Irã-Iraque: a ocupação militar e as sanções contra o direito de autodeterminação dos povos

Pouco importam as motivações de Trump para dar a ordem para executar o general iraniano Ghassam Soleimani. Quer se trate de um cálculo ligado à aproximação das eleições estadunidenses ou uma decisão estratégica por mais abominável que seja, essa decisão faz parte de toda a política de pressões e sanções impostas ao Irã por décadas.

A decisão de Trump de assassinar o general iraniano no Iraque, enquanto este último se encontrava lá em viagem oficial, inscreve-se na pior tradição militar do imperialismo estadunidense, disposto a todas as provocações para conduzir à guerra. Através desta medida, seguindo o método israelense que primeiro qualifica seus alvos como terroristas antes de exterminá-los, Trump reafirma o direito particular do imperialismo de realizar as operações militares que ele tenciona lançar em toda a parte no mundo por sua própria conta. Hoje é um general iraniano. E amanhã?

No entanto, há que constatar que Trump conseguiu a unanimidade contra ele e sua decisão de executar Soleimani tanto no Iraque como no Irã, e ser amplamente contestado nos próprios Estados Unidos. A saída do Iraque de 5200 soldados americanos, sem contar os conselheiros e “contratados”, é colocada no centro das atenções pelas autoridades iraquianas, sob a pressão do povo iraquiano.

Imediatamente, Trump responde que, se os americanos partirem, o Iraque terá que reembolsar os custos de construção das bases militares, sob risco de também receber sanções.

Qualquer que seja a forma, o controle e a pilhagem das riquezas e dos recursos estão no centro de toda a política estadunidense no Oriente Médio, política que se choca cada vez mais com a resistência dos povos.

Dividir para melhor reinar
Os principais meios de comunicação das grandes potências nos impõem uma visão colonial dos acontecimentos (retransmitida pelos governos e vice-versa) onde os xiitas seriam necessariamente apoiadores do Irã e do Hezbollah no Líbano e os sunitas defensores da Arábia Saudita e da Al Qaeda. Os dirigentes turcos essencialmente sunitas defendiam o Qatar essencialmente sunita, contra as ameaças de invasão da Arábia Saudita sunita.

Os governantes corruptos do Iraque são antes de tudo corruptos, comprados pelos bilhões de dólares americanos despejados por mais de quinze anos para “reconstruir” o país. No Líbano, o Hezbollah, partido xiita, é aliado de longa data do partido do general Aoun, membro da comunidade cristã, e lutou com os membros de todas as comunidades contra a agressão israelense de 2006. No Líbano, os manifestantes, todas as confissões religiosas e comunidades juntas, dizem: “Que eles saiam todos, e quando dizemos todos, é todos.”

Após o ataque ordenado por Trump contra o general Soleimani, a retaliação contra uma base militar americana, apesar de ultraprotegida, considerada inatacável, mostrou as capacidades militares iranianas. Os curdos iraquianos, até agora pouco engajados no movimento de protesto, participaram amplamente dessas manifestações.

A doutrina do “dividir para melhor reinar” constantemente aplicada pelas cúpulas dirigentes se choca e se fissura diante da pressão revolucionária dos povos, que não aceitam mais ser governados por regimes violentos e corrompidos.

Sancionar para melhor pilhar
O Irã, pesadamente sancionado pelos Estados Unidos, tem estado por anos sob a ameaça permanente de uma operação militar dos EUA. São os americanos que provocam a escalada, colocando em questão o acordo de Viena sobre energia nuclear ao estabelecer sanções e multiplicar as provocações militares com a ameaça de uma nova guerra. As sanções contra o Irã são sanções contra o povo iraniano.

No Irã, no Iraque, como em todo o mundo, os povos exigem a retirada total das tropas estadunidenses, como de todas as tropas de ocupação, e a suspensão de todas as sanções econômicas e políticas impostas ao Irã durante 40 anos, que constituem um estado de guerra permanente na região.

Algumas Referências:
– Já em 1979, os Estados Unidos decidiram congelar 12 bilhões de dólares de ativos financeiros iranianos em seus bancos.

– Durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988), abertamente desencadeada contra a revolução iraniana, os Estados Unidos impuseram um embargo às vendas de armas para o Irã.

– A partir de 1995, o Irã foi colocado na lista negra dos países que apoiam o terrorismo, o que permitiu aos Estados Unidos proibir empresas de petróleo de todo o mundo de investir na indústria petroleira iraniana sob pena de sanções comerciais. Ao mesmo tempo, sanções, interdições, restrições, embargos são impostos em vários setores (cooperação científica e universitária, serviços financeiros, agricultura…). A União Europeia segue sistematicamente as medidas estadunidenses. Em 2012, esta última proibiu a importação de hidrocarbonetos iranianos.

– A disposição do Irã de desenvolver um setor nuclear leva a novas sanções dos EUA. O Irã procura resistir e continuar com seu plano de enriquecimento de urânio. Sob pressão das grandes potências, que lhe impuseram sanções consideráveis e ameaçavam com novas sanções, o Irã teve que aceitar a assinatura de um acordo sobre energia nuclear, o “plano de ação conjunta”, em 14 de julho de 2015, em Viena. Na opinião de todos os observadores oficiais, inclusive americanos, o Irã respeitou totalmente o acordo, como todos os acordos anteriores, mas Trump decidiu romper o acordo e sancionar o Irã. Os líderes da União Europeia, a começar pelos franceses, rapidamente senão instantaneamente, se inclinaram diante de Trump.

– Em 8 de maio de 2019, Trump assinou uma “ordem executiva” que proíbe qualquer atividade vinculada direta ou indiretamente aos setores do aço, do aço, alumínio e do cobre, inclusive os serviços associados (bancário, de seguros, transporte, etc.).

François Lazar

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