês, o 4º Grupo Panzer avançou sobre a periferia de Leningrado – com importância estratégica, além de simbólica, por de ter sido o centro da Revolução de Outubro – e montou um cerco a 48 km da cidade, que ficaria a partir de então sitiada por mais dois anos e meio.
Sob ataque incessante, mais e mais divisões do Exército Vermelho eram encurraladas, sofrendo pesadas perdas de tropas e armamentos. Tentativas corajosas e ousadas de contra-ataques chegaram a ser montadas às pressas – sem sucesso, ainda que resultassem em pesadas perdas aos dois lados. Mas a despeito da valentia e determinação, as tropas soviéticas enfrentavam enormes dificuldades de coordenação. Frequentemente perdiam comunicação com seus comandos e acabavam forçadas a retiradas desordenadas, rendições ou fugas desesperadas. Em setembro, o comando alemão – percebendo as dimensões da desorganização junto às atônitas fileiras inimigas – iniciaram o ataque a Moscou implementando a pré-planejada Operação Tufão.
Em 13 de outubro, o 3o Grupo Panzer penetrou fundo nas linhas de defesa da capital, pegas de surpresa. Isso permitiu às forças nazistas montarem na sequência um pesado cerco ao redor dos subúrbios ocidentais da cidade, a cerca de 80 km do Kremlin. Uma mudança brusca no tempo (neve e chuvas fortes criando lamaçal e dificuldades de locomoção), contudo, forçou as divisões da Wermacht a retardar o assalto final à capital soviética – fornecendo tempo precioso ao reagrupamento das defesas da cidade. Nada que impedisse Hitler, de Berlin, fazer pronunciamentos públicos anunciando a iminente captura da capital soviética, enquanto correspondentes estrangeiros já consideravam o provável colapso do país.
“Espaço vital”: imperialismo contra a classe operária e a Revolução de Outubro
O comando nazista havia preparado a Operação Barbarossa não apenas com a meta de conquistar território e recursos naturais e humanos, mas como uma guerra de aniquilação (Vernichtungskrieg) da União Soviética. Visava-se assim extirpar todos os vestígios da Revolução Russa de 1917. Afinal, essa era a missão histórica do regime nazista: ele havia alcançado o poder com o apoio da burguesia alemã, num último recurso em meio à crise, justamente para destruir o forte movimento da classe operária do país e liquidar a ameaça da revolução socialista que o rondava desde o final da I Guerra. Uma crise revolucionária já havia se aberto em 1918, com o surgimento de organismos de tipo soviéticos agrupando operários, trabalhadores, soldados e marinheiros, que só foi sufocado com o auxílio da socialdemocracia e a liquidação física de importantes dirigentes da classe trabalhadora, como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Um novo levantamento operário se realiza em 1923, mas é igualmente derrotado. Liquidar o movimento operário era então uma missão de primeira ordem do nazismo, o que determinava a necessidade de destruição da URSS e das conquistas da Revolução de Outubro.
O belicismo expansionista de Hitler era também saudado pelo grande capital imperialista alemão, ávido por novas fontes de matéria prima, mão de obra barata e novos mercados.
Mas muito além disso, num sentido histórico profundo, a ofensiva de Hitler à URSS foi em última instância uma resposta da classe capitalista internacional à crise de seu sistema e à ameaça da Revolução em todo o planeta em meio a forte agitação social dos anos do entreguerra. De Ford a Rockfeller, passando pela GM, Standard Oil, além de vários banqueiros norte-americanos e europeus: todos verteram nos anos 1930 não apenas simpatia velada, mas também vultosas doações, além de – em alguns casos – escancarado apoio político aos movimentos nazi-fascistas que se alastravam pela Europa. Governos burgueses, inclusive das “democracias ocidentais”, faziam vistas grossas à consolidação do regime totalitário hitlerista, na esperança de que este destruísse a URSS e eliminasse de vez o exemplo e a inspiração à luta por conquistas sociais e emancipatórias que a Revolução de Outubro oferecia às classes trabalhadoras do mundo todo.
