“As bases esperam essa iniciativa da central contra o golpe aos direitos”
A executiva nacional da CUT reuniu-se em Brasília, em 11 de maio, e em São Paulo no dia 16. Foram reuniões de um dia, no fogo dos acontecimentos.
Em 11 de maio, quando já se previa a admissão pelo Senado do julgamento de Dilma, a discussão sobre a necessidade da organização da greve geral no próximo período apareceu em várias intervenções. Na nota divulgada pela CUT em 12 de maio pode-se ler que ela “combaterá medidas já anunciadas visando precarizar as relações de trabalho, diminuir o investimento nas políticas sociais, arrochar os salários, acabar com a política de valorização do salário mínimo, privatizar estatais e anular despesas constitucionais obrigatórias com saúde e educação”.
Na reunião do dia 16, Júlio Turra fez a proposta de organizar a discussão da greve geral com as bases cutistas (ver abaixo), que, mesmo não sendo contestada pelos dirigentes presentes, não foi incorporada à resolução divulgada em 18 de maio. Esta se limita a propor plenárias e assembleias sindicais “para discutir o grave momento que vivemos e para intensificar o engajamento dos/das trabalhadoras na luta em defesa dos direitos trabalhistas e previdenciários, dos salários e em defesa da democracia e da soberania nacional”.
Na reunião do secretariado da executiva da CUT de 24 de maio, o tema da greve geral será retomado. É hora da maior central sindical do Brasil abrir essa discussão com sua base. Não há tempo a perder!
Fala de Júlio Turra da reunião da Comissão Executiva da CUT (trechos)
“Não penso, como foi dito, que vivemos a maior derrota desde 1964. O processo não acabou, ainda que do ponto de vista institucional seja provável o impeachment da Dilma. Mas a luta de classes não se resume a isso. No dia seguinte ao voto do Senado já tinha manifestações contra Temer em vários pontos do país e seu governo nasce com o carimbo de ilegítimo que ajudamos a colocar.
É verdade que o imperialismo, a burguesia local e os setores mais reacionários se alinham com Temer. Mas seu ministério é um escárnio!
O programa deles implica destruir as organizações da classe. Mas a CUT está de pé. O PT está numa crise que deve nos fazer lembrar do manifesto de sindicalistas ‘O PT de volta para a classe trabalhadora’ e que, como disse o Felício, chega de dormir com o inimigo.
A CUT levantou o ‘Não ao golpe, Fora Temer, Em defesa dos direitos’. Vamos sublinhar os direitos, que estão ameaçados pelos golpistas, o que nos dá elementos para convencer toda a nossa base para a luta, parte dela reticente por causa do ajuste fiscal que provocou desemprego.
Em 10 de maio, movimentos populares bloquearam rodovias e avenidas e estão certos. Mas o nosso papel de sindicalista é parar a produção. A arma efetiva contra o golpe é organizar a greve geral.
Hoje Temer está reunido com as centrais pelegas para aumentar a idade da aposentadoria. Como vamos resistir a isso? Greve por categoria? O segundo passo dos golpistas é que o legislado vale menos que o negociado. Como vamos enfrentar isso? Campanha salarial isolada? A forma de resistir é a greve geral.
A CUT é responsável e não vai convocar greve geral para a semana que vem, vai abrir essa discussão com a sua base. A tarefa imediata é fazer assembleias, plenárias, explicar o que está em jogo, reunir as condições para a greve geral que derrote a reforma da previdência, proteja os nossos direitos e termine com o governo Temer. Isso é possível companheiros.
Se a CUT estivesse destruída, se não houvesse gente nas ruas contra o golpe, aí sim seria 1964 e só restaria lamber as feridas e preparar outra etapa histórica. Mas não é essa a situação, companheiros! ”
Publicado originalmente na edição nº 786 de 19 de maio do jornal O Trabalho.