Na França, Macron derrotado

O segundo turno das eleições legislativas neste dia 19 foi uma paulada no presidente Macron, recém-reeleito há poucas semanas. Com 245 cadeiras, perdeu a maioria que tinha na Assembleia Nacional de 577 deputados. No sistema institucional da 5ª República, Macron ficou fragilizado, a ponto de capas de jornal e analistas falarem de “ingovernabilidade”. A direita gaullista encolheu, e a extrema-direita de Le Pen obteve 89 cadeiras. A abstenção chegou a 54%.

O partido de Jean-Luc Mélenchon, a França Insubmissa, deve crescer dos 17 atuais para, pelo menos, 70 deputados, à cabeça da coalizão Nupes, Nova União Popular, Ecológica e Social, formada nas legislativas com o PS, os Verdes e o PCF.

Abaixo, a fala de Mélenchon na noite da apuração.

“A erupção tem o rosto da União Popular”
“Olhemos o que está acontecendo. É uma situação inédita: a derrota do partido presidencial é total e não há qualquer maioria (parlamentar) à vista.

Atingimos o objetivo: em menos de um mês, derrubar quem com tanta arrogância torceu o braço de todos para ser eleito, sem que ninguém soubesse para quê.

A França se expressou, mas de forma insuficiente. O nível de abstenção ainda é muito alto. Isto significa que grande parte da população não sabe para que lado se virar. Tanto que os três blocos das eleições presidenciais continuam em proporções quase idênticas.

Acima de tudo, o fracasso eleitoral do macronismo é total. É o fracasso moral dessas pessoas que davam lições de moral a todos, afirmando serem a barreira à extrema-direita, mas que reforçaram as suas fileiras: de 65 casos (de circunscrições) onde disputavam a Nupes e o RN de Le Pen, em 52 casos os pregadores macronistas não deram uma orientação de voto. Isto os desqualifica a dar lições de moral a quem quer que seja.

Para todos vocês, minha mensagem é de combate. Em particular à geração jovem, que são os que clamam com mais força por uma ruptura com este mundo e suas regras de organização.

Vocês têm à sua disposição uma magnífica ferramenta de combate da qual foram privados por tanto tempo. Esta ferramenta são a Nupes, seus parlamentares, trabalhadores e trabalhadoras, de todos os tipos, de todas as regiões da França, chegando às dezenas na Assembleia Nacional.

O macronismo faliu e mergulhou o país em um impasse. Ouvimos que era uma questão de “superar as clivagens”. Não há divisões a serem superadas conosco, porque não somos do mesmo mundo, não temos o mesmo objetivo, não temos os mesmos valores, não acreditamos no mesmo futuro.

A grande erupção da história, das profundezas da França das rebeliões e revoluções, tem agora um rosto, o rosto do nosso coletivo, o rosto da União Popular.

Os desafios mais extraordinários vão se acumular, seja a mudança climática ou a grande crise financeira. De qualquer lado que vocês olhem este planeta moribundo, será necessário dar respostas fulminantes.

Nem por um momento abrimos mão de nossa ambição de governar este país e levá-lo a outro horizonte. Nem por um momento os trabalhadores vão desistir. Nem por um momento os jovens dirão que estão cansados.

Não duvidem de vocês mesmos. Nunca cedam à impaciência. Pensem que toda dificuldade tem duas faces: a que se opõe a vocês e a da oportunidade que ela lhe oferece. Quanto maiores as convulsões, maiores as oportunidades. A França é uma nação política, mesmo que se abstenha muito e se expresse pela abstenção.

Jamais desprezemos nosso povo. Ouçamos sempre com atenção tudo o que diz. Em sua paciência infinita ele mostrou que é capaz de julgar, decidir e avançar. Esse é o mandato que vocês têm esta noite.”

Correspondente

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