A que ponto estamos chegando

Com mais de 90 mil mortos e de dois milhões e meio de infectados no Brasil, o país ocupa a triste posição de segundo lugar em óbitos e contágio num mundo onde mais de 17 milhões já foram infectados e centenas de milhares morreram.

São milhões de seres humanos, em particular aqueles mais vulneráveis, que não têm para onde correr em função das políticas dos governos que lhes jogaram em condições miseráveis e lhes tiraram serviços públicos. A essas milhões de vítimas somam-se os milhões de trabalhadores e trabalhadoras que estão vendo seus empregos e direitos escorrem pelo ralo.

Em todo mundo, governos e patrões aproveitam a pandemia para, nas palavras do governo brasileiro, “passar a boiada”, retirando direitos e suprimindo postos de trabalho. No Brasil, 52% da população economicamente ativa que está desocupada. A depender dos capitalistas, isto vai aumentar. Por exemplo, a multinacional francesa do setor automotivo, a Renault, quer suprimir, só na unidade do Paraná, numa tacada só, 747 postos de trabalho, numa política de reestruturação que prevê a supressão de 15 mil postos de trabalho desta multinacional pelo mundo. O motivo é o comum a todos os capitalistas. Na crise econômica, aguçada pela pandemia, vale tudo para preservar o lucro, num sistema parasitário que ceifa vidas e deteriora as condições de existência para prosseguir na especulação.

Mas aqui e mundo afora os trabalhadores, ainda que em situação muito defensiva, buscam a resistência.

Na França os trabalhadores da Renault e suas famílias estão em luta na defesa dos empregos. Os metalúrgicos da empresa no Paraná sustentam, há mais de sete dias, uma corajosa greve contra as 747 demissões.

No Chile, “menina dos olhos” do capital especulativo na América do Sul, depois de mais deuma década de luta os trabalhadores conseguiram impor uma primeira derrota, ainda que pequena, às parasitárias administradoras dos fundos privados de pensão. Enquanto se prevê que no pós pandemia (que ninguém sabe quando será) o número de desempregados e miseráveis aumentarão em todo mundo, com a América Latina sendo uma das regiões mais afetadas, em plena pandemia os ricos estão ficando mais ricos. No Brasil, 42 bilionários tiveram um acréscimo de U$S 34 bilhões em suas fortunas, num período em que a renda do trabalhador cai e os empregos evaporam.

Há um grito preso na garganta das camadas oprimidas e exploradas, “chega, não dá mais!”, que veem, desnudada pela pandemia, a política criminosa que nos trouxe até aqui, em benefício do lucro do capital.

Se este grito não pode se expressar, neste momento de pandemia, com a força que pode ter, o momento vai chegar. E sua construção está em curso.

No Brasil ela está na greve na Renault, na luta dos movimentos populares e sindicais contra a política de mais privatização dos serviços públicos, como na capital paulista, na resistência dos trabalhadores da educação que não aceitam a política suicida de volta às aulas, na exigência de testes dos trabalhadores da saúde, lutas que reportamos nesta edição.

Estas lutas locais vão criando a força para a luta maior. Frente à sabotagem governamental contra o povo, como os R$ 21 bi previstos para o combate à Covid-19 retidos no Ministério da Saúde, enquanto o Brasil é lanterninha em testes, é nestas lutas que se constrói a batalha para pôr fim a este governo genocida.

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