Governo de Israel amplia ataques aos palestinos

O novo governo israelense, presidido por Benjamin Netanyahu e composto por ministros abertamente racistas e fundamentalistas religiosos, foi rápido em pôr mãos à obra.

O novo ministro da Polícia (segurança nacional), Itamar Ben Gvir, acaba de cancelar a medida que permite que membros do Knesset (parlamento israelense) visitem prisioneiros palestinos.

Ele decidiu condenar qualquer exibição de uma bandeira palestina nos campi universitários. O mesmo Ben Gvir indicou que considera que 700 professores palestinos do interior (portanto dotados de cidadania israelense) têm “ideias antiisraelenses” e devem ser investigados porque concluíram seus estudos na Jordânia ou em universidades da Cisjordânia.

Há duas semanas, o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, assinou uma decisão de confiscar 40 milhões de dólares em impostos da Autoridade Palestina e transferi-los como compensação para as famílias de colonos mortos por “terroristas” palestinos.

A mídia ocidental relatou inúmeras declarações preocupadas com a mudança de regime no Estado de Israel. Para lançar alguma luz sobre essa nova situação, entrevistamos uma de nossas correspondentes na Palestina, Fatma Abu Gazal, ativista envolvida no movimento juvenil de Nazaré.

François Lazar

A mídia ocidental está preocupada com a mudança de regime em Israel e, mais especificamente, com a separação de poderes. Qual é a sua avaliação desta nova situação?
Fatma Abu Gazal:
O partido Poder Judaico liderado por Itamar Ben Gvir foi fundado em 2015 e conquistou 14 assentos nas últimas eleições do Knesset. Este resultado indica uma coisa, que é que a sociedade israelense está se movendo mais em direção ao fascismo e ao racismo. Se há algum agravante, podemos dizer que é a continuidade do que é o sionismo.

As ideias que Ben Gvir agora defende e quer implementar podem ser resumidas da seguinte forma: expulsar os palestinos da Palestina. Agora a polícia israelense e os guardas de fronteira estão sob seu controle.

Nesse contexto, já existem diversas manifestações em Israel mesmo contra esse novo governo. Haveria oposição israelense a esta política?
Alguns dias atrás, Ben Gvir fez uma rápida visita de 17 minutos ao complexo da Mesquita Al-Aqsa em Jerusalém. A mídia israelense disse que Ben Gvir usava um colete à prova de balas sob a jaqueta. Ele queria provar que não temia “as ameaças do Hamas”, mas estava sob escolta militar reforçada. É a sua forma de mostrar, como diz, que “os judeus são os donos da casa”. As reações a esta visita foram rápidas por parte dos Estados Unidos, da União Europeia e até da “esquerda israelita”. Muito claramente, eu quero dizer, e todos os jovens ao meu redor pensam o mesmo, que a maioria dos partidos israelenses, partidos de esquerda, direita e centro, não diferem em suas orientações da ideologia de Ben Gvir, mas diferem entre si próprios na sua implementação. Essas críticas e denúncias não foram feitas para defender os direitos dos palestinos ou a causa palestina. Para todos, trata-se de defender a imagem de um “Estado de Israel democrático, liberal e civilizado”. Eles sempre têm problemas com sua imagem. Os oponentes de Netanyahu querem dizer ao mundo: “Somos contra o racismo e as provocações de Ben Gvir contra os palestinos, especialmente na cidade de Jerusalém. Mas isso já acontecia antes. A ocupação colonial não é racismo? Colonização não é racismo? O muro de separação não é racismo, a segregação não é racismo? É claro que Ben Gvir, em nome do governo israelense, acaba de iniciar uma operação de guerra contra os palestinos, começando pelos de 48¹.

Vimos palestinos nas manifestações contra o novo governo de Netanyahu…
Eles são minoria ali e estão ligados aos partidos que fizeram acordo eleitoral com Yair Lapid, o principal concorrente de Netanyahu.

Esses partidos estão perdendo muitos de seus membros. Eles intervêm com base na defesa da “democracia israelense”. A mesma “democracia” que jogou Karim Younes na prisão por 40 anos. O acontecimento para nós é a sua libertação. Ele era o prisioneiro político palestino mais velho no interior. Partidos sionistas dizem que ele deveria perder sua cidadania israelense, mas ele não escolheu isso. Ontem, o Inspetor Geral da Polícia de Israel emitiu uma ordem proibindo a exibição da bandeira palestina em locais públicos. Os jovens compartilham a resposta de Sami Abou Shehadeh, primeiro líder do partido Bala², que respondeu a Ben Gvir: “Nossa bandeira é a bandeira palestina e nosso dever é agitá-la”. Nos protestos, como ontem em Tel Aviv (domingo, 8 de janeiro), as reivindicações foram no nível econômico, contra a reforma da Suprema Corte, mas não disseram uma palavra contra o apartheid e a ocupação. Dito isto, devemos considerar estes protestos importantes, porque eles mostram as profundas contradições que afetam a sociedade israelense, e as lutas dentro desta sociedade contribuem para enfraquecer o sionismo que é o principal obstáculo para uma verdadeira democracia baseada na igualdade de direitos de todos.

1 Os palestinos do interior se autodenominam “palestinos de 48”, em referência às fronteiras do Estado de Israel fixadas em 1948. Os palestinos da Cisjordânia e de Gaza são referidos como “palestinos de 67” – nota do editor.
2 O partido Balad (“pelo reagrupamento democrático e nacional”) luta na linha de um Estado para todos os seus cidadãos. Ele foi o único nas eleições do Knesset a condenar o apartheid israelense.


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Israel: 100 mil pessoas nas ruas contra o governo

Tel Aviv, Jerusalém, Haifa e outras cidades viram 100.000 manifestantes (num país de 10 milhões!) saírem às ruas em 14 de janeiro denunciando o novo governo, formado pela extrema direita.

Manobras e operações políticas acontecem. Há quem apele para que as manifestações sejam canalizadas para a defesa da suprema corte e há uma operação dos partidos da oposição, mas a massa que está na rua transborda todos os quadros e todas as operações. É uma multidão colorida, com várias posições: há quem esteja lá para defender os direitos da comunidade LGBT, ambientalistas, democratas contra a extrema-direita, advogados contra a reforma da justiça, laicos contra o controle de clérigos judeus ortodoxos no governo e muitos outros.

Pontos de vista diversos, variados, mas que se encontram às dezenas e dezenas de milhares nas ruas contra o governo. Além dos aspectos subjetivos, existe objetivamente um grande fato político: essas manifestações refletem a crise política que está dilacerando o Estado de Israel.

A questão palestina esteve oficialmente ausente, mas continua a ser a questão central. É esse jovem pai manifestante que declara na televisão: “Quando minha filha crescer, ela deve ter o direito de ser LGBT. Quando minha filha for mais velha, ela terá o direito de se casar com um palestino.”

A política do novo governo tentará agravar ainda mais a política de apartheid contra os palestinos. Mas nessa manifestação também havia judeus israelenses que se manifestaram ao lado dos palestinos para se opor à colonização do bairro palestino de Sheikh Jarrah, em Jerusalém, por colonos judeus. Essa unidade é fundamental para o avanço da campanha por “um só Estado na Palestina” que arranque as populações judaicas da armadilha do sionismo e coroe a longa luta do povo palestino desde 1948.

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