Publicamos abaixo um artigo extraído do jornal Francês Informações Operárias, publicado pelo Partido Operário Independente deste país. Neste artigo, Devan Sohier introduz a entrevista publicada no mesmo jornal com um diretor da coalizão estadunidense “A.N.S.W.E.R.” (Act now to stop the War & End Racism, “Agir agora para parar a guerra e acabar com o racismo”) que faz um apelo por manifestações contra a guerra em todo o mundo no próximo dia 25 de janeiro.
Trump, tire suas mãos do Irã – Iraque
O ataque da artilharia americana sobre o aeroporto de Bagdá ameaça o equilíbrio precário de toda a região e do mundo inteiro. O apelo da coalizão Answer que publicamos nesta página destaca corretamente as repercussões imprevisíveis que poderá ter esta decisão de Trump no contexto explosivo do Oriente Médio.
Quando Trump vem defendendo há três anos a retirada das tropas americanas da região em favor de seus aliados, (o ataque) é uma confissão de sua incapacidade de levar a termo essa orientação. Trump tem suas características particulares, sua impulsividade exagerada e seu desprezo pelos procedimentos normais, mas Obama, que também tentou retirar as tropas, ordenou o assassinato direcionado de Bin Laden de forma muito similar, sem nenhum controle do parlamento estadunidense.
No entanto, a situação hoje é diferente: Soleimani era um alto funcionário iraniano. As consequências podem ser bem mais graves. Este assassinato, que se inscreve na novela das reviravoltas na aliança da região, pode ser a faísca para incendiar o barril de pólvora do Oriente Médio.
O exército francês como auxiliar
O parlamento iraquiano adotou uma resolução solicitando a saída de todas as tropas da pretensa “coalizão internacional antijihadista”. A França tem tropas no Iraque e seguiu os Estados Unidos em sua recusa de retirar suas tropas, mostrando o quanto os protestos de Macron contra a decisão de Trump são apenas uma fachada: o exército francês continua a desempenhar o papel de auxiliar do exército americano no Oriente Médio.
Enquanto no Sahel, milhares de soldados franceses intervêm e são um fator de desintegração dos Estados da região. Nos próprios Estados Unidos, esta decisão coloca em evidência a ocupação militar no Oriente Médio, provocando diferenciações em particular dentro do Partido Democrata, bem no meio de suas primárias: a posição clara assumida por Sanders pela retirada das tropas acentuou imediatamente a crise no interior do partido.
É nesse contexto que a coalizão Answer decidiu organizar uma jornada mundial contra qualquer guerra imperialista com o Irã e pela retirada das tropas estadunidenses do Iraque. Ela fez um apelo às organizações contra a guerra ao redor do mundo para que, em 25 de janeiro, ocorram manifestações pelo mundo inteiro. O Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbios (Cile) recebeu este apelo e o divulgou. Na França, em 25 de janeiro, o POI organizará uma manifestação dirigida à embaixada dos Estados Unidos: será também uma manifestação contra o papel de aliado dos EUA assumido por Macron ao manter as tropas francesas no Iraque.
Devan Sohier
Entrevista com Brian Becker, diretor nacional da Answer
“A maioria dos americanos já está mais que farta dessa guerra sem fim”
Você pode apresentar a nossos leitores a coalizão Answer e a jornada de manifestações do dia 25?
A coalizão A.N.S.W.E.R (Act now to stop the War & End Racism, “Agir agora para parar a guerra e acabar com o racismo”) organizou o maior movimento de protesto nos Estados Unidos contra a guerra no Iraque antes, durante e depois da invasão de 19 de março de 2003. A coalizão foi formada três dias apenas após o 11 de setembro de 2001. Ela é composta de organizações progressistas e pacifistas que temiam que George W. Bush, sob pretexto dos ataques terroristas de 11 de setembro, iniciasse uma nova onda de agressões militares em todo o mundo.
A coalizão também se mobiliza pela defesa dos direitos dos muçulmanos, dos árabes americanos, dos asiáticos do sul e de outros povos que, nos Estados Unidos, são visados. Nosso nome representa essa conexão entre a guerra e o racismo.
Atualmente temos seções em vinte e cinco cidades dos EUA. Em 4 de janeiro lançamos uma jornada de ação contra os assassinatos no aeroporto de Bagdá. Foram realizadas manifestações nesse dia em noventa cidades nos Estados Unidos.
No sábado 25 de janeiro haverá um dia mundial de protesto para reivindicar “Nenhuma guerra contra o Irã” e “Tropas americanas fora do Iraque e do Oriente Médio”. Essas manifestações acontecerão em muitos países ao redor do mundo e em muitas cidades nos Estados Unidos.
Quais são as reações ao ataque contra o Irã nos Estados Unidos e, em particular, dentro do movimento operário americano?
As manifestações que aconteceram nas noventa cidades de todo o país para exigir “Não à guerra dos Estados Unidos contra o Irã” e “Tropas americanas fora do Iraque” receberam um apoio significativo dos sindicatos e dos trabalhadores em geral. O US Labor Against the War (“Movimento operário americano contra a Guerra”, grupo defensor nos sindicatos de posições contra a guerra) foi um dos que estiveram à frente da jornada de ação do dia 4 de janeiro e é também um dos organizadores da jornada mundial de protestos do dia 25 de janeiro.
Estamos agora discutindo com as direções sindicais em nível nacional e local sobre a participação do movimento operário nessa jornada mundial de manifestações.
Os EUA estão em guerra no Oriente Médio há décadas. Quais são as repercussões dentro dos próprios Estados Unidos?
A maioria dos americanos já está mais do que farta dessa guerra sem fim. Alguns soldados que são destacados para participar da ocupação do Afeganistão nem tinha nascido quando os ataques de 11 de setembro aconteceram. Milhares de bilhões de dólares que poderiam ter sido usados em programas sociais e infraestruturas essenciais para os trabalhadores dos Estados Unidos foram gastos para causar a morte e a destruição em todo o mundo.
Isso tem sido um investimento extremamente lucrativo para as empresas ligadas ao exército e para os grandes bancos, mas causou a morte de milhares de americanos e lesões tanto físicas quanto psicológicas a dezenas de milhares de outros.
Na jornada de ação do 4 de janeiro, pudemos ver emergir uma nova geração de militantes contra a guerra: um grande número de jovens, dos quais muitos do ensino médio, saíram às ruas.
Os povos do mundo dizem: Nenhuma guerra contra o Irã
O Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbios (Cile) recebeu o apelo lançado por diversas organizações americanas, convidando a organizar uma jornada mundial de protestos no sábado dia 25 de janeiro, “Nenhuma guerra contra o Irã”. Em resposta a este convite, o POI organizará uma manifestação dirigida à embaixada dos Estados Unidos em Paris, em 25 de janeiro, a partir das 14:30h.
A administração Trump empurra os Estados Unidos para uma guerra contra o Irã, que poderá incendiar o conjunto da região, e poderá se transformar rapidamente em um conflito mundial de amplitude imprevisível e com consequências as mais graves.
Os povos do mundo devem levantar-se e colocar um fim. Para todos aqueles que acreditam na paz, para todos os que se opõem a uma nova guerra catastrófica, é o momento de agir. No sábado, 25 de janeiro, nos Estados Unidos, nas cidades do mundo inteiro, haverá manifestações contra qualquer nova guerra. Nós os convidamos a participar.