Em 17 de março, após duas semanas de protestos exigindo o fim do governo de Mário Abdo Benítez, a Câmara dos Deputados, cuja maioria é do Partido Colorado, arquivou o pedido de julgamento político (impeachment, mas mais rápido) feito pela oposição (liberais e Frente Guasú do ex-presidente Lugo), salvando assim Marito, como é conhecido o presidente, e seu vice Hugo Velázquez.
Do lado de fora do Congresso, manifestantes, a maioria jovens, gritavam “Fora Marito” e foram reprimidos, a sede do Partido Colorado foi incendiada. Em 18 de março, o principal jornal do país, o ABC Color, dava em sua capa: “Cartes salva Marito e seu governo corrupto”.
Horácio Cartes foi presidente entre 2013-18, é o homem mais rico do país e controla a maioria dos deputados colorados, partido que governa o Paraguai desde 1954 com o general Stroessner, com exceção do período 2008-12 de Fernando Lugo, que foi derrubado pelo Congresso. Ao não escutar o clamor popular pelo fim do atual governo, o parlamento joga mais lenha na fogueira.
No Paraguai (7 milhões de habitantes), 70% dos trabalhadores ganham menos de um salário mínimo (cerca de 1.700 reais) e 46% sobrevivem de trabalho informal, sem qualquer proteção social ou médica. Antes da Covid-19, que já causou cerca de quatro mil mortes, o país passou por uma epidemia de dengue e já sofria com falta de hospitais e medicamentos, com a corrupção, inclusive na venda de remédios, comendo solta. Com o rebote da pandemia e a falta de vacinas, o caldeirão explodiu.
“Explosão popular similar à do Chile”
Foi o que nos disse Bernardo Rojas, presidente da Central Unitária dos Trabalhadores-Autêntica (CUT-A) em entrevista de 13 de março publicada no PortalCUT: “É um movimento espontâneo, sem direção política reconhecida, uma explosão popular similar à ocorrida no Chile em 2019. Os políticos e parlamentares, inclusive da oposição, como os da Frente Guasú, são rechaçados nas manifestações e o que mais se ouve nelas é “que se vayan todos” (fora todos). A cidadania levantou-se contra o governo por não suportar mais a situação de corrupção, desprezo e ataques às condições de vida da maioria esmagadora do povo, o que ficou ainda mais patente com as medidas adotadas diante da pandemia”.
Na mesma ocasião Bernardo disse: “A ministra do Trabalho nos convidou para uma cerimônia com o presidente logo após a explosão popular (…) nós não participamos, porque queremos ficar ao lado do nosso povo, cuja mobilização é a única possibilidade de mudanças profundas em nosso país em benefício da ampla maioria”.
A CUT-A decidiu, numa reunião com entidades estudantis e movimentos camponeses, somar-se às manifestações. Em Caaguazu, Itapua e Misiones ocorreram manifestações puxadas pelo Movimento Agrário Popular (MAP), que é ligado à CUT-A, e se discute uma marcha até Assunção, para exigir a saída de Marito e seu entorno do governo nacional.
Toda força à luta do povo paraguaio para “que se vayan todos”!
Julio Turra