“Presidente Lula, queremos ser ouvidos!”
Há 14 dias os metroviários de Belo Horizonte estão em greve – com 100% de paralisação – reivindicando a anulação do leilão de privatização, realizado em 22 de dezembro. Já passaram por todo tipo de pressão para encerrar o movimento.
O Sindicato está com suas contas bloqueadas, já acumula 1 milhão em multas fixadas pela Justiça do Trabalho e, agora, ameaçam bloquear as contas e os bens dos diretores sindicais.
A determinação de não aceitar a privatização e exigir que suas reivindicações sejam ouvidas, resultou na ida de uma delegação de trabalhadores à Brasília no dia 28 de fevereiro. Cerca de 150 trabalhadores – representando os 1600 empregados – viajaram em três ônibus por mais de 12 horas com o firme propósito de serem recebidos pelo presidente Lula.
Para falar da greve e da mobilização em Brasília, O Trabalho conversou com a presidente do Sindicato, Alda Lúcia dos Santos.
Fale um pouco dos motivos que levaram os metroviários a paralisar totalmente a operação do metrô, inclusive durante o carnaval.
Alda: Há uma disposição muito grande da categoria. É a primeira vez que realizamos uma paralisação onde cerca de 90% da categoria adere à greve e paralisa 100% do sistema metroviário. A CBTU queria que cumpríssemos a determinação da Justiça do Trabalho de colocar em operação 70% dos trens. Isso não é respeitar o direito de greve. O custo dessa nossa luta é alto, as multas são impagáveis. Querem inviabilizar a existência do Sindicato. Desde o primeiro governo FHC enfrentamos as ameaças de privatização. Agora ela está para ocorrer se o governo Lula assinar em 10 de março o contrato de concessão. Já fizemos de tudo: processo na Justiça; procuramos o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, que nos deu um parecer contrário ao Edital de Concessão; o mesmo fizemos em relação ao TCU (Tribunal de Contas da União) que, contraditoriamente, não viu nenhuma irregularidade no Edital. Fizemos todo tipo de gestão junto a deputados em Brasília e Minas Gerais, nos reunimos com alguns membros do governo Lula, mas não obtivemos respostas concretas às nossas reivindicações. Por isso a greve e a nossa vinda à Brasília para pedir ao presidente Lula que cumpra o que prometeu durante a campanha eleitoral.
Têm dirigentes sindicais, em particular da CUT, deputados do PT que estão incomodados em nos ver em greve e aqui em Brasília. Acham que estamos atacando o governo, mas não é verdade. Foi o Lula que disse logo depois da vitória do 2° turno que podíamos cobrá-lo, não foi? É isso que estamos fazendo!
Como foi a manifestação em Brasília? Houve algum resultado?
Trouxemos várias faixas, megafones, apitos e nos dirigimos para a Praça dos Três Poderes. Fomos recebidos pela Polícia Legislativa, a Polícia Militar e a Tropa de Choque. Mas nada disso nos impediu de realizar uma manifestação pacífica solicitando que o presidente Lula recebesse ao menos uma delegação do Sindicato.
E conseguiram?
Fomos recebidos pelos Ministros da Secretaria Geral da Presidência, Márcio Macedo e da Casa Civil, Rui Costa. Eles reconheceram que existem problemas no processo de Concessão. O ministro Rui Costa chegou a afirmar que houve uma supervalorização dos investimentos para obras de modernização e ampliação do metrô. Ele estava se referindo às verbas públicas que a Comporte Participações (empresa ganhadora do leilão) receberá do governo federal e estadual. Ainda assim, disse que o governo federal não deixará de assinar o contrato.
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Em relação a situação dos trabalhadores, o Ministro se comprometeu a receber do Sindicato uma lista, a ser entregue antes de 10 de março, com os nomes dos trabalhadores que gostariam de ser transferidos para órgãos públicos federais, quem aceitaria a transferência para outras unidades da CBTU, além de se comprometer com a apresentação de um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para os que quiserem sair da empresa. Para aqueles que estão para se aposentar, se comprometeu a dar um tempo maior de estabilidade. O problema é que não há nada assinado…
Teremos assembleia em 1° de março, vamos discutir a continuidade da nossa luta e da greve e, se depender de mim, estaremos de volta à Brasília em breve!