Parem com o massacre do povo palestino!

É urgente um cessar-fogo e o fim do bloqueio a Gaza

No fechamento desta edição, o mais novo recrudescimento do conflito entre Israel e o povo palestino, com a incursão do Hamas em território israelense e as represálias de bombardeios na Faixa de Gaza, incluindo até hospitais, atingia o seu décimo primeiro dia e a cifra de mortos se aproximava passava cinco mil – 1.300 israelenses e 3.300 palestinos, em sua maioria mulheres e crianças. 

Como até mesmo o principal jornal de Israel, o Haaretz, afirmou em editorial, é impossível não ver a responsabilidade do governo de Netanyahu na atual situação. Desde que assumiu o poder no final de 2022, com ministros racistas e fascistas, ele desencadeou a violência na Cisjordânia, em tese governada pela Autoridade Palestina, com ações militares de apoio a colonos judeus, que atacam vilarejos e propriedades de palestinos, prisões arbitrárias e humilhação da população local. 

É lamentável a morte de civis inocentes, seja as provocadas pela incursão do Hamas, seja a dos palestinos, privados de água, eletricidade, medicamentos e comida com o bloqueio total a Gaza. Mas é preciso ver que a origem dessa espiral de violência, que já dura 75 anos (ver página 11), é a opressão nacional sofrida pelo povo palestino desde a criação do Estado de Israel.

ONU paralisada, Israel invoca “anti-semitismo”
Israel faz pouco caso, e não é de hoje, da ONU e de suas resoluções, confiando no apoio incondicional que tem dos EUA. Propostas de cessar-fogo existem várias, inclusive do Brasil, mas o poder de veto dos membros permanentes do seu Conselho de Segurança, nesse caso o dos EUA, impede medidas não desejadas pelo Estado sionista.

Os diplomatas de Israel costumam acusar de “anti-semitismo” qualquer governo ou autoridade política que ouse colocar em questão a sua política e contam com amplos setores da mídia para repercutir tal falácia. 

Assim, na França, onde o governo Macron proíbe e reprime manifestações de solidariedade ao povo palestino, o líder da “França Insubmissa” Jean-Luc Melenchon é acusado de “anti-semita” e amigo dos “terroristas do Hamas”. O mesmo que foi feito com Jeremy Corbin quando ele foi líder do Partido Trabalhista britânico. 

A embaixada de Israel na Espanha acusou “certos elementos dentro do governo” de “alinhar-se com o terrorismo” por terem criticado os bombardeios em Gaza e pedido cessar fogo e acesso à ajuda humanitária aos palestinos sitiados.

Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro comparou a destruição operada por Israel em Gaza àquela que os nazistas fizeram no gueto de Varsóvia na 2ª Guerra Mundial. A embaixadora colombiana foi repreendida em Tel Aviv e as declarações de Petro qualificadas como “hostis e anti-semitas”. A reação de Petro em 15 de outubro no X (ex-Twitter) foi: “Se tivermos que suspender as relações externas com Israel, nós suspenderemos. Não apoiamos genocídios. Não se insulta o presidente da Colômbia.”

De Santiago do Chile a Madri, em países árabes e africanos, manifestações pedindo o cessar-fogo e o fim do bloqueio a Gaza se multiplicam. É hora de fazê-las com força em toda a parte!


“Não em nosso nome!”

Judeus combatem a política de Israel

⤷ Manifestação de Judeus em solidariedade aos palestinos em Nova York

Em Nova York manifestantes judeus saíram às ruas para denunciar o bloqueio total que asfixia os palestinos em Gaza aos gritos de “Não em nosso nome”.

O sionismo, defesa de um estado judeu na Palestina, nunca foi unânime na comunidade judaica. O apoio incondicional dos EUA à Israel, com a propaganda que o acompanha, é que  “naturaliza” o direito de existência de um estado de apartheid baseado na ocupação colonial de um território que já era povoado pelos palestinos. 

A associação Jewish Voice for Peace (Voz Judia pela Paz) dos EUA soltou um comunicado intitulado “A raiz da violência é a opressão”, no qual, após lamentar todas as vidas perdidas, afirma: “O derramamento de sangue de hoje e dos últimos 75 anos se deve diretamente à cumplicidade dos EUA na opressão e horror causados pela ocupação militar israelense. (…)  Inevitavelmente, em todo o mundo, os povos oprimidos buscarão – e conseguirão – a sua liberdade. Nós merecemos todos a liberdade, a segurança e a igualdade. A única forma de conquistá-las é terminar com as fontes da violência, a começar pela cumplicidade de nosso próprio governo.”