O Plano Geral da Operação (Generalplan Ost), que fora detalhado um ano antes, estabelecia metas gerais do imperialismo alemão, destiladas pelo linguajar e método ultra-racista do nacional-socialismo. Visava expressamente promover a limpeza étnica dos territórios, com o extermínio de milhões de judeus e ciganos, a expulsão e a escravização das populações eslavas (russa, ucraniana etc) para permitir a “germanização” do país como parte da conquista do “Lebensraum” (espaço vital) à expansão do 3º Reich. Soldados alemães foram por meses doutrinados com verborragia ideológica anti-semita, anti-eslava e, sobretudo anti-bolchevique. Em discurso aos regimentos Panzer que atacariam Leningrado, o general Hoepner exortava a “não poupar nenhum aderente do atual sistema russo-bolchevique”.
Cientes das limitações quantitativas, em termos tanto de contingente (tropas) quanto de insumos (suprimentos) da Wermacht frente às capacidades muito maiores das forças soviéticas, o alto comando alemão baseava seu plano de ação num ataque rápido e fulminante. Uma guerra relâmpago (“Blitzkrieg”) que liquidasse o inimigo, muito maior, antes deste poder usar seus imensos recursos reservas. Tal estratégia não era segredo e fora utilizada com sucesso nas frentes ocidentais em 1939-40.
O retiro de Stalin
Foram necessários onze dias, desde o início da Barbarossa, para que Stalin fizesse seu primeiro pronunciamento à nação. Tendo sofrido uma crise nervosa ao receber a notícia da invasão, ele havia se retirado por uma semana, incomunicável, em sua “dacha” (casa de campo). O sistema de terror por ele sacramentado, no qual qualquer um que ousasse não lhe obedecer (ou mesmo agir sem consultá-lo) era executado, quase paralisou as ações do Politburo do Partido Comunista justamente no momento mais agudo da crise.
Ao reaparecer de seu retiro, Stalin reuniu seu Alto Comando (“Stavka”) e se auto-nomeou “Supremo Comandante”. Eles consideraram ali várias possibilidades, incluindo uma tentativa (totalmente ilusória) de paz com os invasores em troca da concessão de territórios – algo que Hitler não só rejeitaria, como desdenharia. Nos dois meses seguintes, a situação foi se tornando tão dramática que no início de outubro decidiram transferir a administração central do país a Kuibyshev, cidade em meio aos Urais a mil km de Moscou – sem oferecerem maiores orientações, ou mesmo informações ao povo.
Com relatos das frentes de batalha cada vez mais tenebrosos, Stalin aceitou nomear o general Zhukov ao comando do novo Exército da Frente Ocidental, cuja primeira tarefa seria a defesa de Moscou. Tratava-se de um dos raros líderes militares com algum preparo técnico a altura que sobreviveram aos expurgos de Stalin, como veremos mais adiante.
Disposição de luta das massas
Desde as primeiras semanas da invasão, trabalhadores moscovitas – homens, mulheres, estudantes e até idosos – engajavam-se em mutirões: construíram 8 mil km de trincheiras, valas anti-tanques e barricadas além de fixarem cerca de 300 km de arames farpados para defender a cidade do fascismo invasor (1). Eles e o resto da classe trabalhadora de todo o país voluntariavam-se aos milhões para servir nas frentes de batalha. Apresentavam-se em massa aos postos de recrutamento atendendo – e muitas vezes antecipando-se – ao chamado oficial do Exército Vermelho, cujo contingente saltou de pouco mais de 300 divisões em junho (de fato, menos de 260, já que nas primeiras semanas da invasão, 46 divisões foram totalmente destroçadas) para mais de 400 no início de agosto. Tal movimento, que mostrava a enorme disposição de luta da classe trabalhadora e do povo, manteve-se crescente até maio de 1945, na campanha da ocupação de Berlin (2).
Enquanto isso, a alta burocracia estatal e partidária, açodada com a orientação da Stavka, começa a evacuar a capital, empacotando pertences e materiais bem como lotando estradas e estações de trem – deixando a massa de trabalhadores para trás. Em algumas empresas, operários indignados tentaram impedir fisicamente que diretores e burocratas evacuassem. Recebendo notícias diárias sobre fuzilamentos em massa, estupros generalizados, queima de vilarejos com apropriação de grãos e animais e outras atrocidades executadas pelas tropas nazistas contra o povo comum nas regiões já conquistadas pela Wermacht, uma tensão explosiva contamina a população. A situação revoltosa – que parecia degenerar caoticamente (inclusive com saques) – ficou tão constrangedora que Stalin teve de voltar atrás (Clark, 1985). Após ter recebido garantias do general Zhukov de que era sim possível defender a cidade, Stalin proibiu a evacuação, declarou lei marcial na capital e emitiu um chamado oficial à “defesa de Moscou até o fim”.
