Aonde Trump quer levar o mundo?

Dia 20/1, Donald Trump se tornou presidente dos Estados Unidos com uma fila de bilionários atrás dele, e com grande barulho nas mídias, oportuno nesse caso. 

Em seu discurso de posse no governo da nação mais poderosa do planeta, disse: “Estou satisfeito que, um dia antes de assumir o cargo, os reféns no Oriente Médio tenham retornado para suas famílias”. Mas o fato é que uma semana antes, o jornalista israelense Lior Kordner falou num podcast para o jornal Haaretz (o principal de Israel): “Trump, com total frieza, enviou o seu representante, Witkoff, que se comportou como um senhorio cujo aluguel não foi pago e que veio cobrar seu dinheiro. Ele ligou para Netanyahu na sexta-feira à noite (começo do Shabat) e informou que chegaria no dia seguinte às 10h. Netanyahu tentou explicar que era sábado (Shabat) e que ele não poderia se encontrar com ninguém, mas Witkoff respondeu de forma arrogante e rude que Netanyahu tinha que estar lá e que a questão do sábado [Shabat] não era seu problema. O que se seguiu foi sem precedentes. Netanyahu apareceu em seu escritório às 10h da manhã, algo que nunca havia acontecido antes. Tudo o que Witkoff disse naquele momento foi ‘Trump quer o acordo’. E ficou assim’”.

Este é um dos primeiros atos, a nível internacional, de um presidente que se apresentou, durante o seu discurso de tomada de posse, como um “artesão da paz mundial”, que vai erradicar doenças e “espalhar a luz do sol sobre o mundo inteiro”. Ele retirou os EUA da Organização Mundial da Saúde e do Acordo Climático de Paris.

Por fim, mostrou as garras sobre o Panamá, segundo a narrativa de que “a China está operando o canal e nós não o demos à China. Demos o canal ao Panamá e vamos recuperá-lo”. Na verdade, um milionário de Hong Kong é dono da operadora concessionária, que recuperou a soberania sobre o canal há 25 anos, num acordo entre Carter (EUA) e Torrijos (Panamá) de 1977.

No plano interno, as medidas tomadas no primeiro dia também foram violentas: contra os LGTB, a implementação do plano de deportação de milhões de imigrantes (abaixo), o perdão presidencial aos 1.600 condenados pelo assalto ao Capitólio em 2021, o congelamento das contratações federais, exceto militares, e o restabelecimento da pena de morte a nível federal… 

Uma retórica e medidas que despertam preocupações legítimas nos Estados Unidos e ao redor do mundo. 

As rotas marítimas que estão se abrindo no Oceano Ártico como resultado do aquecimento global, e os imensos recursos da Groenlândia (90 bilhões de barris de reservas de petróleo, 30% do gás natural inexplorado do planeta e cerca de um trilhão de dólares em minerais de terras raras) estão em jogo no comércio mundial, que os Estados Unidos querem disputar com a China. O canal do Panamá é parte da mesma disputa.

A classe capitalista dos Estados Unidos tem agora um objetivo declarado: usar todos os meios de seu poderio econômico, político e militar para tentar reorganizar, imediatamente e com sua arrogância característica, todas as relações de dominação em escala global, e dentro dos próprios Estados Unidos, em preparação para sua disputa com a China.

Resta saber o que Trump realmente será capaz de fazer. O sindicato dos funcionários do Tesouro já entrou com uma ação contestando sua decisão de remover as proteções trabalhistas para funcionários federais. O sindicato SEIU (serviços públicos e saúde), com dois milhões de membros, qualificou: “reduzir as proteções trabalhistas e atacar o direito de negociação coletiva dos servidores federais, incluindo a transformação de alguns deles em servidores demissíveis à vontade, silenciaria a voz dos trabalhadores abrindo caminho ao abuso e ao desmantelamento generalizado, o que ameaçaria a qualidade dos serviços públicos que para os estadunidenses.” Concluindo: “Não vamos recuar!”. 

No dia da posse alguns milhares de americanos foram às ruas sob um frio insuportável. Os Socialistas Democráticos de América (DSA), a maior organização socialista nos EUA em décadas, declararam: “juntos marchemos para bloquear as ruas de Manhattan, como parte de uma mobilização nacional para combater a agenda fascista de Trump e expressar nossa solidariedade com a Palestina. Bilionários de extrema direita apoiam Trump. Chegou a hora de nós também nos organizarmos.”

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