Em Israel, Jeff Halper, do Comitê contra destruição de casas (palestinas), Icahd (na sigla em inglês), declarou: “O Icahd chora a perda de todas as vidas, israelenses e palestinas, provocada pela incursão do Hamas ou pelas represálias desproporcionais de Israel. (…) Os palestinos jamais estiveram em guerra contra os judeus; eles resistem a um projeto colonial unilateral cujo objetivo declarado é a transformação da Palestina em Israel e o desaparecimento do povo palestino, de sua cultura e de seu patrimônio. (…) A única forma de acabar com a violência e salvar as vidas na Palestina e em Israel é descolonizar o regime repressivo de apartheid e sua ocupação, substituindo-os por um Estado democrático que ofereça direitos iguais a todos.”


Uma espiral de violência de 75 anos

A partilha da Palestina pela ONU inicia os conflitos

⤷ Bombardeio em Gaza no dia 9 de outubro

Em 29 de novembro de 1947, a assembleia da ONU, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, adotou a partilha da Palestina em dois estados. Dos 56 países presentes, 33 foram a favor, 13 contra e 10 se abstiveram. 

Junto com Egito, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque, os palestinos rejeitam a divisão do seu país. Eclode a primeira guerra, a da independência de Israel para os colonos judeus, a “Nakba” (catástrofe) para os palestinos. Em poucos meses 800 mil palestinos são expulsos e mais de 500 vilarejos destruídos. Cerca de 150 mil palestinos ficaram dentro das fronteiras de Israel. Desde então vivemos décadas de guerras e resistência do povo palestino. 

Em 1967, há a Guerra dos Seis Dias, em que Israel ocupa a Cisjordânia e Gaza. Em setembro de 1970, o exército da Jordânia massacra 20 mil palestinos nos campos de refugiados, os combatentes se deslocam para o Líbano. Em 1976 ocorre a Jornada da Terra, em que seis palestinos “cidadãos israelenses” são mortos, além de centenas de feridos e manifestantes presos.  

Depois de levantes na Cisjordânia e Gaza, Israel invadiu o Líbano em maio de 1982. Em setembro, milícias cristãs libanesas massacram 2 mil palestinos nos campos de Sabra e Chatila, sob proteção do exército invasor. Em dezembro de 1987 estoura a primeira Intifada, com jovens palestinos lançando pedras contra soldados israelenses.  

Depois dos acordos de Oslo 
Em 1993, os acordos de Oslo, mediados pelos EUA e firmados pelo primeiro-ministro Yitzhak Rabin, de Israel, e Yasser Arafat, da Organização de Libertação da Palestina (OLP), reintroduz a política de dois estados. Neles se prevê a criação de duas zonas, Gaza e Cisjordânia, governadas pela Autoridade Palestina (AP), sob vigilância militar de Israel. 

Nos fatos a Autoridade Palestina passou a exercer papel de repressão às manifestações dos palestinos (ver abaixo nesta página).  

Em outubro de 2000 vem a segunda Intifada. Só em 2005 Israel retira suas tropas de Gaza. Em 2006, o Hamas vence as eleições, derrotando a Autoridade Palestina em Gaza. 

Israel decreta bloqueio total de Gaza, organizado em conjunto com o Egito, fazendo de lá “a maior prisão a céu aberto do mundo”. Em 15 anos houve seis operações militares de Israel em Gaza, destruindo infraestruturas, hospitais, escolas, com milhares de mortos. Entre 2018 e 2019, jovens de Gaza fazem “marchas pelo retorno” até a fronteira com Israel, com o saldo de mais de 200 mortos e 4 mil feridos por atiradores israelenses. 

Em maio-junho de 2021, a juventude palestina do interior de Israel se levanta com a palavra de ordem “do Mediterrâneo ao Jordão, somos um só povo”. Com o governo de Netanyahu, desde o final de 2022, aumentou a violência contra os palestinos na Cisjordânia, governada pela AP, com prisões arbitrárias, destruição de colheitas e agressões de colonos contra vilarejos árabes. 

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