Capitaneado pelos indígenas da CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador) e pela FUT (Frente Unitária dos Trabalhadores), o Parlamento dos Povos do Equador, que reúne dezenas de organizações populares, iniciou, em 26 de outubro, uma forte mobilização exigindo a revogação dos decretos do governo Guillermo Lasso que, atendendo a exigência do FMI, acabam com subsídios aos combustíveis, provocando alta de 21% na gasolina e 27% no diesel.
Em 26 de outubro, a FUT realizou uma marcha na capital, Quito, enquanto a CONAIE montava bloqueios em estradas de todo o país, que permaneceram durante três dias.
Temendo a explosão social, o atual governo, eleito em abril, há apenas seis meses, suspendeu provisoriamente o aumento e convocou para o dia 11 de novembro uma reunião de “diálogo”. Até o fechamento desta edição a CONAIE ainda não havia decidido se aceita participar dessa reunião.
De certa maneira, repete-se o enredo de outubro de 2019, quando houve um levante popular contra medidas pró-FMI, dentre elas o aumento dos combustíveis. A mobilização paralisou o Equador por 11 dias, foi duramente reprimida pelo então governo de Lênin Moreno e também terminou com a suspensão do aumento e uma negociação para que a mesma política de eliminação dos subsídios buscada pelo governo fosse passada, mas sob outra forma.
Privatizações, retirada de direitos, tentativas de cooptação
As intenções do governo são as mesmas de sempre: impor todos os sacrifícios aos povos e aos trabalhadores exigidos pela política do FMI. Para isso, combina repressão com uma falsa negociação que visa, tão somente, integrar as organizações populares no acompanhamento dessas medidas.
Aproveitando a presença de Lasso na COP26, em Glasgow, a imprensa equatoriana já começou a defender o “consenso para combater o aquecimento global”, o que justificaria a retirada dos subsídios aos combustíveis fósseis que, no entanto, são a fonte de energia de que pode dispor o povo para o atendimento de suas necessidades básicas.
Para dividir a luta, o governo oferece favores a parlamentares do partido Patchakutik, braço político da CONAIE, ao lado da distribuição de cargos a setores do movimento.
Na mesma semana em que tudo isso acontece, e também para atender exigências do FMI, foram editados dois decretos que permitem a privatização do setor elétrico, que havia sido nacionalizado no período em que Rafael Correa era presidente.
De acordo com Vicente Olmedo, diretor do Sindicato Nacional da Empresa Pública CELEC (Corporação Elétrica do Equador), “os decretos 238 e 239 são inconstitucionais e os trabalhadores estão dispostos a construir a unidade para defender o setor elétrico”.
Em nota, o sindicato denuncia os decretos como “formas descaradas de privatização que, além de serem contrárias à Constituição, são um atentado contra os direitos de todo o povo equatoriano e grave ameaça à economia pois possibilitará também a liberação das tarifas de consumo de energia elétrica a preços impagáveis para as grandes maiorias, como já vem acontecendo na Europa”.
A nota conclui assumindo a luta frontal em defesa do setor elétrico, contra a privatização e anuncia ações de mobilização e resistência que, uma vez ocorrendo, irão confluir para engrossar o movimento geral que se desenvolve contra as políticas de Guillermo Lasso.
Correspondente