Entrevista com Cibele Vieira, coordenadora do Sindicato dos Petroleiros de São Paulo, ao jornal do seu sindicato.
É interessante como a força de divulgarem só matérias negativas consegue fazer parecer que a Petrobrás está tendo prejuízo e está quebrada. Só para lembrarmos: em 2002 o lucro do ano todo foi R$8,1 Bilhões; em 2014, só nos 3 trimestres, foi de R$ 13 bilhões. Mas então está tudo bem? Não tem crise alguma?
Lógico que tem crise! Provavelmente a maior da história dessa grande empresa.
Mas vamos entender como é possível que a empresa que mais descobre petróleo no mundo, que quebra recorde atrás de recorde de produção e refino e continua com lucros altos está sendo tão questionada:
1) Corrupção:
Não sou adepta de justificar o errado pelo errado, mas não dá para defender que a solução da Petrobrás seria acabar com o PT como se os outros partidos fossem idôneos ou se a corrupção tivesse começado agora. Tampouco acreditar que privatizar seria uma solução como se nas empresas privadas não tivessem sócios roubando sócios, sonegação de impostos, balanços fraudulentos etc. Somente trocar as pessoas sem mudar a estrutura é mudar as figurinhas que vão continuar a praticar os mesmos crimes. O que foi denunciado pelo Paulo Roberto é a combinação de preços pelas empresas privadas e pagamento de propinas à partidos políticos, com o foco prioritário financiamento de eleições. Ou fazemos a reforma política através de uma constituinte e proibimos o financiamento privado ou o problema, que extrapola a Petrobrás, vai continuar crescendo.
2) Disputas Internacionais:
a) Disputa Geopolítica do Petróleo:
Embora a mídia nacional tenha demorado a abordar o tema, fazendo parecer que a queda das ações da Petrobrás era exclusivamente por conta das denúncias de corrupção, o preço do petróleo no mundo caiu praticamente pela metade. Após a crise de 2008, o mundo tem demandado menos petróleo, enquanto a oferta, com as novas descobertas, tem crescido e a OPEP tem se negado a diminuir a produção. Os que saem mais prejudicados dessa situação são: Rússia, Irã e Venezuela. O gás do xisto americano pode ser afetado, mas a economia Norte Americana depende menos da venda de petróleo do que os países citados e pode optar por guardar o petróleo
As Petroleiras norte-americanas dependem menos da venda de petróleo do que os países citados e pode optar por guardar o petróleo do xisto para explorar em outro momento, mesmo arcando com algum prejuízo. Quem dúvida que as guerras do Oriente Médio são, em grande parte, pela disputa do petróleo? Porque não acreditamos que o Brasil também tenha essa disputa mesmo depois da comprovação da espionagem americana e de vazamentos de conversas sobre a privatização da Petrobrás? Quer melhor momento para comprar nosso petróleo ou nossa empresa do que nessa baixa das ações e do preço do barril? A Petrobrás já é a maior petrolífera de capital aberto do mundo! O Brasil planeja se tornar o 4º ou 5º maior produtor.
b) Disputa de Hegemonia Internacional:
Os países “desenvolvidos” estão, há anos, em crise e os “emergentes” roubando a cena. Mesmo com um crescimento menor do que de anos atrás os países “emergentes” estão em melhores condições do que muitos países “centrais”. Além do contexto econômico, politicamente, uma aliança foi se formando: primeiro na América Latina e depois mais ampla, culminando na criação do BRICS. Não se via uma disputa pela hegemonia mundial desde o fim da guerra fria. Há um grito de independência e autonomia no ar. De questionamento da concentração de poder e de renda. Não à toa que os países mais prejudicados pelo preço do petróleo sejam inimigos dos Estados Unidos e que o responsável por manter o preço baixo, a Arábia Saudita, seja seu aliado. O Pré-sal continua sendo uma das principais descobertas de petróleo e, mesmo em águas profundas, continua viável e objeto de disputa. Alguém me dê outro motivo para falarem em tirar a Petrobrás da operação do Pré-sal e quebrarem a lei de Partilha.
2) Balanço e Certificação:
É verdade que nenhum outro pais é culpado pela corrupção na Petrobrás. Porém estão como urubus na carniça e vão tirar o máximo de proveito da situação. A PriceWaterCooperhouse (PWC) nega-se a certificar o balanço da Petrobrás alegando que seja por conta da corrupção. Porém essa mesma empresa certificou o balanço do 1º e 2º trimestre. Como ela não via nada de errado antes? Como ela não viu nada de errado nos balanços da AIG antes da crise de 2008 e tampouco nas fraudes da petrolífera Enron? Os questionamentos, válidos diga-se de passagem, são em torno do valor dos ativos da Petrobrás, se estão superfaturados no balanço ou não. Nada têm a ver com os números de produção ou lucro da empresa. Muito curioso: mesmo depois da tentativa da Petrobrás de calcular o abatimento e da conclusão de que não seria possível isso no momento, a PWC não aceitou certificar o balanço, sequer com ressalvas e não apresente nenhuma alternativa possível para o empasse. Com a não certificação, além de dificultar a Petrobrás de conseguir financiamentos, possibilita que credores antecipem as dívidas. Ou seja, a empresa pode ter que pagar à vista empréstimos que ainda faltaria anos para serem quitados. É aí que mora o verdadeiro risco para a Petrobrás, que poderia ter que vender ativos ou reservas de petróleo para conseguir levantar recursos para essas quitações. Vamos refletir um pouco: A PWC é britânica, com forte presença nos Estados Unidos desde 1890. Há uma série de questionamentos sobre sua atuação, principalmente na crise de 2008. O fundo, Aurelius Capital Management, que ameaçou começar o efeito manada nas quitações é norte americano. Os escritórios contratados pela Petrobrás para tentar calcular os abatimentos que chegaram ao número mágico de 88 bilhões foram indicados pela PWC. Ou seja, os norte-americanos estão com a faca e com o queijo na mão. Viramos refém por estarmos sujeitos às regras da bolsa de Nova Iorque.
5) Impactos na economia brasileira:
Além da disputa pelo petróleo, há um efeito dominó, principalmente nas grandes construtoras e na indústria naval brasileira. A Petrobrás corresponde a 13% do PIB nacional e 20% dos investimentos feitos no país. Tudo que conseguimos desenvolver utilizando a Petrobrás como grande alavancadora do desenvolvimento nacional pode ir por água abaixo. As 23 empresas privadas que estão na Lava Jato correspondem a 14% dos empregos formais no Brasil. Se elas ficarem impossibilitadas de fornecerem para a Petrobrás ou de participarem de obras públicas, como as principais obras do PAC, teremos que chamar empresas de fora e muitas empresas brasileiras decretariam falência.
Considerações:
Além de levar o nosso Petróleo, tirar a Petrobrás da operação do Pré-sal, desmontariam nossa economia em um só golpe e quem mais sofreria seriam os trabalhadores. A Petrobrás é estatal para pensar não só como empresa, mas ajudar em um projeto de país, investir e levar desenvolvimento em várias regiões e setores do Brasil. Temos que punir os corruptos e corruptores, prender os empresários e políticos, mas não inviabilizar as empresas e ceder aos urubus de plantão. Imperialistas, Privatistas, não passarão!