Centrais fazem consenso com patrões para desonerar a folha

Em 25 de outubro, um dia após o final da Plencut, ocorreu um ato com 200 dirigentes sindicais no escritório do governo federal na Avenida Paulista.

No carro de som, uma faixa com os logos da CUT, CSB, CTB, Força Sindical, Nova Central e UGT: “A desoneração da folha de pagamento salva empregos em 17 setores da economia”. (foto)

Não havia dirigentes da CUT no evento, repercutido no Jornal Nacional da Globo – parte interessada, pois goza dessa desoneração – com a chamada: “Em acordo com empresários, centrais sindicais pedem prorrogação da desoneração da folha”.

Dirigentes cutistas diziam nada saber do assunto. Mas, no dia 26, matéria paga de página inteira no “Estadão” trouxe nota oficial das seis centrais, encabeçada por Sérgio Nobre, presidente da CUT, na mesma linha do ato.

Como é possível?
Desde 2011, a CUT tomou posição contra a proposta, do então governo Dilma, de desonerar a folha de alguns setores da economia – o patrão deixa de pagar 20% sobre a folha para o INSS e passa a pagar de 1,5% a 2% do seu faturamento, com o Tesouro cobrindo a diferença – em troca de uma promessa de “garantia do nível de emprego”, jamais cumprida. A própria Dilma arrependeu-se dessa iniciativa.

Em meio à luta nacional dos servidores contra a PEC 32 e em defesa dos serviços públicos, a CUT aparece associada à defesa da desoneração que sangra os cofres públicos com a lorota de “salvar empregos”. Sim, pois “nível de emprego” não é estabilidade (demite e contrata com salário menor, por exemplo).

Como é possível que a CUT vá a reboque da UGT e Força Sindical, que convocaram o ato a pedido de empresários, um dia depois de sua Plenária ter adotado a resolução de que só posições discutidas em sua direção seriam levadas ao Fórum das Centrais?

“É contra o Bolsonaro, que quer acabar com a desoneração”, tentaram justificar alguns. Mas o fato é que, de novo, a CUT subordinou-se a acordos de cúpula com outras centrais, nesse caso em consenso com os patrões “desonerados” e contra sua própria base no funcionalismo.

Julio Turra

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