Superioridade alemã ou disparate stalinista?
Mas como foi possível chegar-se a um ponto tão crítico e desastroso? Afinal, as forças nazistas não eram maiores que as soviéticas. A tabela abaixo mostra os contingentes operacionais de cada lado – apenas aqueles à disposição das batalhas concernidas à Barbarossa. Ainda que contasse com vantagens tecnológicas, a Wermacht perdia ao Exército Vermelho em número de tanques, aviões e soldados disponíveis (3).
Stalin apostou todas as fichas em sua crença de que os nazistas não atacariam, ao menos não naquele ano – pois respeitariam o Pacto Germano-Soviético (4). Não se trata apenas de um erro de cálculo do “Guia Genial dos Povos”, como Stalin era chamado pela propaganda oficial de seus aduladores nos Partidos Comunistas pelo mundo. O problema era de fundo.
Ao contrário de Hitler, que via tal Pacto como temporário e (oportunística e deslealmente) descartável, Stalin tinha ilusões em sua longevidade. Tal crença era decorrência natural da política stalinista mais geral de capitulação ao imperialismo (forma extensiva de colaboração de classes) – sempre orientada pela necessidade encarniçada de defender os privilégios da casta burocrática que, sob liderança de Stalin, usurpou o poder das mãos da classe trabalhadora soviética. Essa orientação substituiu a luta pela Revolução proletária internacional – ou mesmo pela defesa e avanço das conquistas dos trabalhadores soviéticos – que norteava a ação dos Bolcheviques durante os primeiros anos da Revolução Russa. O isolamento da Rússia Revolucionária, seu enorme desgaste após as Guerras Mundial e Civil (1914-21) e seu atraso sócio-econômico frente às potências capitalistas, adicionados à protelação da planificação/industrialização nos anos 1920, tudo isso contribuiu para o ocaso da democracia dos trabalhadores e sua substituição pela ditadura de uma casta de burocratas estatais que levaram à degeneração do Estado Operário soviético (5).
No contexto crítico que antecedeu a invasão nazista, ressaltam-se duas dimensões dessa política stalinista: os Grandes Expurgos do Exército Vermelho (1937-41) e o Pacto Hitler-Stalin (Ribentrop-Molotov) de 1939.
Os expurgos
Para implementar sua política usurpadora, que garantia privilégios às camadas dirigentes do aparato estatal às custas da opressão dos trabalhadores e camponeses, esvaziando o papel desempenhado pelos conselhos de operários, camponeses e soldados (sovietes), Stalin precisou expurgar centenas de milhares de dirigentes e militantes comunistas de primeira hora. Depois de condenar – sem provas, em tribunais fabricados entre 1936 e 38 – e executar quase toda a liderança política revolucionária do país, a camarilha stalinista avançou sobre a liderança militar. Sobretudo sobre os quadros militares mais experimentados, aqueles que apoiaram ativamente a Revolução de Outubro e por esse meio engajaram-se na construção do Exército Vermelho, criado e comandado (a pedido de Lenin) por Trotsky durante a Guerra Civil de 1918-21. Militares com anos de comprometimento à defesa da União Soviética, muito treinamento, capacidade técnica e autoridade junto às tropas, às forças armadas e ao povo não podiam ser aceitos por Stalin que, acima de tudo, os temia como perigosos rivais.
Começando em 1937 e avançando até a invasão nazista, Stalin mandou fuzilar (sempre sob acusações fantasiosas, sem qualquer prova ou processo devido) virtualmente todo o quadro militar que emergiu da Revolução de Outubro. No total, cerca de 30 mil oficiais e sub-oficiais do Exército Vermelho foram executados. Três dos cinco Marechais (generais 4 estrelas) foram executados, incluindo aí Tukhachevsky, o grande teórico-prático militar que elaborou a doutrina adotada pelo Exército Vermelho durante a própria II Guerra Mundial (6). Foram também expurgados entre 1937 e 1940, 87% dos Comandantes de Exércitos (generais 3 estrelas), 89% dos Almirantes da Marinha, 88% dos Comandantes de Corporações, 83% dos Comandantes de Divisões, todos (!) os Comissários de Exército e 89% dos Comissários de Corporação.
