Aonde vai o governo Bolsonaro?

Em outro país ou outro governo, o racha vertical do segundo partido da Câmara Federal (PSL), que também é partido do presidente (Bolsonaro) – com destituições das lideranças e disputas nos principais Diretórios -, poderia ser a hora do juízo final.

Mas o PSL não é um partido – é um amontoado ao redor do então candidato à presidente, mais alguns trânsfugas –, hoje rachado ente “bivaristas” (Bivas, presidente do partido) e “bolsonaristas”, por razões inconfessáveis.

E Bolsonaro não é exatamente um presidente eleito: é o produto da fraude que alijou o favorito Lula no 1º turno e que, no 2º turno, contra o candidato de Lula e do PT, Haddad, o STF sustentou, validando fake news, com apoio do que sobrou dos partidos tradicionais, da mídia, igrejas, patronato e imperialismo, Trump em especial.

Uma vez eleito, Bolsonaro quer, do lado de fora do Congresso Nacional, nas ruas, construir uma base de massas de extrema-direita, a partir dos coxinhas do impeachment de Dilma, para se projetar por cima das próprias instituições de Estado que o elegeram (Congresso, Judiciário, Exército). Nesse sentido, é um aspirante a “bonaparte”. Autoritário, não precisa de partido parlamentar, a rigor, poderia acabar o jogo parlamentar (seria a variante fascista).

Mas seu principal ministro nesse rumo, o ex-juiz Sérgio Moro, foi desmascarado pelas revelações do The Intercept – junto com a turma de procuradores de Dallagnol -, e todos, uns mais que outros, perdem “autoridade” e terreno (comprovam as pesquisas).

Afinal, o governo está coberto de escândalos: caso Queiróz, o operador das milícias; “laranjal” dos ministros; pesadas evidências contra os filhos; e denúncias na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, entre outras.

Rachou o PSL, e daí!?
O mercado não se importa muito, se ele “entrega a reforma da Previdência”, como disse o dono do banco Itaú, “o resto é ruído”. Trump, por sua vez, utiliza o presidente servil – quem se importa com moral, a começar da moral de Trump?

Mas há, sim, dez meses depois, uma crise precoce no governo. Em última instância, ela vem da resistência popular às suas medidas obscurantistas, entreguistas e privatistas, a principal é a reforma da Previdência.

E a crise passa por dentro da reforma. Ao separar os militares numa reforma a parte, Bolsonaro deu-lhes mais vantagens, aos altos mandos, privilégios salariais e de pensão extraordinários que agora os tensionam.

Água mole em pedra dura
A operação integra a busca de um instrumento seguro para golpear o povo, quando reagir, através das Forças Armadas e PMs, enquanto o bolsonarismo de rua se forma. Ela inclui o escandaloso uso da Polícia Federal em buscas nas residências e gabinetes de “bivaristas” do PSL.

No fundo, Bolsonaro e seus generais preparam outra coisa. Ele sabe, os generais sabem, os 2500 militares nomeados em nove meses para cargos de confiança (FSP, 14/10), devem saber, que as consequências das medidas econômicas e sociais alguma hora desatarão protestos e revolta.

O que se passa em vários países do continente – Chile, Equador e Haiti -, qualquer que seja o prazo e ritmo aqui, mostra que virá uma explosão. A diferença notável, é que Bolsonaro prepara com antecedência a reação autoritária e bonapartista!

Razão à mais para que o PT no 7º Congresso aprofunde – ao contrário do que fizeram os Partidos Socialista e Comunista no Chile, adaptados à Constituição pinochetista em vigor – a sua resistência a cada uma das medidas, lute para revogar as contrarreformas numa Constituinte, e levante a bandeira do fim do governo Bolsonaro. Que o PT seja um ponto de apoio para reagrupar a força do povo (não um canal de “concertação” à chilena).

Nada é mais forte que a força do povo.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!

Markus Sokol

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