Enfrentar o Congresso reacionário

Há muito que discutir – e lições a tirar – para o PT na atual conjuntura política. Lula viu um aumento de popularidade após se chocar com o Congresso no primeiro semestre do ano, quando este impediu o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A partir dali ficou claro para o povo que a direita e a extrema-direita eram contra aumentar impostos para os bancos e os milionários. Lula corretamente defendeu a taxação dos super-ricos e até levantou o pirulito do DAP no 2 de julho na Bahia com essa palavra de ordem.

Foi com a força do povo, mobilizado nas grandes manifestações de 21 de setembro, que fez com que o governo conseguisse, finalmente, aprovar a mudança no Imposto de Renda. Como todo mundo viu o Centrão, “base aliada” inclusive, fez o que pode para impedir a votação, enrolou meses e meses. Chantageou o governo pedindo mais liberação de emendas parlamentares e foi derrotado pela força das ruas, depois que uma maioria popular se revoltou contra a aprovação do abjeto projeto de lei que impedia a investigação criminal sobre os parlamentares e o andamento do PL da Anistia aos golpistas de 8 de janeiro.

Foi um alívio para o governo e para os petistas, mas durou pouco. Voltaram à carga após Claudio Castro comandar a maior chacina já feita pelas Polícias Militares do país no morro do Alemão e Penha. Não por acaso o governador defendeu a chacina em nome do combate ao “narcoterrorismo”. O mesmo argumento que Trump usa para justificar sua ameaça militar contra Venezuela e outros países da América Latina. Logo os governadores bolsonaristas se juntaram para apoiar o governador do Rio e criticar Lula.

O presidente tomou a decisão de enviar ao Congresso o contraditório PL Anti-facção. O que serviu para o Centrão, novamente, sabotar o governo com o auxílio dos bolsonaristas. Enquanto isso, nem a Procuradoria Geral da República, nem o Ministério Público Federal ou o Ministério da Justiça fizeram o que deveria ser feito: solicitar a federalização da investigação de uma operação policial que foi como o próprio Lula disse alguns dias depois, uma verdadeira matança.

Os participantes, com razão, levantaram a palavra de ordem nas manifestações de setembro “Congresso inimigo do povo”. Há por trás disso o sentimento de que não dá mais para continuar com esse sistema político dominado pelo Centrão. Cada vez mais opulento, alimentado pelos bilhões de reais que desviam do orçamento público para comprar apoio nas eleições por meio das emendas parlamentares.

É preciso falar claro e combater essa maioria reacionária em vez de tratá-la como “base aliada”. Não confiar em Motta e Alcolumbre que junto com Antonio Rueda (presidente do União Brasil) e Ciro Nogueira (presidente do Progressistas) só fazem sabotar o governo. Agora, eles aparecem junto com o governador bolsonarista do DF envolvidos com os negócios sujos do Banco Master. Eles desviaram bilhões de reais do Banco de Brasília e de fundos de previdência dos servidores públicos de diversas cidades para comprar títulos financeiros fraudulentos fabricados pelo dono do Banco Master, Daniel Vorcaro. Tudo isso deveria servir para uma reflexão. Este ano tivemos uma amostra que o PT e o governo podem enfrentar essa maioria reacionária do Congresso apoiado na mobilização popular. Mas, para derrotá-la, só com uma reforma política que abra caminho para romper com esse sistema dominado pelo poder econômico e a corrupção e fazer, finalmente, uma verdadeira Assembleia Constituinte Soberana, que o Brasil ainda não fez. É o que pode abrir o caminho para resolver os problemas mais sentidos do país e dos trabalhadores como a revogação da reforma trabalhista e previdenciária, a desmilitarização da PM, levar a frente o fim da escala 6×1 e tantas outras questões. É uma discussão central para o PT e as candidaturas que se reivindicam da classe trabalhadora e da maioria oprimida da nação para as próximas eleições.

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