No lugar dos executados/expurgados a máquina stalinista foi promovendo, às pressas (e na véspera da invasão nazista e mesmo durante ela), oficiais novatos e inexperientes. Os promovidos, em sua maioria, eram pouco capacitados para executar e comandar manobras militares; muito menos para dirigir uma guerra-total contra a poderosa Wermacht. Esta, portanto, encontrou um Exército Vermelho quase acéfalo ao cruzar a fronteira da URSS. E o Estado Maior alemão sabia de tal fragilidade – os Expurgos Stalinistas não eram segredo, foram divulgados à exaustão na imprensa mundial – e levou-a centralmente em consideração na tomada de decisão relativa tanto ao desenho quanto aos prazos e ritmos da Operação Barbarossa.
Pacto Nazi-Soviético: acordo do granjeiro com a raposa
Se no início dos anos de 1930, Stalin e seu Comintern ditaram uma orientação ultra sectária aos Partidos Comunistas mundo afora – facilitando inclusive a ascensão do nazismo na Alemanha, ao dividir a classe trabalhadora (impedindo uma ação de frente única contra Hitler entre os partidos Comunista e Socialdemocrata), no período seguinte ele gira uma vez mais e procura alianças com as burguesias imperialistas. Não eram meros acordos pontuais, mas governamentais a subordinar ao programa inimigo a classe trabalhadora. Que esta perdesse sua independência de ação em todo o mundo, pouco importava à burocracia stalinista, contanto que tais acordos favorecessem sua estabilidade de poder e privilégios burocráticos. Isso foi implementado na política das Frentes Populares (França, Espanha etc). Mas Stalin procurava obstinadamente ir mais longe, tentando um pacto com o próprio nazismo.
Antes de tal acordo ser selado, Trotsky – exilado e perseguido por Stalin – comenta sobre tal tentativa: “Um acordo com um país imperialista – fascista ou democrático – é um acordo com escravagistas e exploradores. Um acordo temporário dessa natureza pode, é claro, tornar-se obrigatório pelas circunstâncias […] assim como é impossível dizer a um sindicato que ele não tem o direito, sob quaisquer condições, de assinar um acordo com o patrão. […]
Enquanto o estado operário [URSS] permanecer isolado, acordos episódicos com os imperialistas de uma forma ou de outra são inevitáveis. Mas [tal] questão se reduz a tirar proveito dos antagonismos entre duas gangues imperialistas, e nada mais. Não se [deve] disfarçar tais acordos [com] slogans idealistas comuns (“defesa da democracia”) – [o que levaria a] enganar os trabalhadores. É essencial que os trabalhadores nos países capitalistas não sejam limitados em sua luta de classes contra sua própria burguesia pelos acordos empíricos firmados pelo Estado Operário. Tal regra fundamental foi rigorosamente observada durante o primeiro período da existência da república soviética” (Trotsky, 1939a).
O problema, segue Trotsky, não é abstrato. Depende muito de quem assina o acordo e com quais propósitos (sobretudo no caso de um estado operário degenerado): “O governo de Lenin foi forçado em Brest-Litovsk a concluir um acordo temporário com Hohenzollern – com o único propósito de salvar a Revolução. O governo de Stalin é capaz de entrar em acordos apenas no interesse da camarilha governante do Kremlin e apenas em detrimento dos interesses da classe trabalhadora internacional. [Seus] acordos [com] as “democracias” significaram para os respectivos setores da Internacional Comunista a renúncia à luta de classes, o estrangulamento das organizações revolucionárias, o apoio ao patriotismo e, em consequência, a destruição da revolução espanhola e a sabotagem da luta de classes do proletariado francês. [O mesmo com relação a Chiang Kai-Shek na China ou ao governo polonês. Seus acordos] com uma burguesia estrangeira [são sempre e] imediatamente dirigidos contra o proletariado daquele país com o qual o acordo foi feito, bem como contra o proletariado da URSS… [Imaginem, então, o que pensa] um trabalhador revolucionário alemão, que, arriscando sua vida, está militando clandestinamente contra o nazismo e, de repente, vê que o Kremlin, que comanda grandes recursos, não somente não luta contra Hitler, como – ao invés – assina um acordo vantajoso [a Hitler] sobre a base de roubo internacional… Vale notar que em 20 de fevereiro, [quando ocorreu um ato de massas em Nova York] contra os nazistas americanos, os stalinistas (PC-EUA) se recusaram categoricamente a participar… O que há por trás dessa política?… Há algo novo, por exemplo, a última instrução de Moscou – recomendando aos Srs. “Antifascistas” que se amordacem para não interferir nas negociações entre Moscou e Berlim?” (idem).
