Acordão na Executiva sobre os critérios de delegação
A Executiva Nacional do PT (CEN) reunida em 31 de maio, por mandato do Diretório, decidiu realizar o Encontro Nacional Extraordinário em 9,10 e 11 de dezembro.
O mandato do Diretório Nacional (DN) respondeu à necessidade de fazer o balanço dos erros do PT no governo – para o que publicou um texto (veja o jornal OT nº 786) – que levaram à derrota, à perplexidade da militância e a certa hostilidade na base histórica, a fim de redefinir uma orientação de luta.
Mas, infelizmente, a CEN decidiu pela eleição dos delegados ao Encontro não agora, pela base nos Encontros Municipais, como chegou a se discutir no DN, mas pelo velho sistema de urnas do PED, em 27 de novembro. Teremos, então, um PED extemporâneo que, bizarro! Não vai eleger direções.
A CEN também reduziu a 600 o total de delegados ao Encontro (no último foram 800, aonde deviam ser 1600 delegados), com o mesmo argumento financeiro. Haverá ainda 10% de convidados dos movimentos.
Assim, a tensão com os dirigentes que queriam reconvocar os eleitos do PED 2013 – congelando a relação de forças – foi resolvida num acordão: elege-se novos delegados, mas pelos velhos métodos… um dos fatores da crise atual!
O acordão na CEN se desenhou quando o porta-voz da “Mensagem ao Partido” apresentou uma proposta muito parecida. No debate, Markus Sokol (de O Trabalho, observador) declarou-se contra e, ao final, Maristela Matos (membro da Militância Socialista) e Bruno Elias (membro, Articulação de Esquerda) declararam discordância da proposta trazida pelo “Construindo um Novo Brasil” e apoiada por Rui Falcão, presidente do PT. Ela nem foi a voto, devido ao consenso essencial dos demais. Outras questões – debates e prazos para inscrição de chapas e teses, fundo eleitoral etc. – serão discutidos num DN “ampliado” em julho.
A reconstrução do PT
O Encontro Nacional Extraordinário é um produto forçado e contraditório da derrota sofrida pela direção do PT, verdadeiro abalo histórico. Mas estaria a direção disposta a fazer o balanço dos 13 anos de conciliação de classe?
O “campo majoritário” foi até o limite do texto de Rui Falcão no DN: “priorizamos o pacto pluriclassista”, admite, critica o “ajuste” de Dilma, mas sem afirmar a alternativa de ruptura (Constituinte desde o mandato de Lula, reformas populares).
A esquerda oficial, o “Muda PT” (Mensagem ao Partido/Democracia Socialista, Articulação de Esquerda, Mitância Socialista, etc.), por sua vez, no mérito não avança. Numa nota depois da CEN esses dizem: “Saudamos a decisão da CEN pela realização do ENPT com eleição de novos delegados. No dia 27 de novembro as chapas nacionais de delegadas serão eleitas por voto direto nos municípios. Destacamos o esgotamento de uma estratégia de conciliação com o capital à qual sempre nos opusemos. Defendemos que a eleição de delegados seja realizada na base, em encontros municipais. No entanto, prevaleceu na CEN a decisão de realizar um processo similar ao PED”.
É uma empulhação! Porque a saudação inicial ao voto direto (PED) confirma o acordão, onde não “prevaleceu” nada, pois não houve voto, foi virtual consenso. Pretender que “sempre nos opusemos” à estratégia do PT é faltar a verdade: votaram juntos o essencial até outro dia, a começar pelo “acordo nacional com o PMDB” em 2009, com diferenças táticas.
Podemos respeitar quem, nesse bloco, mudou de opinião no meio do caminho sobre “acordo nacional com o PMDB”, como fez a Articulação de Esquerda e até os que, honestamente, perceberam o desastre depois. O que não dá é pretenderem ter tido outra posição para escapar do balanço!
O Diálogo e Ação Petista (DAP) vem se agrupando a partir dos elementos do balanço acima citados (Constituinte, PMDB, Temer). O balanço agora se impõe a todo o partido. Sem pretender ser o dono da verdade, o DAP tem um papel chave para clarificar o caminho da reconstrução do PT.
João Alfredo Luna
Artigo publicado na edição nº 788 do jornal O Trabalho de 17 de junho de 2016.