A guerra de Trump contra o México

O governo imperialista de Trump anunciou em maio passado a imposição, a partir de 10 de junho, de uma tarifa de 5% nas importações provenientes do México. Tal tarifa aumentaria mensalmente até chegar a 25% se o governo mexicano não detiver a migração centro americana para os Estados Unidos.

O governo de López Obrador, com a pistola na cabeça, decidiu negociar com o governo Trump, deixando de lado a tática “espelho”, ou seja, a imposição de tarifas às importações vindas dos Estados Unidos.

No curso de várias reuniões em Washington entre funcionários me­xicanos e estadunidenses, o secretá­rio mexicano de Relações exteriores aceitou uma resolução com dois pontos principais: o governo mexica­no aceitou receber os migrantes que solicitam asilo nos EUA, enquanto se estuda seu pedido, o que pode durar meses, inclusive anos, e será uma carga econômica para os esta­dos mexicanos do norte do país. O governo mexicano aceitou também “estrear” a Guarda Nacional, em processo de organização, enviando seis mil membros à fronteira sul e em alguns dias enviará mais seis mil à fronteira norte.

Em uma entrevista ao jornal La Jor­nada, o novo comissário do Instituto Nacional de Migração -que até há alguns dias antes ocupava o cargo de diretor de prisões federais – declarou que “isto limitará a ‘flexibilidade’ do início do governo Obrador” e que “ será dado tratamento digno aos mi­grantes que respeitem a lei e os que não forem repatriados. O que não é possível é que estejam entrando no país sem nenhum controle.

Novas ameaças
Porém, há novas ameaças de Trump. Ele afirmou que se em 45 dias não houver resultado na deten­ção dos migrantes centro americanos as tarifas serão aplicadas.

É possível que com essa medida o governo mexicano consiga, em certa medida, reduzir os números de migrantes que passam pelo México, mas dificilmente deterá a migração, o que seria um custo econômico, político e social muito grande. Há algumas horas, a Guarda Nacional deteve dois caminhões com mais de 700 migrantes. Há denúncias que cada um deles (com risco de morrer asfixiado) pagava três mil dólares para ser transportado da fronteira sul para a fronteira norte. Este dinheiro é depositado em bancos fora do país, ou seja, as máfias internacionais são mais um elemento da situação.

López Obrador pode recorrer à tá­tica “espelho”, mas, embora também afete grandes empresas imperialistas, em particular as automotivas, e as relações comerciais estabelecidas com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), a política dos governos do PRI-PAN colocou o México nas piores condições. En­quanto 80% das exportações mexica­nas vão para os EUA, este país vende para o México somente 18% do total de suas exportações. 80% da gasolina consumida no México é comprada de companhias estadunidenses. Se as tarifas são aplicadas, o preço da gasolina aumentaria o que prejudi­caria o controle de preços.

Ninguém pode saber o que vai se passar nas próximas semanas. Trump pode declarar-se insatisfeito com as medidas tomadas pelo governo mexi­cano em relação aos migrantes e passar das ameaças à aplicação de novas tari­fas (novas, porque já as impôs a pro­dutos como aço, alumínio e tomate).

Ainda que López Obrador recuse, formalmente, converter o México em “terceiro país seguro” (receber os migrantes não acolhidos pelos EUA) para a migração, na prática está sen­do obrigado a avançar neste sentido.

A saída está na defesa dos interesses nacionais, na ruptura com o capital financeiro: não ao pagamento irres­trito da enorme dívida pública, não à política de superávit primário, não à ratificação do novo tratado de “livre comércio” com os EUA e Canadá (T­-MEC) e revogação das contrarrefor­mas impostas pelo governo anterior de Peña Nieto.

O aprofundamento do movimento dos 30 milhões de votos nas eleições de 1 de julho de 2018 conduzindo Obrador ao governo é que pode abrir essa saída. Nossa tarefa é ajudar a massa trabalhadora e o povo opri­mido a buscar essa saída.

Luis Vázquez, do México, em 17 de junho

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