Pacto imperialista e que não protege a URSS
Desde 1933, após a subida de Hitler, Trotsky notou em vários artigos que a burocracia soviética procurava um acordo com o governo alemão. Finalmente, em agosto de 1939, os ministros das relações exteriores da URSS e Alemanha assinam o Pacto Molotov-Ribbentrop. Molotov dava carta branca aos nazistas para invadir a Polônia, e assim iniciar a II Guerra Mundial. Garantia também que a URSS forneceria matérias primas e recursos naturais à Alemanha, indispensáveis à campanha de expansão bélica do 3º Reich. Tudo isso, em troca de uma vaga promessa de não agressão à URSS.
Alguns dias depois, Trotsky (que seria assassinado por um agente de Stalin em menos de um ano) explica que o Pacto foi realizado “não [simplesmente] porque Stalin teme Hitler. E não é por acaso que ele o teme. O Exército Vermelho está decapitado… A derrubada de Hitler seria possível com uma revolução vitoriosa na Alemanha [que] elevaria a consciência de classe das grandes massas na URSS a um nível muito alto e tornaria impossível a existência da tirania de Moscou. O Kremlin prefere o status quo, com Hitler como seu aliado… O Pacto Germano-Russo é uma aliança militar no sentido de que serve aos objetivos de uma guerra imperialista agressiva. Na última guerra, a Alemanha foi derrotada principalmente pela falta de matéria-prima da URSS. Não é por acaso que […] o pacto político foi precedido de um acordo comercial… O pacto de não agressão, ou seja, uma atitude passiva em relação à agressão alemã, é completado por um tratado de colaboração econômica no interesse da agressão… [de] Hitler [, que teve garantido] a possibilidade de utilizar matérias-primas soviéticas exatamente como a Itália em seu ataque à Etiópia utilizou o petróleo russo… Esta é a essência do Pacto… Hitler conduz as operações militares, Stalin atua como seu intendente” (Trotsky, 1939b).
A despeito de considerar a política stalinista criminosa, Trotsky nunca tergiversou quanto à necessidade da defesa incondicional da URSS, uma conquista da classe trabalhadora (um estado operário, ainda que degenerado), contra a agressão fascista e imperialista. Nos meses que antecederam seu assassinato ele escreveu vários artigos exortando a militância de esquerda e democrática a desenvolver tal defesa. Militantes comunistas soviéticos da Oposição de Esquerda, simpáticos ou defensores de suas posições, que estavam detidos nas prisões e campos forçados stalinistas, escreviam cartas às autoridades pedindo para manda-los às frentes de batalha, primeira linha de fogo, para que pudessem lutar contra os fascistas e defender a URSS.
O dogma cego de Stalin
Muito atarefada no extermínio de toda e qualquer ameaça interna a seu poder supremo, a camarilha stalinista desarmou a URSS para enfrentar a evidente (e repetidas vezes declarada por Hitler bem antes do Pacto) ameaça de ataque nazista. Ela passou os preciosos anos anteriores à Operação Barbarossa decapitando suas próprias forças armadas, eliminando lideranças políticas e populares e desmobilizando a nação com terror e opressão. Jogaram todas as esperanças na palavra de Hitler em cumprir o acordo “de não-agressão”. E Stalin se agarrou a essa vã esperança como um dogma inquebrantável a ponto de negar a luz do dia.
O fato é que chegaram a Stalin, com boa antecedência, inúmeras informações dos serviços de inteligência soviética bem como estrangeiras de que Hitler já havia decidido que invadiria a URSS no primeiro semestre de 1941. Já em 1938, o próprio Comintern (controlado por Stalin) havia denunciado publicamente um calendário – obtido pelos serviços secretos soviéticos de suas fontes infiltradas no Estado Maior Alemão – com as futuras conquistas de Hitler: a invasão da Polônia estava programada ao outono de 1939. A ela seguiriam-se Iugoslávia, Romênia, Bulgária, França, Bélgica até que, no outono de 1941, ocorreria o ataque a União Soviética (Trotsky, aliás, mencionara tal notícia no artigo acima citado) – um cronograma cumprido quase à risca!
