Em 3/3, o jornal patronal Les Echos publicou relatório sobre o desempenho das ações europeias de defesa: o estudo mostra que as principais empresas de armamentos (Thales, Rheinmetall, Dassault Aviation etc.) viram os preços de suas ações dispararem desde o início do ano, após as declarações de Trump sobre a necessidade de aumentar os orçamentos de guerra para 5% do produto interno bruto (PIB).
A “interpretação de texto” do encontro de Trump e Vance com Zelesnky, que se aplica, note-se, mais aos outros governos europeus do que à Ucrânia, proporcionou a Emmanuel Macron, em seu pior momento nas pesquisas de opinião, uma excelente oportunidade para se colocar em todas as frentes: como nos tempos do Covid-19, aqueles do “estamos em guerra”, o chefe de Estado prepara os espíritos para o pior, com o apoio de uma intensa campanha político-midiática.
“Fortalecer nossa independência em matéria de defesa” Sério?
Em seu discurso, Macron declarou: “Precisamos nos equipar mais, elevar nossa posição de defesa, e isso pela própria paz, para dissuasão”. Nos armarmos para a paz? Sério? Em agosto de 1937, dois anos antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, Leon Trotsky reafirmou o que pode parecer óbvio: “Em si mesmo, o desenvolvimento de armamentos conduz à guerra, não à paz”.
Mas a quem querem enganar?
Em relatório a Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS, França) detalha as alavancas usadas pelos Estados Unidos para inundar o velho continente com seus F-16, Apaches e outros mísseis, e conclui: “As garantias de segurança agora terão um preço muito mais alto para os aliados europeus, que poderão se ver obrigados a operar prioritariamente os sistemas de armas estadunidenses”. Daí a conclusão do jornal Les Echos: “A dependência da Europa em relação às armas do Tio Sam fica mais forte”.
A corrida à economia de armamento: dupla eficácia para o capital
Dupla utilidade, política e econômica. Por um lado, fazer pressão sobre os povos para fazê-los aceitar o “esforço de guerra” às custas dos “gastos sociais” (pensões, seguridade social, serviços públicos etc.). E, por outro lado, oferecer às montanhas de capitais, que não conseguem mais se valorizar num mercado global abarrotado.
Ao mesmo tempo em que as ações de empresas de armamentos têm saltos astronômicos, as empresas estadunidenses de tecnologia estão entrando em colapso. A Tesla perdeu cerca de 800 bilhões de dólares em três meses. As “Sete Magníficas” da tecnologia perderam 750 bilhões de dólares em uma sessão na segunda-feira, 10/3.
É a putrefação do sistema capitalista, sua incapacidade de resolver suas contradições inerentes, que Marx analisou em sua época, ou seja, a “queda tendencial da taxa de lucro”, é isso que leva à militarização generalizada. Ou, para citar Jean Jaurès: “O capitalismo traz a guerra como a nuvem traz a tempestade”.
Quem explica de forma mais clara é, sem dúvida, o jornalista econômico Eric Le Boucher, no jornal L’Opinion: “Defender a França e a Europa significa pedir aos franceses que trabalhem mais, se aposentem mais tarde, mantenham os idosos no mercado de trabalho, coloquem os jovens no mercado de trabalho mais rapidamente”.
Mas, no extremo oposto, há o estado de espírito dos trabalhadores, que rejeita a guerra e se expressa de várias maneiras: as pesquisas de opinião, por exemplo, estão mostrando que dois terços dos franceses são contra o envio de tropas militares para a Ucrânia (pesquisa CSA, 5/3).
É nessa situação que a LFI (A França Insubmissa) está preparando manifestações que ocorrerão em todo o país em 22 de março, “pela unidade do povo contra o racismo, para deter a extrema direita e suas ideias, para se livrar de Macron, Bayrou e Retailleau”, o que também inclui, de fato, a questão da guerra.
Pierre Valdemienne Artigo do jornal francês “Informações Operárias” nº 849