Greve geral em Israel faz o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu recuar

A greve geral, o país parado, tomado novamente pelas manifestações (pelo menos 70 mil manifestantes na frente do Parlamento israelense [Knesset], desde a noite de domingo, 26 de março, até a segunda-feira), contra a reforma da Justiça, fizeram o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu recuar, anunciando, na segunda-feira à noite, a suspensão da segunda e da terceira leituras do texto previstas no Legislativo para a semana que se iniciava. Ele também anunciou uma “pausa” para a reforma. Mas o caos que reina no seio do regime e do governo está longe de ser resolvido. As negociações de Netanyahu no seio da coalizão para se manter primeiro-ministro durou semanas, e os fundamentos do Estado de Israel estão em jogo.

As manifestações de massa, desde o início de janeiro, contra a reforma judicial de Netanyahu – que pretende transferir o poder dos juízes para o governo – resultaram na convocação imediata à greve geral lançada pela central sindical Histadrut, após a demissão do ministro da Defesa, Yoav Galant, apoiado pelos principais chefes militares, que demandava o congelamento da reforma – ele que, portanto, era favorável –, a fim de preservar a unidade no seio do Exército. Este exército que é o pilar central do Estado de Israel.

As manifestações ocorreram, primeiro em Tel Aviv, no sábado que se seguiu imediatamente à apresentação do projeto de reforma, em 4 de janeiro, e se espalharam rapidamente por todo o país, mantendo, depois, uma regularidade semanal. Rapidamente, as manifestações de massa abalaram os fundamentos do Estado de Israel, colocando a questão da “democracia”. Isaac Herzog, presidente israelense, fez um raríssimo comunicado à nação, em meados de fevereiro, considerando que o país estava “às vésperas de um colapso constitucional e político”. De fato, a crise do Estado de Israel, fundado sobre o sionismo, é clara e não cessa de se ampliar hoje no seio de um país cada vez mais fraturado.

Ora, é também esse regime legal que permite, desde a fundação do Estado de Israel, a divisão do país, a expulsão do povo palestino de sua terra, a colonização e a ocupação. E, portanto, sobre a sua manutenção repousa, igualmente, a vontade política atual de Netanyahu de liquidação dos territórios ocupados para integrá-los definitivamente ao Estado de Israel, e, finalmente, acabar com a questão palestina.

O jornal espanhol “El Pais” relata (26/3) que, nas manifestações de Tel Aviv, um grupo de jovens, na maioria israelenses, tinha se juntado desde o início das mobilizações. Munidos de bandeiras palestinas, suas faixas diziam: “Não há democracia com a ocupação” ou “Judeus e Árabes se recusam a ser inimigos”.

Toda brecha aberta no “equilíbrio” institucional é uma ameaça ao curso da política de apartheid (referência ao regime racista que existia na África do Sul, NdT) de Israel. Uma “pausa” é, forçosamente, um sinal de fragilidade. E, como em todos os lugares, é pela via da organização independente da classe e dos povos que a opressão do povo palestino poderá ser resolvida. Qualquer desestabilização do sistema é uma brecha aberta para a sua queda e para uma solução para as populações judaicas e árabes da Palestina, solução que só pode vir no contexto de um único Estado sobre todo o território da Palestina histórica.

Artigo de Hélène Boussel publicado no jornal francês Informations Ouvrières. Tradução para o português por Leonardo Ladeira.

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