Mais tarde, os espiões soviéticos Richard Sorge e Willie Lehmann obtiveram documentação bastante precisa (7). Sorge, tido como jornalista alemão de confiança pela embaixada alemã no Japão, enviara a Moscou ainda em dezembro de 1940 cópias da Diretriz secreta 21 assinada por Hitler que explicitava a primeira fase da Barbarossa. No início de junho de 1941, ele obteve tanto do adido militar da embaixada quanto de sua rede de apoio infiltrada no governo japonês, a data precisa da invasão (Trepper, 1975). O mesmo foi obtido por Lehman, membro da rede de espionagem da “Orquestra Vermelha” (8). Peças críticas de inteligência ainda mais detalhadas (local preciso dos bombardeios, número exato das divisões alocadas em cada setor da fronteira) foram rádio-transmitidas em código a Moscou, com semanas de antecedência, pelos agentes da “Orquestra”, L. Trepper e Schulze-Boysen, que operavam da França/Bélgica ocupadas e de Berlin respectivamente.
Stalin e Beria (chefe da NKVD) desdenhavam de tais relatórios rabiscando sobre eles “desinformação”. Quanto a informações similares também passadas pelos serviços da Inglaterra e dos EUA, Stalin acusava-as de serem apenas propaganda falsa de tais países para empurrar a URSS contra a Alemanha.
O historiador militar e agente aposentado da KGB, Arsen Matrosyan, fez um levantamento em arquivos desclassificados soviéticos: os serviços de inteligência haviam nomeado a data exata ou quase exata da invasão 47 vezes durante os dez dias que antecederam o ataque (Jackson, 2011). Missões soviéticas de reconhecimento aéreo identificavam, desde maio, forte movimentação militar alemã em direção à fronteira. Tendo sobrevoado a fronteira por 400 Km na direção sul-norte, um piloto (Major Gen. Zajkarov) apresentou seu relato em 18 de junho: “região oeste contígua à fronteira abarrotada de tropas… tanques, carros blindados e armamentos pesados – expostos, sequer camuflados… estradas com forte trânsito de carros e motocicletas militares” (idem). Apenas nos dez primeiros dias de junho, guardas fronteiriços haviam capturado 108 espiões e sabotadores do Eixo – e outros 200 nos doze dias seguintes. Ao menos três dos capturados (em locais diferentes) revelaram, ainda no início de junho, a data exata da invasão.
De sua parte, vários aviões da Luftwaffe (força aérea alemã) cruzavam a fronteira em voos de identificação durante todo o início de junho. Preparados para abatê-los, os comandantes dos distritos militares soviéticos da fronteira eram expressamente proibidos de agir pelo Alto Comando (sob ordens diretas de Stalin). Até a manhã do dia 22 de junho, passadas já algumas horas do início da invasão e sob fogo intenso alemão, alguns destacamentos fronteiriços mantinham-se paralisados – temerosos de contrariar as diretrizes de Stalin que, afinal, não se sabia se ainda estariam em vigor.
O general Zhukov – numa entrevista concedida em 1966 – conta que era óbvio a todo o Alto Comando militar soviético que a invasão Alemã fosse iminente e que ele pessoalmente “havia mostrado a Stalin mapas com as localizações por onde as tropas inimigas cruzariam a fronteira. Alguns dias se passaram e Stalin me chamou … ele tirou de uma pasta várias folhas e pediu-me para ler. Era uma carta para Hitler na qual Stalin [polidamente] descrevia sua preocupação com as movimentações alemãs [na fronteira] … Stalin então mostrou-me a resposta de Hitler (reproduzida no Pravda de 14 de junho): ‘Dou minha honra que grandes contingentes de minhas tropas foram enviadas à fronteira soviética apenas para não serem facilmente observadas pelos ingleses’”.
Stalin, assim, decidiu acreditar em Hitler e rejeitar todo o colossal amontoado de evidências de seus serviços de inteligência. Rejeitou os pedidos insistentes dos generais para deslocar e mobilizar em massa destacamentos extras à fronteira, não aprovou medidas emergenciais de prontidão a implementação de estratagemas defensivos e de contra-ataque. Até revide por guardas fronteiriços estavam proibidos. Qualquer dessas medidas, dizia, poderia parecer provocação a Hitler – servindo de motivo para romper o “acordo de paz”.
O organizador de derrotas
A propaganda e a historiografia oficiais soviéticas apresentaram por anos a fio Stalin como “o grande arquiteto genial da vitória” da URSS sobre a Alemanha, o impávido líder que vencera as mais heroicas batalhas: de Stalingrado a Berlin. Mesmo depois da revisão feita pela burocracia no final do anos 1950, ele seguiu sendo visto pelos PC’s e seus simpatizantes em todo o mundo como um “grande dirigente” que, a despeito de erros e de métodos exageradamente violentos, reconhecem, teria tido “um papel positivo” na derrota do nazismo e na defesa dos interesses da URSS (9).
Nada disso, contudo, se sustenta quando confrontado a qualquer estudo minimamente sério dos fatos históricos, em particular dos episódios que antecederam e levaram à Operação Barbarossa. Aliás, as novas revelações de arquivos soviéticos, permitem mostrar justamente o contrário. O nazismo foi derrotado, com enormes sacrifícios, pelas massas soviéticas que se agruparam no Exército Vermelho apesar de Stalin e essencialmente contra sua política.
Com tal política, aliás, a camarilha stalinista literalmente organizou derrotas que eram impostas à URSS e à classe trabalhadora (no país e no exterior). Foi sua política divisionista ditada ao PC alemão (1931 a 1933) que permitiu a ascensão de Hitler. Foi sua postura de capitulação que facilitou avanço expansionista nazista (1939 a 1943), desmoralizando a militância de esquerda no mundo todo. Foi a febril e criminosa paranoia stalinista que decapitou e desorientou as defesas soviéticas às vésperas da Barbarossa (1937-41).
O Exército Vermelho, com muito esforço e enormes riscos, foi capaz de recompor-se e esmagar o câncer nazista porque foi revigorado com o apoio do povo, determinado a defender suas conquistas – ainda não destruídas pela burocracia – contra a morte certa que trazia Hitler. Mas também porque, estudos atuais mostram, a partir de certo momento já em meio às ferozes batalhas, seus generais e oficiais – profissionais/técnicos militares (mesmo os novatos foram ganhando experiência e habilidade nas batalhas sangrentas) – começaram a operar sem (ou com pouca) interferência de Stalin e seu círculo de burocratas governantes (10). Algo muito raro, mas que ocorreu por imposição dura e desesperadora do fogo da guerra. A ação de Zhukov, Rokossovski e outros tantos comandantes são exemplos disso (Glantz, 1998).
A burocracia parasitária liderada por Stalin foi se transformando, passados alguns anos da Revolução de 1917, em um agrupamento contra-revolucionário. Enquanto excluía e assassinava a militância histórica (à esquerda e à direita no espectro do debate bolchevique) e arrebatava o poder, tornando-o cada vez mais absoluto em suas mãos, fingia ser líder da Revolução da classe operária – quando, de fato, a sabotava. Com o poder da máquina de propaganda e de terror policial e com seus batalhões de funcionários, ela logrou enganar muita gente honesta, comunistas combativos em todo o mundo.
A política de Stalin, independente das intenções suas e de seus apoiadores, ao ser implementada meticulosa e insistentemente, organizou – e quase conseguiu – a derrota final da URSS diante de Hitler em 1941. A vitória contra este em 1945 ocorreu apesar de Stalin e sua política – e só foi possível às custas de um enorme sacrifício humano, que poderia ter sido evitado se sua “genial” orientação não tivesse sido imposta.
Stalin não foi violento contra a burguesia e o imperialismo; ao contrário, era condescendente e servil a eles. Ele só se tornava violento e implacável contra a classe trabalhadora e sua militância revolucionária. Esta violência, aliás, decorria daquele servilismo, sendo usada justamente para impor à classe trabalhadora a política de subordinação à classe inimiga. Entre 1941 e 1945, a classe operária e o povo soviético impediram que a política da burocracia stalinista entregasse ao inimigo imperialista a principal aquisição dos trabalhadores do mundo inteiro até ali, a própria União Soviética.
Notas
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(1) A mesma mobilização de massas ocorria em Leningrado, Odessa e outras cidades sitiadas ou ameaçadas. Um ano depois isso se repetiu em proporções mais dramáticas em Stalingrado.
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(2) Durante toda a duração da Guerra, o Exército Vermelho recrutou cerca de 30 milhões de soldados – adicionados ao contingente de cerca de 5 milhões existentes no início da invasão nazista. Desses quase 35 milhões, 6,3 milhões foram mortos em combate, 4,5 milhões foram dados como desaparecidos ou capturados.
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(3) Nota-se que do contingente ativo de 5,8, milhões de soldados soviéticos, apenas 2,7 estivessem alocados/mobilizados na frente oeste da URSS durante a semana do ataque – os demais foram sendo remobilizados às pressas e/ou realocados à região nos dias e semanas seguintes. Além desses, outros 14 milhões de reservistas e jovens recrutas (em fase inicial de treinamento) foram sendo também mobilizados e enviados às frentes em substituição às pesadas baixas das primeiras batalhas (Glanz, 2001).
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(4) Acordo diplomático de não-agressão firmado em 1938 entre os chanceleres Molotov, pela URSS, e Ribbentrop, pelo governo da Alemanha nazista.
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(5) Stalin, ao aliar-se à Bukarin e formar maioria dirgente, foi o principal responsável pela protelação da política de planificação/industrialização durante a NEP (1922-29), favorecendo uma média-burguesia (sobretudo rural, mas não apenas) que ascendia. Ele esmagou a Oposição (não apenas Trotsky) que defendia prioridade àquela política. Com a grave crise econômica e política gerada por tal protelação, ele golpeou por completo a democracia nos 1930’s e grotescamente girou 180º, forçando uma coletivização/industrialização abrutalhada e ineficiente.
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(6) Os outros dois tinham sido promovidos marechais por Stalin durante os expurgos, justamente para substituir os demais. Voroshilov particularmente, não tinha qualquer preparo técnico ou autoridade junto às tropas, mas foi ativo chefe das execuções nos Expurgos militares.
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(7) Sorge e Lehmann tinham sido do Partido Comunista Alemão no entreguerras. Com a ascensão do nazismo, entraram na clandestinidade e, disfarçados, conseguiram se infiltrar no aparato nazista de onde repassavam informações estratégicas à espionagem soviética.
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(8) A “Orquestra Vermelha” (Rote Kapelle) era uma rede da Resistência anti-nazista que operava clandestinamente na Alemanha antes e durante a Guerra. Sendo composta por centenas de colaboradores, ativistas anti-fascistas em geral, ela – mais adiante – passou também a ter conexões com grupos clandestinos que se infiltravam no Alto Comando Nazista na Alemanha e em países sob sua ocupação. Uma fração de tal rede era diretamente ligada aos serviços de espionagem soviéticos. O seu nome foi “batizado” por operativos da contra-inteligência alemã (agentes da Abwehr) quando desbarataram-na, levando então ao fuzilamento de parte de seus membros, incluindo Lehmann e Schulze-Boysen, que trabalhavam no alto comando das SS (braço militar do partido nazista) e da Luftwaffe (Força Aérea alemã) respectivamente.
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(9) Em 1956, quatro anos após a morte de Stalin, Nikita Kruchev, o novo secretário do PC da URSS, apresenta ao final de seu 20º Congresso um “relatório secreto” que aponta os inúmeros de crimes cometidos por Stalin (ainda que Kruchev e seus colegas tivessem participado do grupo dirigente diretamente ligados ao ditador).
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(10) Já com a guerra avançada, as dramáticas demandas das circunstâncias forçaram uma flexibilização momentânea do terror stalinista junto ao Exército Vermelho, permitindo-o readmitir parte de seu pessoal expurgado. Milhares de militares saíam diretamente das prisões para engajarem-se nas frentes de batalha. Isso permitiu recompor em boa medida o desempenho operativo e de comando nos contra-ataques soviéticos.
Referências:
Clark, A. “Barbarossa: The Russian-German Conflict, 1941-45”. William Morrow; Reissue edition, 1985.
Glantz, D. “Barbarossa: Hitler’s Invasion of Russia 1941”. Tempus Publisher, 2001.
Glantz, D. “Colossus Reborn: The Red Army at War, 1941–1943”. University Press of Kansas, 2005.
Berg, S. “More Than A Dozen European Billionaires”. Forbes, abril 2019 (https://www.forbes.com/sites/maddieberg/2019/04/02/more-than-a-dozen-of-europes-wealthiest-billionaires-and-their-families-had-nazi-ties/?sh=5f4911bf6015; https://dogandlemon.com/sites/default/files/cars_nazis.pdf)
Jackson, P. “War warnings Hitler Stalin: Stalin ignored” in BBC (https://www.bbc.com/news/world-europe-13862135), 21/06/2011.
Trotsky, L. “O que está por traz da oferta de Stalin a um Pacto com Hitler?” (março 1939), 1939a.
Trotsky, L. “Sobre a guerra e o pacto Nazi-Soviético (setembro, 1939), 1939b.